terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Cuba ainda tem algo a dizer ao Brasil

Cuba só não virou pó graças ao planejamento, à organização social e à consciência política: a ilha ainda fala aos nossos dias e à realidade que nos constrange.

Por: Saul Leblon 





Quem nunca entendeu porque Cuba ainda suscita tanta paixão e debate na política do século XXI está vivendo um novo espasmo de perplexidade.

O reatamento das relações diplomáticas entre Havana e Washington, anunciado na semana passada, dia 17/12, em pronunciamento casado de Obama, nos EUA, e Raúl Castro, em Cuba, tornou-se um dos assuntos mais importantes da agenda internacional, rivalizando com o derretimento do rublo e o mergulho nas cotações do petróleo.

Por que Cuba ainda magnetiza, a ponto de ostentar uma estatura geopolítica dezenas de vezes superior ao seu tamanho demográfico e territorial?

Digamos que não é comum que um país tenha seu nome imediatamente associado, em qualquer lugar do mundo, a sinônimo de audácia, soberania e justiça social.





Tampouco é trivial uma nação ser confundida com a legenda da bravura e da resistência por mais de meio século.

Todas essas exceções viram regra quando quatro letras se juntam para formar a palavra Cuba.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A camuflada recompensa do crime



Por Rui Peralta, Luanda
Publicada por PÁGINA GLOBAL 
Terça-feira, 9 de dezembro de 2014
Integra do Texto

I - Uma das características do comportamento elitista consiste em assumir os seus interesses como "interesses nacionais".

 O seu poder é em função do "interesse de Estado", os seus negócios são "negócios de Estado", a sua segurança é "de Estado" e a privacidade das suas actividades são "segredos de Estado". Inclusive os seus lucros, benefícios e benesses são em "benefício e interesse da Nação". Esta extrapolação é extensível á Ética e á Cultura, gerando sucessivas distorções da realidade, como o "pensamento único", o "fim da História" (uma marca de Hollywood, alicerçada no "final feliz", logo seguido da histórica - anterior ao histórico leão da METRO - legenda "The End").

Claro que este discurso do "nacional" tem uma função bem determinada: pôr "o boi a dormir e a vaca a pastar". Desta forma a pluridimensionalidade da vida é transformada numa distorcida realidade unidimensional, um universo concentracionário onde a existência do Homem é uma incessante competição, conduzindo-o á sua alienação como Ser, Individuo, Pessoa e Cidadão. O objectivo de cada um dos habitantes da  "Casa Comum" é simples: dinheiro, riqueza, bens...Como é que as elites o impedem, mantendo, assim o seu estatuto e o seu Poder? Através da macroeconomia da alienação total.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A maior peregrinação que a humanidade conhece

 está em marcha, e você nunca ouviu falar dela!

Peregrinação do Arbaeen (24/11/2014)


Não é o Hajj muçulmano, nem o Kumbh Mela indu. Conhecida como Arbaeen, é a maior reunião de seres humanos que o mundo conhece. E você provavelmente jamais ouviu falar dela. Não apenas o número de peregrinos excede em várias vezes (vezes cinco!) o número dos que se reúnem em Meca, e é mais significativa, como peregrinação que o Kumbh Mela, que só acontece de três em três anos. Em resumo, a peregrinação de Arbaeen é a maior que o planeta conhece e, anualmente, reúne até 20 milhões de peregrinos. É o equivalente a 60% da população total do Iraque; e aumenta ano após ano.

O mais significativo é que a peregrinação do Arbaeen acontece no mais caótico e perigoso cenário geopolítico do mundo. O “Estado Islâmico”, também conhecido como ISIS ou ISIL ou ainda Daesh, definiu os xiitas como seu inimigo de morte. Portanto, nada enfurece mais o grupo terrorista que a visão de milhões de peregrinos xiitas em marcha para apresentar ao mundo o seu impressionante show de fé.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

É HORA DE COMPRAR BRASIL!




Raras vezes, na história da humanidade, um país se deixou cegar tanto pelo ódio político, pela intolerância e pela mentira, sendo tão vilipendiado por sua própria elite.

 Agora, que as eleições acabaram, relembre: o Brasil é exemplo global no combate à fome, tem a menor taxa de desemprego de sua história, uma nova classe média pujante, que adensa um dos maiores mercados de consumo de massa do mundo, e uma presidente revigorada pela vitória nas urnas; além disso, está prestes a se tornar um dos grandes produtores globais de petróleo, não há descontrole inflacionário e os ajustes necessários na economia são bem menos severos do que se apregoa; por último, mas não menos importante, o Brasil NÃO é bolivariano!; um bom Dilma a todos; artigo de Leonardo Attuch, editor-responsável pelo 247

