quarta-feira, 23 de julho de 2014

Como pensa a elite brasileira

A elite brasileira comprou o livro de Piketty, O Capital no Século 21. Não gostou. Achou que era sobre dinheiro, mas o principal assunto é a desigualdade.


Por Antonio Lassance
22/07/2014 -

A elite brasileira é engraçada. Gosta de ser elite, de mostrar que é elite, de viver como elite, mas detesta ser chamada de elite, principalmente quando associada a alguma mazela social. Afinal, mazela social, para a elite, é coisa de pobre.

A elite gosta de criticar e xingar tudo e todos. Chama isso de liberdade de expressão. Mas não gosta de ser criticada. Aí vira perseguição.

Quando a elite esculhamba o país, é porque ela é moderna e quer o melhor para todos nós. Quando alguém esculhamba a elite, é porque quer nos transformar em uma Cuba, ou numa Venezuela, dois países que a elite conhece muito bem, embora não saiba exatamente onde ficam.

Ideia de elite é chamada de opinião. Ideia contra a elite é chamada de ideologia.

A elite usa roupas, carros e relógios caros. Tem jatinho e helicóptero. Tem aeroporto particular, às vezes, pago com dinheiro público - para economizar um pouquinho, pois a vida não anda fácil para ninguém.

sábado, 19 de julho de 2014

Sanções, aviões de passageiros... e “Doutrina Wolfowitz”





17/7/2014, 
[*] Paul Craig Roberts − Institute for Political Economy
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

As sanções unilaterais impostas pelos EUA e anunciadas por Obama dia 16/7/2014 (ver acima, em inglês), bloqueando o acesso a financiamentos bancários de empresas russas de armas e energia, comprovam a impotência de Washington. O resto do mundo, incluindo duas das maiores associações comerciais dos EUA, já deram as costas a Obama.

A Câmara de Comércio dos EUA e a Associação Nacional de Fabricantes [orig.National Association of Manufacturers] fez publicar anúncios nas páginas doNew York Times, Wall Street Journal e World Report protestando contra as sanções inventadas pelos EUA. A Associação Nacional de Fabricantes disse que

(...) estamos desapontados com os EUA, por ampliarem sanções unilaterais de modo que muito prejudica a posição comercial dos EUA no mundo.


(...) reunidos em Bruxelas, líderes da União Europeia recusaram-se a acompanhar as medidas impostas por EUA.

Na tentativa de isolar a Rússia, o Doido da Casa Branca isolou Washington.

As sanções não terão efeito sobre empresas russas. As empresas russas podem obter mais financiamentos do que carecem de bancos chineses, franceses e alemães.

Os três traços que definem Washington – arrogância, húbris e corrupção – também emburrecem a capital e a fazem incapaz de aprender. Gente arrogante, tomada de húbris, nunca aprende. Quando encontram resistência, respondem com propinas, ameaças e coerção. A diplomacia exige capacidade razoável para aprender com os erros, seus e dos outros; mas já há anos Washington esquece a diplomacia. Os EUA só conhecem a força bruta.

terça-feira, 15 de julho de 2014

A guerra mundial entre classes e não entre nações.


Enquanto o rico faz guerra,é o pobre que morre. Jean-Paul Sartre.

Muitos dos especialistas em desenvolvimentos históricos tendem a considerar outra guerra mundial como deslocamento em grande escala de meios militares, para forçar a derrota, a destruição ou a subjugação de oponentes desafiantes. Embora não se deva descartar a possibilidade desse cenário terrível, já há motivos para começar a trabalhar com a possibilidade de que a muito discutida 3ª Guerra Mundial será guerra diferente: mais guerra entre classes, que entre exércitos.
Vista sob essa luz, a 3ª Guerra Mundial já está aí; e, de fato, já está sendo guerreada há anos: de um lado, a guerra neoliberal, unilateral, transfronteiras, da economia da austeridade, cujos ‘guerreiros’ são a classe transnacional da oligarquia financeira, contra a vastíssima maioria dos cidadãos do mundo – os 99% globais.
A globalização do capital e interdependência dos mercados mundiais alcançaram um ponto no qual confrontos militares de larga escala, como se viram na 1ª e na 2ª Guerra Mundial podem levar à catástrofe financeira de todos. Não surpreendentemente, a rede das elites financeiras transnacionais, que com frequência elegem políticos e controlam o governo por trás das cortinas, não manifestam qualquer interesse por outra guerra de liquidação internacional, que poderia paralisar os mercados financeiros mundiais.
Isso explica por que as agressões imperialistas recentes têm tão frequentemente assumido a forma de intervenções de “soft-power” ["poder suave"]: revoluções ‘batizadas’ com líricos nomes de cores, golpes de estado ditos “democráticos”, guerras civis pré-fabricadas, sanções econômicas e ações assemelhadas. Claro que a opção militar sempre aparece como pano de fundo, a ser ‘acionada’ quando/se as estratégias do tal “poder suave” da tal “mudança de regime” fracassam ou se comprovam insuficientes.

