Em: Viagem
Cultural
Escrever
sobre Israel é uma tarefa muito difícil, pois a história de Israel se confunde
com a história da humanidade.
O que
muitas pessoas não sabem, é que na história de Israel, um brasileiro tem um
papel de destaque. Trata-se do diplomata Osvaldo Aranha (1894 – 1960). Ele foi
uma peça importantíssima na criação do atual Estado de Israel.
Osvaldo Euclides de Sousa Aranha |
Mas primeiro vamos entender como os judeus
ficaram sem uma pátria.
No ano de 63 a C. Israel foi conquistado pelo
Império Romano e a convivência com Roma foi marcada por diversas revoltas. Na
última delas em 132, eles foram expulsos de sua terra, que passou a ser
denominada de Síria Palestina, com o objetivo de apagar o passado judaico da
região. Por causa disso a presença dos judeus em sua própria terra foi
diminuindo gradativamente.
Posteriormente a região pertenceu ao Império
Bizantino, Turco Otomano, até que após a Primeira Guerra passou para o domínio
Britânico.
Após a Segunda Guerra, havia uma comoção
muito grande para que os judeus tivessem uma pátria, em virtude do Holocausto.
Alguns lugares foram sugeridos para a criação de um Estado judeu, inclusive na
África. Porém os judeus achavam que só se sentiriam seguros se sua pátria fosse
na Palestina, seu lugar de origem.
O governo Britânico se declarando incapaz de
resolver a questão, deixou a cargo da recém criada Organização das Nações
Unidas (ONU) decidir o que seria feito com a Palestina.
E é ai que começa a participação brasileira
na criação do Estado de Israel.
Em 1947 o Presidente Eurico Gaspar Dutra
nomeia Osvaldo Aranha como Chefe da Delegação Brasileira junto a ONU. Ele acaba
sendo nomeado Presidente da Assembléia Geral da ONU, que iria decidir
a questão Palestina.
Após longas discussões foram apresentadas
duas propostas: A primeira era a partilha da Palestina, criando um estado judeu
e outro árabe. A segunda, proposta pelos países árabes, era da independência
imediata da Palestina, uma vez que 70% da população era formada por árabes.
Em 25 de novembro houve uma votação a
favor da partilha da Palestina e a liberação da migração de judeus para a
região. O resultado dessa votação seria recomendado para a Assembléia Geral.
Não era necessário dois terços para sua aprovação. O resultado foi de 25 votos
a favor, 13 contra e 17 abstenções.
Votaram a favor: Austrália, Bolívia, Brasil,
Canadá, Costa Rica, Tchecoslováquia, Chile, Dinamarca, Equador, Estados Unidos
da América, Guatemala, Islândia, Nicarágua, Noruega, Panamá, Peru, Polônia,
República Dominicana, República Socialista Soviética da Bielorrússia, República
Socialista Soviética da Ucrânia, Suécia, União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas, União Sul-Africana, Uruguai e Venezuela.
Votaram contra: Afeganistão, Arabia Saudita,
Cuba, Egito, Índia, Irã, Iraque, Líbano, Paquistão, Tailândia, Síria, Turquia e
Iêmen.
Abstenções: Argentina, Bélgica, Colômbia,
China, El Salvador, Etiópia, França, Grécia, Haiti, Honduras, Libéria,
Luxemburgo, México, Nova Zelândia, Países Baixos, Reino Unido e Iuguslávia.
Ausentes: Filipinas e Paraguai.
Apesar do resultado favorável à partilha, a
votação na Assembléia Geral iria acontecer no dia seguinte, e para ser aprovada
eram necessários dois terços dos votos, o que claramente não iria acontecer.
A votação deveria acontecer no dia seguinte e
os sionistas (movimento que apóia a existência de um Estado Judeu) fizeram uma
manobra que mudaria completamente o rumo da história.