26 DE OUTUBRO DE 2014 ÀS 22:01

Por Leonardo Attuch

O Brasil amanhece, nesta segunda-feira, não muito diferente do que foi nos últimos dias, semanas e anos de governo Dilma – uma aposta renovada pelo eleitor brasileiro para os próximos quatro anos. O desemprego continua a ser um dos mais baixos da história, a inflação não está fora de controle e transformações estruturais, como o avanço na exploração do pré-sal, continuam em curso.
No entanto, raras vezes, na história da humanidade, um país foi tão vilipendiado e rebaixado por sua própria elite. Como jamais se viu, uma sociedade se permitiu cegar pelo ódio político, pela intolerância e pela mentira. Para citar apenas um caso, o dirigente de uma consultoria financeira lançou um livro intitulado "O Fim do Brasil", profecia que se realizaria em caso de reeleição da presidente Dilma. A julgar por seu catastrofismo, que foi levado a sério por alguns agentes do mercado financeiro, esta segunda-feira seria o "dia em que a terra parou", como diria Raul Seixas.
No entanto, basta abrir os olhos – sim, abrir os olhos, após a cegueira e a histeria das últimas semanas – para enxergar uma realidade bem diferente. O Brasil fechará o ano com a inflação dentro dos limites da meta pelo décimo ano consecutivo, com uma dívida interna estável, embora a situação fiscal seja menos confortável do que no passado, e com uma população que volta a confiar no futuro – este, um dos dados mais importantes das últimas pesquisas. Quando as pessoas acreditam que irão manter seus empregos e seu poder de compra, o motor do consumo e do crédito se mantém ligado e a pleno vapor.
Se há a necessidade de ajustes na economia, eles já são reconhecidos pelas autoridades, em Brasília. Especialmente em alguns setores, como o do etanol, que foi prejudicado pela contenção dos preços dos combustíveis e será beneficiado com a volta da Cide – um importo que tornará o álcool mais competitivo na bomba. A boa notícia é que os ajustes necessários são bem menos severos do que se apregoa – 2015, ao contrário do que muitos imaginam, não será o ano da catástrofe anunciada.
Passadas as eleições, é também a hora de superar antagonismos, divisões e retomar o diálogo. Em vez de enxergar o copo meio vazio, é hora de encarar a metade cheia, repleta de avanços. O Brasil é hoje reconhecido pelas Nações Unidas como exemplo global no combate à fome e às desigualdades sociais. É também um país montado num caminhão de reservas internacionais, capazes de amortecer qualquer crise internacional. E que, com sua nova classe média, possui um dos maiores mercados de consumo do mundo, que irá continuar recebendo investimentos por muitos e muitos anos.
Se isso não bastasse, o pré-sal, de onde se extraem mais de 500 mil barris de petróleo/dia, já não é mais uma promessa. É realidade concreta e palpável. Aliás, se o Brasil foi rebaixado e vilipendiado por sua elite, que daqui extrai suas fortunas, o que dizer, então, da Petrobras? Relatórios das agências internacionais de energia, feitos por quem realmente entende do setor, a apontam como uma das empresas de maior crescimento projetado para os próximos anos. Depois dos investimentos, virá a colheita. E o Brasil, que viveu agudas crises no balanço de pagamentos no passado, em razão de sua dependência energética, tem tudo para se transformar num dos grandes exportadores globais de petróleo – como já é no setor de alimentos.
Dilma venceu as eleições porque, em algum momento, os eleitores – e não apenas os supostamente mal-informados, como diria FHC – se deram conta de que a propaganda negativa não correspondia à realidade. Será mesmo que o Brasil dos novos aeroportos, das usinas do Rio Madeira e da hidrelétrica de Belo Monte é mesmo "um cemitério de obras inacabadas"? Aliás, o que aconteceu com o apagão elétrico previsto no início de 2014? E a Copa do Mundo? Por onde andam os arautos do #naovaitercopa? Se tiverem bom senso, depois de o Brasil ter realizado a melhor de todas as Copas – fato que, infelizmente, ficou ausente da campanha eleitoral – não farão o mesmo discurso terrorista em 2016, ano dos Jogos Olímpicos.
O Brasil que emerge dessas eleições também tem uma possibilidade única de enfrentar a corrupção. Depois de tantos escândalos, todos eles associados ao financiamento privado de campanhas políticas, o País se vê diante da oportunidade histórica de aprovar a reforma política, tornando as disputas eleitorais menos dependentes do poder econômico. E a presidente Dilma, sem uma reeleição pela frente, e reconhecida como honesta por seus próprios adversários, é a pessoa ideal para levar esse desafio adiante. "Estou pronta a responder a essa convocação. Sei do poder que cada presidente tem de liderar as grandes causas populares. E eu o farei", disse ela ontem, em seu discurso da vitória. Um discurso preciso – e de arrepiar.
Por último, mas não menos importante, há que se dizer com todas as letras. Apesar de toda a histeria e toda a estridência dos nossos neoconservadores, o Brasil não é bolivariano. Aliás, o próprio PT é um partido que, há muitos anos, fez um escolha. Optou pelo caminho democrático – e não revolucionário. O Brasil é um país capitalista, que respeita a propriedade e os contratos, e que, neste caminho, promove a inclusão social. Aliás, a aposta na radicalização interessa apenas a pequenos grupelhos, que se alimentam do discurso do ódio. A estes, basta dizer que Miami é logo ali. À verdadeira elite brasileira, comprometida com o País, o que importa é seguir adiante, com mais igualdade e liberdade.
Como diria Eduardo Campos, não vamos desistir do Brasil. Até porque, depois de tantas mentiras e ataques, o Brasil ficou barato. É hora de comprar Brasil!
* Leonardo Attuch é fundador e editor-responsável pelo 247
 

domingo, 24 de agosto de 2014

A fase insana do totalitarismo neoliberal


Não precisa ser um especialista para ver que nos últimos meses, e de maneira cada vez mais acelerada, o imperialismo estadunidense e seus aliados da OTAN estão tratando de criar todas as condições para transformar as relações internacionais em um nova arena de conflitos com o objetivo de manter o já questionado sistema internacional unipolar e a hegemonia neoliberal.

Há apenas três anos, quando alvorecia a multipolaridade com os esforços de criação da UNASUR e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), com Rússia tentando consolidar uma região euro-asiática e os BRICS explorando uma alternativa à tirania neoliberal, o imperialismo se lançou a criar novos focos de tensão, intervindo na Líbia - que até então era um país chave de uma necessária integração africana -, na Síria e em países da África, e relançou com força a subversão em vários países latino-americanos.

