Por Mauro Santayana
02/07/2014
(Jornal do Brasil) - A ANEEL -
Agência Nacional de Energia Elétrica, está analisando pedido do Consórcio Norte
Energia, responsável pela construção da Usina de Belo Monte, para adiar a
entrada, por mais um ano, em operação da usina, que fica no Rio Xingu, no Pará.
Belo Monte não é uma obra
qualquer. Em potência instalada, será a terceira usina hidroelétrica do mundo,
depois da chinesa Três Gargantas, e da binacional, brasileiro e paraguaia, Itaipu.
A polêmica em torno de sua
construção, é emblemática do ponto de vista do processo de ocupação e
aproveitamento da Amazônia, como patrimônio de todos os brasileiros, e com
relação à falta de convergência que existe em nossa sociedade em torno
dos objetivos nacionais.
A Amazônia precisa ser protegida,
mas, ao mesmo tempo que deve ser preservada, ela necessita de um projeto
integrado e sinérgico de desenvolvimento que abarque toda a região.
É hipocrisia tentar impedir a
construção, depois, sabotar o aproveitamento hídrico, e finalmente, paralisar
por dezenas de vezes uma obra, da qual depende um país que tem uma das mais
altas tarifas de energia elétrica do mundo, e que concorre nesse quesito com
outros países no mesmo estágio de desenvolvimento, como se a região à qual
pertence, não sofresse há décadas, dos mesmos problemas que afetam a Amazônia
como um todo. Questões que derivam da ausência - e não da presença - da mão
organizadora e mobilizadora do Estado.
É preciso preservar a cultura
indígena no Brasil? Sem dúvida alguma. Mas é preciso também reconhecer, que
aqui somos 200 milhões de pessoas, e que, para as populações indígenas já foram
reservados, e entregues, mais de 100 milhões de hectares, ou 12,5% do
território brasileiro, o que torna o Brasil o país que mais terras dedica para
esse fim, entre todas as nações do mundo.
Da mesma forma, é preciso
reconhecer que o índio, infelizmente, depois de sua aculturação, passa a ser,
muitas vezes, mais um elemento da degradação da região, na extração ilegal de
madeira, no assoreamento e contaminação de rios para a exploração de garimpos
clandestinos - como está ocorrendo na Terra Indígena Roosevelt - na exploração
e contrabando, em conluio com estrangeiros, da nossa biodiversidade.
Com planejamento, organização, e
sobretudo, pleno exercício da soberania do Brasil na região, é possível conciliar
a proteção da natureza e das populações indígenas, com a exploração sustentável
do patrimônio hídrico, das florestas, da mineração, do turismo, da navegação.
Para isso, basta que se associem a União, os Estados da Região, a iniciativa
privada nacional, e, minoritariamente, capital estrangeiro, em uma grande
empresa, com dinheiro e estrutura suficiente para fazê-lo.
O atraso de Belo Monte, no
entanto, não é exceção no Brasil de hoje. O país está coalhado de obras que tem
sido sucessivamente, repetidamente, paralisadas pela sabotagem ou impedidas
pela justiça.
Muitas vezes, uma mesma
empreiteira brasileira trabalha, simultaneamente, com uma grande obra no Brasil
e outra no exterior. Enquanto, lá fora, a obra sai dentro do cronograma, e com
o preço inicialmente previsto, aqui o atraso pode passar de um terço do prazo e
o orçamento se multiplicar por três ou cinco.
Por que isso ocorre? Porque nos
outros países, é impossível paralisar por dezenas de vezes obras gigantescas,
de bilhões e bilhões de dólares de orçamento, que são essenciais para o
progresso de um país, impunemente. Fazendo isso a cada vez que pequenos grupos
- manipulados ou não - se manifestam, como se fosse a coisa mais natural do
mundo.
Lá fora, existe um mínimo de
alinhamento estratégico entre os diferentes setores da sociedade e do Estado, e
os poderes constituídos, para a execução, de forma permanente, perene, das
obras necessárias ao desenvolvimento nacional.
Acontece um terremoto no Japão,
e, em dias, as rodovias que foram avariadas ficam prontas. Na China, prédios
são construídos em 72 horas, e cidades inteiras são erguidas - com ruas,
sistemas de saneamento, eletricidade, prédios públicos e residenciais
- em menos tempo do que é necessário para se construir um viaduto no Brasil.
Essa situação, em que vem um e
faz, e vem o outro e desfaz, repetidamente, tem que acabar.
O que prejudica um determinado
governo também pode paralisar outros, independente de orientação política, e
enquanto nações emergentes avançam, o Brasil, paralisado pela “síndrome do
atraso”, continuará dando um passo à frente e três para trás, indefinidamente.
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