domingo, 13 de julho de 2014

Fundação do estado de Israel e o Brasil






Escrever sobre Israel é uma tarefa muito difícil, pois a história de Israel se confunde com a história da humanidade.
O que muitas pessoas não sabem, é que na história de Israel, um brasileiro tem um papel de destaque. Trata-se do diplomata Osvaldo Aranha (1894 – 1960). Ele foi uma peça importantíssima na criação do atual Estado de Israel.
Osvaldo Euclides de Sousa Aranha

Mas primeiro vamos entender como os judeus ficaram sem uma pátria.
No ano de 63 a C. Israel foi conquistado pelo Império Romano e a convivência com Roma foi marcada por diversas revoltas. Na última delas em 132, eles foram expulsos de sua terra, que passou a ser denominada de Síria Palestina, com o objetivo de apagar o passado judaico da região. Por causa disso a presença dos judeus em sua própria terra foi diminuindo gradativamente.
Posteriormente a região pertenceu ao Império Bizantino, Turco Otomano, até que após a Primeira Guerra passou para o domínio Britânico.

Após a Segunda Guerra, havia uma comoção muito grande para que os judeus tivessem uma pátria, em virtude do Holocausto. Alguns lugares foram sugeridos para a criação de um Estado judeu, inclusive na África. Porém os judeus achavam que só se sentiriam seguros se sua pátria fosse na Palestina, seu lugar de origem.
O governo Britânico se declarando incapaz de resolver a questão, deixou a cargo da recém criada Organização das Nações Unidas (ONU) decidir o que seria feito com a Palestina.
E é ai que começa a participação brasileira na criação do Estado de Israel.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Deslumbramento e humilhação: o jogo Brasil e Alemanha

Leonardo Boff
10/07/2014
O jogo para as semi-finais entre Brasil e Alemanha do dia 8 de julho no grande estádio de Belo-Horizonte significou uma justa vitória da seleção alemã e uma arrasadora e vergonhosa derrota brasileira. Milhões estavam nas praças e ruas de todas as cidades. A atmosfera de euforia dos brasileiros, a maioria enfeitados de verde-amarelo, as cores nacionais, não toleraria jamais, sequer por imaginação, semelhante humilhação. E ela caiu como um raio em céu azul.
Vejo duas razões básicas que explicam o resultado final de 7×1 gols em favor da Alemanha. Os alemães, bem como outros times europeus, renovaram as estratégias e as formas de jogar futebol. Investiram, a meu ver, em três pontos básicos: cuidadoso preparo físico dos jogadores para ganharem grande resistência e velocidade; em segundo lugar, preparar craques individuais que pudessem jogar em qualquer posição e correr todo o campo e por fim criar um grande sentido de conjunto. Excelentes jogadores que não pretendem mostrar sua performance individual mas sabem se integrar no grupo formando um grupo coeso, tornam-se fortes favoritos em qualquer competição. Não que sejam invencíveis, pois vimos que, jogando com os USA, a seleção alemã teve grande dificuldade em ganhar. Mas as referidas qualidades foram o segredo da vitória alemã sobre o Brasil.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

TISA, a bomba destinada a explodir serviços públicos no mundo todo.


Os Estados Unidos, os países da UE e uma vintena de outros Estados encetaram em Genebra negociações sobre o comércio de serviços. Característica das mesmas: estas negociações deveriam permanecer secretas durante cinco anos. A WikiLeaks conseguiu em parte levantar o véu acerca do seu conteúdo.

Tudo devia permanecer totalmente secreto. Nada devia transparecer das negociações acerca do acordo sobre o comércio dos serviços (ACS) encetadas desde há dois anos na embaixada da Austrália em Genebra entre os Estados Unidos, a União Europeia e uma vintena de países. Um vasto empreendimento de liberalização que afeta até os serviços públicos fundamentais. Foram tomadas medidas assegurando uma confidencialidade total das discussões, numa linguagem digna de um cenário de James Bond. Os textos que estabelecem o avanço das conversações foram "classificados", conforme um jargão geralmente utilizado para os dossiês secretos da defesa. Eles devem ser "protegidos de toda divulgação não autorizada" e armazenados num sistema de computadores ele próprio classificado e mantido "num edifício ou num contentor fechado" sob alta vigilância. O objetivo declarado é que nada possa transpirar do conteúdo destas negociações "até cinco anos após a conclusão do acordo" ou o fim das negociações se estas acabarem por não se concluir. 