Na segunda metade de 2013, quando intensificava a agressão intervencionista na Síria, o último grande país do Oriente Médio com um sistema no qual conviviam diversos povos, culturas e religiões, no marco da reunião do G20 em San Petersburgo e graças à carta do papa Francisco, Rússia introduziu o tema da Síria, ameaçada com bombardeios aéreos por parte dos Estados Unidos (EUA) e países da União Europeia (UE) pelo suposto e inventado uso de armas químicas por parte do governo sírio, e forçou uma difícil negociação para frear a tempo a ameaça de bombardeios para fazer emergir o arsenal químico da Síria e destruí-lo.

A firme posição russa no caso da Síria, que contou com o apoio da China e da maioria dos países do mundo, mostrou pela primeira vez que existiam forças capazes no cenário internacional para colocar limites ou término ao sistema unipolar criado pelos EUA desde a desestruturação da União Soviética, e começar a restauração de uma ordem multipolar, algo que para o imperialismo significaria o começo do fim de seu projeto de hegemonia neoliberal total.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

"As ONGs são pretenciosas, mal orientadas e frequentemente desonestas."

(Paulo Vanzolini, zoólogo da USP.)

Al Gore


 Carta Aberta ao Ministro Luiz Alberto Figueiredo Machado 

Ministério das Relações Exteriores
São Paulo, 15 de julho de 2014
Exmo. Sr.
Luiz Alberto Figueiredo Machado
Ministro das Relações Exteriores
A propósito da pretendida proposta nacional para uma política de mudanças climáticas, desafortunadamente, as discussões sobre o assunto têm sido pautadas, predominantemente, por motivações ideológicas, políticas, econômicas e acadêmicas restritas. Isto as têm afastado, não apenas dos princípios basilares da prática científica, como também dos interesses maiores das sociedades de todo o mundo, inclusive a brasileira. Por isso, apresentamos as considerações a seguir.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

BRICS são a vanguarda do novo mundo: Não diluam os BRICS!


O G7    Os BRICS
Os BRICS têm o dever, têm a obrigação, de viver, de sobreviver. Cada país que se queira juntar a eles terá de provar que existe exclusivamente para servir ao próprio povo e, sempre, à nossa grande humanidade comum!

Há crescente perigo de que os BRICS – o clube das nações que se organizam na vanguarda, nas trincheiras, para encarar o imperialismo ocidental global – possam ser diluídos e enfraquecidos, caso alguns dos aliados ocidentais de direita, como Indonésia e Turquia, venham a ser admitidos ao grupo.

BRICS são o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e o grupo foi pensado originalmente como simples bloco econômico, mas, em anos recentes, os ataques do ocidente contra países com sistemas político e econômico independentes, empurraram a maioria das nações BRICS para uma poderosa aliança política, talvez, mesmo, um abraço.

Exceto o notório aliado dos EUA e capitalista fundamentalista – a Índia – todos os demais países membros estão-se posicionando desafiadoramente e orgulhosamente contra a mais recente onda de massacre neocolonialista ocidental. Podem até ter sistemas políticos e econômicos diversos, mas o anti-imperialismo é o denominador comum essencial entre eles.

Eles todos, mais uma vez com exceção da Índia, estão sob severo ataque de propaganda pela imprensa-empresa de massas ocidental.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A rede de Marina


Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Em Pravda.ru - 22.10.2013

No último dia 16 de fevereiro, Marina Silva anunciou o lançamento da Rede Sustentabilidade, seu partido em construção. Muitos questionamentos já têm sido feitos às propostas apresentadas nessa ocasião pela ex-senadora acriana, que vem defendendo uma "nova forma de fazer política", um "novo tipo de partido", assim como um "novo tipo de militância". As críticas têm conseguido demonstrar que Marina abusa de conceitos vazios para elaborar um discurso que tenta agradar ao maior número de eleitores. Também já se destacou a presença, nessa rede, de empresários como Guilherme Leal e Maria Alice Setúbal, apoiadores da campanha eleitoral de Marina à presidência da república em 2010, e a integração de outros políticos, como Heloísa Helena, a esse movimento de "renovação ética".

Mas a verdadeira rede de Marina é muito mais ampla e foi sendo construída ao longo de sua trajetória política. Alguns dos elementos centrais dessa trama não farão parte do seu novo partido, mas foram fundamentais para a construção do projeto político que dá sustentação à atuação pública de Marina Silva e à criação da Rede Sustentabilidade.

Nesse mapa de relações pessoais de Marina, Chico Mendes é a primeira pessoa que deve ser destacada. Afinal, foi a luta dos seringueiros, da qual Chico era uma das principais lideranças, que deu maior projeção à então professora de história e sindicalista, que havia feito parte do movimento estudantil na Universidade Federal do Acre. Ligada às Comunidades Eclesiais de Base que, assim como os movimentos sociais urbanos de Rio Branco, foram importantes para fortalecer a organização e a resistência dos seringueiros na floresta, Marina também participou da criação da CUT e do PT no Acre, ao lado de Chico Mendes e tantos outros.