Sabendo que não obteriam os dois terços
necessários, a intenção era ocupar a tribuna fazendo discursos o maior tempo
possível para que a votação atrasasse. O representante Uruguai, Enrique
Rodríguez Fabregat, fez bem esse papel discursando por um longo tempo. Foi
então que Osvaldo Aranha tomou uma atitude fundamental para a criação do Estado
Judeu. Ele suspendeu a Assembléia, alegando que não haveria mais tempo para a
votação, mesmo após os delegados árabes retirarem seus nomes da lista de
oradores. No entanto eram em torno 18:30 e muito comum que as votações se
entendessem até a meia noite. O que ele queria na verdade, era ganhar tempo
para convencer os países a votarem a favor.
Começava agora uma corrida contra o tempo nos
bastidores. Telefones e telegramas corriam por todos os continentes. Os
sionistas trabalhavam para conseguir os votos que faltavam para a aprovação.
Era necessário convencer diversos países da América Latina, e julgava-se mais
difícil convencer a França e a Bélgica. Os árabes, por sua vez, trabalhavam
para que a votação fosse iniciada o mais breve possível.
Um argentino chamado Moshe Tox teve um papel
importante para convencer os países da América Latina. Ele passava o dia ao
telefone tentando convencer os representantes de seus países a votar a favor
enquanto seus emissários corriam por toda a parte do continente. A pressão
feita era tanta que foram dados casacos de vison para as esposas dos delegados
latino-americanos, e até talões de cheques em brancos.
No dia seguinte era feriado de Ação de Graças
nos Estados Unidos e não houve sessão. No outro dia o representante francês
solicitou mais 24 horas de adiamento, que foi aceito pelo brasileiro. Todo esse
tempo foi crucial para que os sionistas conseguissem os votos necessários.
No dia seguinte, 29 de novembro de 1947, o
embaixador da Tailândia, deixou Nova York às pressas, alegando um princípio de
revolução em seu país. Na verdade foi a maneira que ele encontrou para fugir da
pressão tanto dos sionistas como dos árabes.
Osvaldo Aranha abre a sessão e após alguns
discursos começa a votação. Os países foram chamados por ordem alfabética e os
votos iam se alternando entre sim e não. Mas a vitória sionista já estava
evidente. No final Aranha declara: 33 votos a favor, 13 contra, 10 abstenções e
1 ausência.
Votaram a favor: África do Sul, Austrália,
Bélgica, Bolívia, Brasil, Bielorússia, Canadá, Checoslováquia, Costa Rica,
Dinamarca, Equador, Estados Unidos, Filipinas, França, Guatemala, Haiti,
Holanda, Islândia, Libéria, Luxemburgo, Nicarágua, Noruega, Nova Zelândia,
Panamá, Paraguai, Peru, Polônia, República Dominicana, Suécia, Ucrânia, União
Soviética, Uruguai e Venezuela.
Votaram contra: Afeganistão, Arábia Saudita,
Cuba, Egito, Grécia, Iêmen, Índia, Irã, Iraque, Líbano, Paquistão, Síria e
Turquia.
Abstenções: Argentina, Chile, China,
Colômbia, El Salvador, Etiópia, Honduras, Iugoslávia, México e Reino Unido.
Ausência: Tailândia.
Em todo lugar do mundo, judeus se abraçavam
comemorando esse fato histórico. Após quase 2000 anos depois de eles terem sido
expulsos pelos romanos, enfim eles poderiam voltar para sua terra.
Existe uma falsa informação de que houve
empate na votação, e que Osvaldo Aranha deu o voto de minerva para decidir a
questão, mas essa informação não é verdadeira.
Osvaldo Aranha foi reconhecido pelo povo
judeu como um dos articuladores para criação do Estado de Israel. Em sua
homenagem há uma rua em Tel Aviv, capital financeira de Israel, que leva o seu
nome.
A Grã-Bretanha deveria retirar-se da
Palestina no dia 14 de maio de 1948.
No dia 15 de maio de 1948 nascia o Estado de
Israel, cumprindo a profecia feita por Isaias, mais de 2600 anos antes:
“Quem já ouviu falar de uma coisa assim?
Quem já viu isso acontecer? Pois será que um país pode nascer num dia só? Uma
nação aparece assim num instante? Mas foi isto mesmo que aconteceu com Sião:
assim que sentiu dores de parto, ela deu à luz os seus filhos”. Isaias
66:8
Shalom Israel.
▼
adaptado