Isto era ignorar a perícia dos lançadores de alerta da WikiLeaks, que conseguiram recuperar uma parte dos textos superprotegidos. Assim, a 19 de Junho, eles publicaram no seu sítio o anexo do tratado em preparação que trata dos serviços financeiros: https://wikileaks.org/tisa-financial/ 

Estas revelações sublinham, de facto, a amplitude da ofensiva iniciada por Washington, seguida pelos Estados membros da União Europeia, para permitir às multinacionais açambarcar, quando chegar o momento, o comércio dos produtos financeiros assim como o de todos os serviços nos grandes mercados transatlântico e transpacífico, cujas negociações, sabe-se avançam ao mesmo tempo na maior discrição.

sábado, 5 de julho de 2014

BELO MONTE e a síndrome do atraso




Por Mauro Santayana
02/07/2014


(Jornal do Brasil) - A ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, está analisando pedido do Consórcio Norte Energia, responsável pela construção da Usina de Belo Monte, para adiar a entrada, por mais um ano, em operação da usina, que fica no Rio Xingu, no Pará.

Belo Monte não é uma obra qualquer. Em potência instalada, será a terceira usina hidroelétrica do mundo, depois da chinesa Três Gargantas, e da binacional, brasileiro e paraguaia, Itaipu.

A polêmica em torno de sua construção, é emblemática do ponto de vista do processo de ocupação e aproveitamento da Amazônia, como patrimônio de todos os brasileiros, e com relação à falta  de convergência que existe em nossa sociedade em torno dos objetivos nacionais.

A Amazônia precisa ser protegida, mas, ao mesmo tempo que deve ser preservada, ela necessita de um projeto integrado e sinérgico de desenvolvimento que abarque toda a região.

É hipocrisia tentar impedir a construção, depois, sabotar o aproveitamento hídrico, e finalmente, paralisar por dezenas de vezes uma obra, da qual depende um país que tem uma das mais altas tarifas de energia elétrica do mundo, e que concorre nesse quesito com outros países no mesmo estágio de desenvolvimento, como se a região à qual pertence, não sofresse há décadas, dos mesmos problemas que afetam a Amazônia como um todo. Questões que derivam da ausência - e não da presença - da mão organizadora e mobilizadora do Estado.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Com muito orgulho, com muito amor.


Um dia, pelo menos um dia, uma minoria branca e endinheirada conseguiu fazer com que todos nós sentíssemos vergonha de sermos brasileiros

Por Lelê Teles
2 de julho de 2014

Um dia, uma mulher ousou enfrentar os militares, um bando de valentões covardes e torturadores que espancavam adolescentes e mulheres, e assassinavam compatriotas a sangue frio.
Ela lutou pela democracia contra os milicos sem voto, os que surrupiaram o poder

Uma minoria reacionária, viúvas dos milicos que tocaram o terror, a chama de terrorista.
Um dia, essa mulher que foi presa e torturada pelos valentões covardes, saiu da prisão e lutou pelos seus ideais. Forte e determinada, decidiu, um dia, que uma mulher poderia, sim, ser presidenta da república e cuidar do destino da nação.
Ganhou no voto, numa democracia que ela lutou para implantar.

O AMOR PELA SELEÇÃO


Choro dos craques vem do abismo entre os craques e o país, aberto pelo anti-Copa e pelo VTNC. É preciso fechá-lo

 A conversa do dia é o choro dos meninos da seleção.
Nossa seleção chora de medo, um pavor profundo, um abismo, um buraco escuro na terra. Felipão, o verdadeiro, perdeu a energia e ficou desorientado. O capitão Tiago Silva sentiu medo de cobrar pênalti. Não conseguia nem olhar o chute dos outros. Chorou tanto que ninguém entendeu.
Julio Cesar também chorou e todo mundo entendeu.
Neymar seria o primeiro a bater o pênalti.  Preferiu ficar por último. Vencemos, apesar de tudo. Mas não sabemos até onde vamos caminhar. Que importância tem isso?
 Nada, quem sabe. 
Hoje, tudo.
 Eu tinha 5 anos quando o Brasil ganhou a primeira Copa. Estava no terraço – na época não se dizia varanda – do apartamento onde morava, ali na rua Cincinato Braga, no bairro paulistano do Paraíso. Lembro do barulho do alto falante de um caminhão que passava pela  rua, no volume máximo, antes de desaparecer no paralalepípedo:
--A Copa do mundo é nossa
Com o brasileiro não há quem possa...
Eeeeeeta esquadrão de ouro
É bom no samba, é bom, no couro
 Nem meus pais nem meus irmãos conheciam a música da seleção. Quem cantava  era  Lola, a  babá, uma quase adolescente levada para trabalhar em nossa casa por Alaíde, a irmã mais velha, mais durona. Lola, que era muito mais bonita, sambava e cantarolava no terraço – quando os patrões estavam longe – com sua voz suave, o sorriso sempre nos lábios, os cabelos grandes e crespos, de um jeito que só ficaria na moda dez anos depois.