A partir dessa relação com Chico, outras duas figuras centrais entraram na rede de Marina: a antropóloga Mary Allegretti, que colaborou com a criação do Conselho Nacional dos Seringueiros, e Steve Schwartzman, antropólogo norte-americano, ligado à ONG Environmental Defense Fund (EDF).

sábado, 16 de agosto de 2014

O neo-eurasianismo e o redespertar russo


Por Dídimo Matos

O Eurasianismo
O termo eurasianismo apresenta diversas acepções. Surge pela primeira vez no século XIX, cunhado pelo movimento eslavófilo que defendia a rica diversidade da Eurásia2, numa espécie de outra via que não europeia ou asiática, e que juntasse a cultura e tradição da Ortodoxia e da Rússia. Esse foi, pois, seu primeiro uso.

Tais ideias foram retomadas logo após a I Guerra Mundial, por figuras como o filólogo e etnólogo Nikolai S. Trubetskoy, pelo historiador Peter Savitsky, pelo teólogo ortodoxo G. V. Florovsky e, mais a frente, pelo geógrafo, historiador e filósofo Lev Gumilev, que defendia a luta cultural e política entre, de um lado, o Ocidente e, de outro, o subcontinente da Eurásia3, guiado pela Rússia. Gumilev foi o criador de duas teorias: i) a da etnogénese, pela qual as nações são originárias da regularidade do desenvolvimento das sociedades; e ii) a da paixão, sobre a capacidade humana para se sacrificar em prol de objetivos ideológicos.

Estes teóricos do eurasianismo, estudaram de modo aprofundado os impérios de Gengis Khan, Mongol e Turco-Otomano, e se encontraram, mais de uma vez, com o geopolítico alemão Karl Haushofer. Baseada ainda na produção do britânico Halford Mackinder, essa primeira versão do eurasianismo procurou estabelecer a identidade russa, distinta da ocidental, e propugnava uma fusão das populações muçulmanas e ortodoxas. Rejeitaram a proposta de integração russa à Europa, de Pedro, o Grande. Defendiam que a Rússia era, claramente, não europeia, que era um continente em si, separado objetivamente, tanto da Europa quanto da Ásia, pela geografia, e que teve sua cultura moldada por influências da Ásia.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Cresce o PETROYUAN (e a lenta erosão da hegemonia do dólar norte-americano)


Entreouvido no Beco da Xaxará na Vila Vudu: Uma coisa é certa: as eleições no Brasil têm importância CRUCIAL em todo esse processo que aí se comenta. A prova de que as eleições no Brasil têm importância crucial nesse processo que aí se comenta é que absolutamente NINGUÉM FALA desse processo na imprensa-empresa “especializada” (só rindo!) de Economia & Finanças, no Brasil.

4/8/2014, [*] Flynt Leverett e Hillary Mann Leverett, World Financial Review
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Por 70 anos, um dos pilares mais criticamente determinantes do poder norte-americano tem sido a posição do dólar como mais importante moeda do mundo. Nos últimos 40 anos, um dos pilares do primado do dólar tem sido o papel dominante das notas verdes nos mercados internacionais de energia. Hoje, a China está alavancando seu crescimento como potência econômica, e como o mais importante mercado em desenvolvimento para exportadores de hidrocarboneto no Golfo Persa e na ex-URSS, para circunscrever a dominação do dólar na energia global – com ramificações potencialmente profundas para a posição estratégica dos EUA.

Desde a IIª Guerra Mundial, a supremacia geopolítica dos EUA repousa não só na força militar, mas também na posição do dólar como principal moeda de negócios e de reserva do mundo. Economicamente, a primazia do dólar extrai “senhoriagem” – a diferença entre o custo de imprimir dinheiro e seu valor – de outros países e minimiza a taxa de risco cambial das empresas norte-americanas. Mas sua real importância é estratégica: a primazia do dólar permite que os EUA cubram seus déficits crônicos em conta corrente e fiscal, emitindo mais de sua própria moeda – precisamente como Washington financiou a projeção de poder militar por mais de meio século.

Desde os anos 1970s, um pilar da primazia do dólar tem sido o papel das notas verdes como moeda dominante na qual se fazem os preços de petróleo e gás, e na qual as vendas de hidrocarbonetos são faturadas e pagas. Isso ajuda a manter alta a demanda mundial do dólar. Isso também alimenta a acumulação de excedentes em dólares pelos produtores de energia, o que reforça a posição do dólar como primeiro ativo de reserva do mundo, e que pode assim ser “reciclado” na economia dos EUA para cobrir os déficits norte-americanos.

Muitos assumem que a proeminência do dólar nos mercados de energia deriva de seu estado mais amplo como principal moeda de transações e de reserva do mundo. Mas o papel do dólar nesses mercados não é natural, nem é função de sua dominância mais ampla. Na verdade, foi concebido e construído por políticos norte-americanos depois do colapso da ordem monetária de Bretton Woods no início dos anos 1970s, o que pôs fim à versão inicial da primazia do dólar (“hegemonia 1.0 do dólar”). Ligar o dólar ao mercado internacional de petróleo foi chave para criar uma nova versão da primazia do dólar (“hegemonia 2.0 do dólar”) – e, por extensão, para financiar mais 40 anos da hegemonia dos EUA.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Aliança antidólar para deter às guerras dos EUA

Assessor de Putin propõe “Aliança Antidólar”
Para pôr fim às guerras dos EUA em todo o planeta, assessor de Putin propõe Aliança Antidólar: “Uma coalização antidólar será o primeiro passo para criar-se uma coalizão antiguerra capaz de deter a agressão norte-americana.” Washington não parece ter previsto que a guerra pela Ucrânia pode, em pouco tempo, converter-se em guerra pela independência da Europa – que pode interessar-se por livrar-se do domínio pelos EUA – e guerra contra o dólar.

Por Tyler Durden




Já faz algum tempo que tanto a Ucrânia como a resposta russa às sanções (que puseram em movimento o grande eixo eurasiano, aproximando China e Rússia e acelerando o negócio “Santo Graal” de gás entre os dois países) deixaram as manchetes. Mas ainda não se entendeu por que a imprensa-empresa ucraniana largou a cobertura da Ucrânia como se fosse batata quente, sobretudo porque a guerra civil prossegue no Donbass ucraniano e continua a fazer dúzias de mortos dos dois lados.
O mais provável é que o público tenha-se cansado de ouvir metáforas sobre jogos de xadrez ou de damas entre Putin e Obama, e tenha sido despachado para ler a propaganda que cerca as metáforas ‘analíticas’ e os eventos mortais da 3ª guerra do Iraque, como há tantas décadas.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Especial: e se Israel perder a guerra?


Ativista palestina enfrenta soldados israelenses, em 2011.


Agora, pressão internacional pode obrigar Telaviv a relaxar cerco a Gaza — o que teria enorme significado político e simbólico.
Um mês depois de iniciar ofensiva brutal, Telaviv teme ser derrotada politicamente pelo Hamas. Como isso tornou-se possível? Quais seriam as consequências?

A guerra em curso em Gaza não foi algo que Israel ou o Hamas tenham buscado. Mas os dois lados sabiam com certeza absoluta que um novo confronto viria. O cessar-fogo de 21/11/2012, que pôs fim a oito dias de fogo, foguetes de Gaza contra Israel e bombardeio aéreo de Israel contra Gaza, jamais foi implementado. Aquele acordo estipulava que todas as facções palestinas em Gaza suspenderiam as hostilidades contra Israel e que Israel suspenderia todos os ataques contra Gaza por terra, mar e ar – inclusive o “alvejamento de indivíduos” (assassinatos, quase sempre por mísseis disparados de drones manobrados à distância) –, e que o cerco de Gaza acabaria, dado que Israel aceitou, por aquele acordo de 2012, “abrir as passagens e facilitar o deslocamento de pessoas e transferência de produtos, pondo fim a qualquer medida que restrinja a livre movimentação de residentes e ao alvejamento de residentes em áreas de fronteira.”
Uma cláusula adicional registrava que “outras questões que venham a exigir discussão serão discutidas” – o que parece fazer referência ao esforço, acordado privadamente com Egito e EUA, para ajudarem a pôr fim ao contrabando de armas para Gaza, embora o Hamas sempre tenha negado tal interpretação para essa cláusula.
Durante os três meses depois daquele cessar-fogo, a agência de segurança de Israel, Shin Bet, só registrou um ataque: dois morteiros disparados de Gaza, em dezembro de 2012. Os funcionários israelenses ficaram impressionados. Mas convenceram-se rapidamente de que a calma na fronteira de Gaza seria, em primeiro lugar, efeito da posição contida adotada pelos israelenses e do próprio interesse dos palestinos. Israel, por isso, não viu motivo forte para aplicar a parte que lhe cabia aplicar daquele acordo. Nos três meses seguintes, depois do cessar-fogo, as forças israelenses atacaram Gaza com regularidade, atingindo agricultores palestinos e os que recolhiam lixo em áreas próximas à fronteira, e atiraram contra barcos de pesca, impedindo os pescadores de terem acessos à maioria dos pesqueiros no mar de Gaza.
A abertura do cerco de Gaza jamais aconteceu. As passagens foram mantidas permanentemente fechadas. As chamadas “áreas de transição” [orig. buffer zones] – terras agricultáveis nas quais que os agricultores gazenses não poderiam pisar, sob risco de serem mortos a tiros – foram reinstituídas. As importações caíram, as exportações foram bloqueadas e poucos gazenses obtiveram autorização para entrar em Israel e na Cisjordânia.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Como pensa a elite brasileira

A elite brasileira comprou o livro de Piketty, O Capital no Século 21. Não gostou. Achou que era sobre dinheiro, mas o principal assunto é a desigualdade.


Por Antonio Lassance
22/07/2014 -

A elite brasileira é engraçada. Gosta de ser elite, de mostrar que é elite, de viver como elite, mas detesta ser chamada de elite, principalmente quando associada a alguma mazela social. Afinal, mazela social, para a elite, é coisa de pobre.

A elite gosta de criticar e xingar tudo e todos. Chama isso de liberdade de expressão. Mas não gosta de ser criticada. Aí vira perseguição.

Quando a elite esculhamba o país, é porque ela é moderna e quer o melhor para todos nós. Quando alguém esculhamba a elite, é porque quer nos transformar em uma Cuba, ou numa Venezuela, dois países que a elite conhece muito bem, embora não saiba exatamente onde ficam.

Ideia de elite é chamada de opinião. Ideia contra a elite é chamada de ideologia.

A elite usa roupas, carros e relógios caros. Tem jatinho e helicóptero. Tem aeroporto particular, às vezes, pago com dinheiro público - para economizar um pouquinho, pois a vida não anda fácil para ninguém.

sábado, 19 de julho de 2014

Sanções, aviões de passageiros... e “Doutrina Wolfowitz”





17/7/2014, 
[*] Paul Craig Roberts − Institute for Political Economy
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

As sanções unilaterais impostas pelos EUA e anunciadas por Obama dia 16/7/2014 (ver acima, em inglês), bloqueando o acesso a financiamentos bancários de empresas russas de armas e energia, comprovam a impotência de Washington. O resto do mundo, incluindo duas das maiores associações comerciais dos EUA, já deram as costas a Obama.

A Câmara de Comércio dos EUA e a Associação Nacional de Fabricantes [orig.National Association of Manufacturers] fez publicar anúncios nas páginas doNew York Times, Wall Street Journal e World Report protestando contra as sanções inventadas pelos EUA. A Associação Nacional de Fabricantes disse que

(...) estamos desapontados com os EUA, por ampliarem sanções unilaterais de modo que muito prejudica a posição comercial dos EUA no mundo.


(...) reunidos em Bruxelas, líderes da União Europeia recusaram-se a acompanhar as medidas impostas por EUA.

Na tentativa de isolar a Rússia, o Doido da Casa Branca isolou Washington.

As sanções não terão efeito sobre empresas russas. As empresas russas podem obter mais financiamentos do que carecem de bancos chineses, franceses e alemães.

Os três traços que definem Washington – arrogância, húbris e corrupção – também emburrecem a capital e a fazem incapaz de aprender. Gente arrogante, tomada de húbris, nunca aprende. Quando encontram resistência, respondem com propinas, ameaças e coerção. A diplomacia exige capacidade razoável para aprender com os erros, seus e dos outros; mas já há anos Washington esquece a diplomacia. Os EUA só conhecem a força bruta.

terça-feira, 15 de julho de 2014

A guerra mundial entre classes e não entre nações.


Enquanto o rico faz guerra,é o pobre que morre. Jean-Paul Sartre.

Muitos dos especialistas em desenvolvimentos históricos tendem a considerar outra guerra mundial como deslocamento em grande escala de meios militares, para forçar a derrota, a destruição ou a subjugação de oponentes desafiantes. Embora não se deva descartar a possibilidade desse cenário terrível, já há motivos para começar a trabalhar com a possibilidade de que a muito discutida 3ª Guerra Mundial será guerra diferente: mais guerra entre classes, que entre exércitos.
Vista sob essa luz, a 3ª Guerra Mundial já está aí; e, de fato, já está sendo guerreada há anos: de um lado, a guerra neoliberal, unilateral, transfronteiras, da economia da austeridade, cujos ‘guerreiros’ são a classe transnacional da oligarquia financeira, contra a vastíssima maioria dos cidadãos do mundo – os 99% globais.
A globalização do capital e interdependência dos mercados mundiais alcançaram um ponto no qual confrontos militares de larga escala, como se viram na 1ª e na 2ª Guerra Mundial podem levar à catástrofe financeira de todos. Não surpreendentemente, a rede das elites financeiras transnacionais, que com frequência elegem políticos e controlam o governo por trás das cortinas, não manifestam qualquer interesse por outra guerra de liquidação internacional, que poderia paralisar os mercados financeiros mundiais.
Isso explica por que as agressões imperialistas recentes têm tão frequentemente assumido a forma de intervenções de “soft-power” ["poder suave"]: revoluções ‘batizadas’ com líricos nomes de cores, golpes de estado ditos “democráticos”, guerras civis pré-fabricadas, sanções econômicas e ações assemelhadas. Claro que a opção militar sempre aparece como pano de fundo, a ser ‘acionada’ quando/se as estratégias do tal “poder suave” da tal “mudança de regime” fracassam ou se comprovam insuficientes.

domingo, 13 de julho de 2014

Fundação do estado de Israel e o Brasil






Escrever sobre Israel é uma tarefa muito difícil, pois a história de Israel se confunde com a história da humanidade.
O que muitas pessoas não sabem, é que na história de Israel, um brasileiro tem um papel de destaque. Trata-se do diplomata Osvaldo Aranha (1894 – 1960). Ele foi uma peça importantíssima na criação do atual Estado de Israel.
Osvaldo Euclides de Sousa Aranha

Mas primeiro vamos entender como os judeus ficaram sem uma pátria.
No ano de 63 a C. Israel foi conquistado pelo Império Romano e a convivência com Roma foi marcada por diversas revoltas. Na última delas em 132, eles foram expulsos de sua terra, que passou a ser denominada de Síria Palestina, com o objetivo de apagar o passado judaico da região. Por causa disso a presença dos judeus em sua própria terra foi diminuindo gradativamente.
Posteriormente a região pertenceu ao Império Bizantino, Turco Otomano, até que após a Primeira Guerra passou para o domínio Britânico.

Após a Segunda Guerra, havia uma comoção muito grande para que os judeus tivessem uma pátria, em virtude do Holocausto. Alguns lugares foram sugeridos para a criação de um Estado judeu, inclusive na África. Porém os judeus achavam que só se sentiriam seguros se sua pátria fosse na Palestina, seu lugar de origem.
O governo Britânico se declarando incapaz de resolver a questão, deixou a cargo da recém criada Organização das Nações Unidas (ONU) decidir o que seria feito com a Palestina.
E é ai que começa a participação brasileira na criação do Estado de Israel.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Deslumbramento e humilhação: o jogo Brasil e Alemanha

Leonardo Boff
10/07/2014
O jogo para as semi-finais entre Brasil e Alemanha do dia 8 de julho no grande estádio de Belo-Horizonte significou uma justa vitória da seleção alemã e uma arrasadora e vergonhosa derrota brasileira. Milhões estavam nas praças e ruas de todas as cidades. A atmosfera de euforia dos brasileiros, a maioria enfeitados de verde-amarelo, as cores nacionais, não toleraria jamais, sequer por imaginação, semelhante humilhação. E ela caiu como um raio em céu azul.
Vejo duas razões básicas que explicam o resultado final de 7×1 gols em favor da Alemanha. Os alemães, bem como outros times europeus, renovaram as estratégias e as formas de jogar futebol. Investiram, a meu ver, em três pontos básicos: cuidadoso preparo físico dos jogadores para ganharem grande resistência e velocidade; em segundo lugar, preparar craques individuais que pudessem jogar em qualquer posição e correr todo o campo e por fim criar um grande sentido de conjunto. Excelentes jogadores que não pretendem mostrar sua performance individual mas sabem se integrar no grupo formando um grupo coeso, tornam-se fortes favoritos em qualquer competição. Não que sejam invencíveis, pois vimos que, jogando com os USA, a seleção alemã teve grande dificuldade em ganhar. Mas as referidas qualidades foram o segredo da vitória alemã sobre o Brasil.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

TISA, a bomba destinada a explodir serviços públicos no mundo todo.


Os Estados Unidos, os países da UE e uma vintena de outros Estados encetaram em Genebra negociações sobre o comércio de serviços. Característica das mesmas: estas negociações deveriam permanecer secretas durante cinco anos. A WikiLeaks conseguiu em parte levantar o véu acerca do seu conteúdo.

Tudo devia permanecer totalmente secreto. Nada devia transparecer das negociações acerca do acordo sobre o comércio dos serviços (ACS) encetadas desde há dois anos na embaixada da Austrália em Genebra entre os Estados Unidos, a União Europeia e uma vintena de países. Um vasto empreendimento de liberalização que afeta até os serviços públicos fundamentais. Foram tomadas medidas assegurando uma confidencialidade total das discussões, numa linguagem digna de um cenário de James Bond. Os textos que estabelecem o avanço das conversações foram "classificados", conforme um jargão geralmente utilizado para os dossiês secretos da defesa. Eles devem ser "protegidos de toda divulgação não autorizada" e armazenados num sistema de computadores ele próprio classificado e mantido "num edifício ou num contentor fechado" sob alta vigilância. O objetivo declarado é que nada possa transpirar do conteúdo destas negociações "até cinco anos após a conclusão do acordo" ou o fim das negociações se estas acabarem por não se concluir. 

Isto era ignorar a perícia dos lançadores de alerta da WikiLeaks, que conseguiram recuperar uma parte dos textos superprotegidos. Assim, a 19 de Junho, eles publicaram no seu sítio o anexo do tratado em preparação que trata dos serviços financeiros: https://wikileaks.org/tisa-financial/ 

Estas revelações sublinham, de facto, a amplitude da ofensiva iniciada por Washington, seguida pelos Estados membros da União Europeia, para permitir às multinacionais açambarcar, quando chegar o momento, o comércio dos produtos financeiros assim como o de todos os serviços nos grandes mercados transatlântico e transpacífico, cujas negociações, sabe-se avançam ao mesmo tempo na maior discrição.

sábado, 5 de julho de 2014

BELO MONTE e a síndrome do atraso




Por Mauro Santayana
02/07/2014


(Jornal do Brasil) - A ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, está analisando pedido do Consórcio Norte Energia, responsável pela construção da Usina de Belo Monte, para adiar a entrada, por mais um ano, em operação da usina, que fica no Rio Xingu, no Pará.

Belo Monte não é uma obra qualquer. Em potência instalada, será a terceira usina hidroelétrica do mundo, depois da chinesa Três Gargantas, e da binacional, brasileiro e paraguaia, Itaipu.

A polêmica em torno de sua construção, é emblemática do ponto de vista do processo de ocupação e aproveitamento da Amazônia, como patrimônio de todos os brasileiros, e com relação à falta  de convergência que existe em nossa sociedade em torno dos objetivos nacionais.

A Amazônia precisa ser protegida, mas, ao mesmo tempo que deve ser preservada, ela necessita de um projeto integrado e sinérgico de desenvolvimento que abarque toda a região.

É hipocrisia tentar impedir a construção, depois, sabotar o aproveitamento hídrico, e finalmente, paralisar por dezenas de vezes uma obra, da qual depende um país que tem uma das mais altas tarifas de energia elétrica do mundo, e que concorre nesse quesito com outros países no mesmo estágio de desenvolvimento, como se a região à qual pertence, não sofresse há décadas, dos mesmos problemas que afetam a Amazônia como um todo. Questões que derivam da ausência - e não da presença - da mão organizadora e mobilizadora do Estado.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Com muito orgulho, com muito amor.


Um dia, pelo menos um dia, uma minoria branca e endinheirada conseguiu fazer com que todos nós sentíssemos vergonha de sermos brasileiros

Por Lelê Teles
2 de julho de 2014

Um dia, uma mulher ousou enfrentar os militares, um bando de valentões covardes e torturadores que espancavam adolescentes e mulheres, e assassinavam compatriotas a sangue frio.
Ela lutou pela democracia contra os milicos sem voto, os que surrupiaram o poder

Uma minoria reacionária, viúvas dos milicos que tocaram o terror, a chama de terrorista.
Um dia, essa mulher que foi presa e torturada pelos valentões covardes, saiu da prisão e lutou pelos seus ideais. Forte e determinada, decidiu, um dia, que uma mulher poderia, sim, ser presidenta da república e cuidar do destino da nação.
Ganhou no voto, numa democracia que ela lutou para implantar.

O AMOR PELA SELEÇÃO


Choro dos craques vem do abismo entre os craques e o país, aberto pelo anti-Copa e pelo VTNC. É preciso fechá-lo

 A conversa do dia é o choro dos meninos da seleção.
Nossa seleção chora de medo, um pavor profundo, um abismo, um buraco escuro na terra. Felipão, o verdadeiro, perdeu a energia e ficou desorientado. O capitão Tiago Silva sentiu medo de cobrar pênalti. Não conseguia nem olhar o chute dos outros. Chorou tanto que ninguém entendeu.
Julio Cesar também chorou e todo mundo entendeu.
Neymar seria o primeiro a bater o pênalti.  Preferiu ficar por último. Vencemos, apesar de tudo. Mas não sabemos até onde vamos caminhar. Que importância tem isso?
 Nada, quem sabe. 
Hoje, tudo.
 Eu tinha 5 anos quando o Brasil ganhou a primeira Copa. Estava no terraço – na época não se dizia varanda – do apartamento onde morava, ali na rua Cincinato Braga, no bairro paulistano do Paraíso. Lembro do barulho do alto falante de um caminhão que passava pela  rua, no volume máximo, antes de desaparecer no paralalepípedo:
--A Copa do mundo é nossa
Com o brasileiro não há quem possa...
Eeeeeeta esquadrão de ouro
É bom no samba, é bom, no couro
 Nem meus pais nem meus irmãos conheciam a música da seleção. Quem cantava  era  Lola, a  babá, uma quase adolescente levada para trabalhar em nossa casa por Alaíde, a irmã mais velha, mais durona. Lola, que era muito mais bonita, sambava e cantarolava no terraço – quando os patrões estavam longe – com sua voz suave, o sorriso sempre nos lábios, os cabelos grandes e crespos, de um jeito que só ficaria na moda dez anos depois.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Por que nossa mente quer ser enganada?


Sexta-feira, junho 27, 2014  
Por Wilson Roberto Vieira Ferreira 

Militantes do PSDB posando para fotografias ao lado de um display de papelão do candidato Aécio Neves em tamanho real na convenção do partido e um jornalista que confundiu o sósia do Felipão com o verdadeiro. Qual a secreta conexão entre esses dois episódios? O estranho desejo humano de querer ser enganado. E a filosofia da percepção e a neurologia podem explicar isso. Por que pacientes que sofriam de afasia global e agnosia tonal ridicularizaram um discurso na TV do presidente Ronald Reagan em 1985 enquanto os receptores normais o consideravam um “grande comunicador”? Talvez o caminho seja entender a natureza das “imagens-afecção” e a solução do enigma do porquê demoramos meio segundo para ter consciência das decisões que o nosso próprio cérebro teve. A contra-tática para combater a canastrice na política pode estar nas mão dos filósofos da percepção como Brian Massumi e em neurologistas como Oliver Sacks.

As imagens dos bonecos de papelão do candidato Aécio Neves na convenção do PSDB para que militantes posassem ao lado do display e a “barriga” jornalística cometida pelo colunista Mario Sergio Conti que confundiu o sósia com o verdadeiro Felipão revelam um secreto sincronismo: o estranho desejo humano de querer ser enganado.

Em postagem anterior discutíamos como era possível que ainda hoje a opinião pública ainda seja mobilizada por táticas publicitárias e de propaganda tão estereotipadas, exageradas, com personagens tão canastrões, caricatos, com gestos, expressões faciais e poses tão overacting. Péssimos atores que não conseguiriam passar pelo mais simples teste de seleção do cast do filme de mais baixo orçamento - sobre esse tema clique aqui.

Assistindo ao filme O Grande Ditador de Chaplin, somos dominados por uma estranha sensação ao se questionar sobre quem teria inspirado quem: a pantomima de Chaplin também estava presente nos gestuais e discursos de Hitler e Mussolini. Quem se inspirou em quem? O gênio de Chaplin não foi o de fazer uma caricatura genial de um ditador, mas de revelar a todos que na política levamos a sério maus atores – Chaplin mostrou de uma forma profissional o que Hitler e Mussolini faziam de forma canastrona.

domingo, 29 de junho de 2014

"Ucrânia e Brasil"



Artigo do prof. Adriano Benayon

Guerra e depressão
O móvel (objetivo) da oligarquia financeira para desencadear guerras em grande escala, bem como conflitos localizados, é ganhar mais poder, subordinando países e regiões ao império e enfraquecendo os que poderiam conter essa expansão.

2. Na 1ª e 2ª Guerras Mundiais, respectivamente França versus Alemanha e Alemanha versus Rússia (União Soviética), as potências angloamericanas só se engajaram com intensidade, no final, para ocupar espaços, estando aqueles contendores desgastados.

3. As duas grandes conflagrações eclodiram após longos períodos de depressão econômica e serviram como manobra de diversão em face das consequências sociais e políticas da depressão.

4. No Século XXI, os conflitos armados grandemente destrutivos estão tornando-se mais frequentes após o golpe preparatório: a implosão das Torres Gêmeas, em setembro de 2001. 

5. Os principais alvos têm sido países islâmicos, envolvendo a geopolítica da energia. Desde 2001 o Afeganistão está sob agressão. Em 2003, destruição e ocupação do Iraque. Ataques a Sudão, Somália e Iêmen. Em 2011 a brutal agressão e intervenção da OTAN na Líbia. Durante todo o tempo, pressão e hostilização a Síria e Irã.

6. Em 2013, a agressão à Síria foi intensificada com a invasão por mercenários e extremistas, grandemente armados, com participação das monarquias petroleiras do Golfo Pérsico, lideradas pela Arábia Saudita, e colaboração da Turquia e de outros membros da OTAN.

7. Mas, na Síria, o governo conseguiu resistir, com seus recursos e disposição e com apoio militar e político da Rússia, inclusive no Conselho de Segurança da ONU.