sábado, 22 de fevereiro de 2014

A Química do Amor

Os efeitos da paixão no organismo


Dra. Thaisa Jonasson




1.    Quais são os hormônios liberados por quem está apaixonado?

Sempre que alguém percebe outro ser humano como romanticamente atraente, o hipotálamo transmite uma mensagem, através de vários produtos químicos, para a hipófise, a qual libera hormônios que são rapidamente liberados na corrente sanguínea.

Os principais hormônios e neurotransmissores liberados na paixão são: Feniletilamina, Noradrenalina, Dopamina, Serotonina, Endorfina, Testosterona, Ocitocina, Vasopressina.




2.    E quais são as funções de cada um para o organismo? Como agem?

Feniletilamina – um dos mais simples neurotransmissores, com concentrações aumentadas em cérebros de apaixonados. Pode ser liberado por eventos tão simples quanto um aperto de mão ou troca de olhares. Sua ação é semelhante à das anfetaminas, que têm efeito potencializador no sistema nervoso central.

Noradrenalina – neurotransmissores que fazem o coração acelerar e prepara para a ação de ver a pessoa amada, como uma reação de “ataque ou fuga”. Seus níveis são estimulados pela feniletilamina.

Dopamina – seus níveis também aumentam na paixão e é responsável pelo aumento do desejo pela pessoa amada. Também é ela que atua nas descargas de emoções para o coração e para as artérias. É o neurotransmissor da alegria e da felicidade, para potencializar a sensação de que o amor é lindo.

Serotonina – apresenta níveis reduzidos na paixão e é responsável pela “tonalidade” do humor. Sua redução torna os apaixonados mais sensíveis à depressão, mas também mais receptivos a novas sensações, como aquela sentida quando há alguém atraente ao lado. Quando seus níveis reduzem-se, sobem os níveis de dopamina, mudando a forma de pensar e sentir. Há aumento de euforia e excitação.

Endorfina – níveis aumentados. É o “hormônio da felicidade”.

Testosterona – Apesar de ser o hormônio sexual típico do homem, ele está presente nos dois organismos, porém em menor quantidade no feminino. Quando ocorre a paixão, a substância aumenta e a mulher sente mais libido. Nos homens, a testosterona cai, deixando-o menos agressivo.

Sistema ocitocina-vasopressina – é um dos responsáveis pela escolha monogâmica. Esses hormônios são responsáveis pela formação de laços afetivos mais duradouros e intensos, como o de mãe e filho.
Estão aumentados na fase inicial, preparando para um relacionamento estável.

A ocitocina é liberada em momentos como abraços e momentos de contatos físicos. É o hormônio que estreita a relação do casal.
Devido à sua capacidade de gerar profundas conexões emocionais, e sua capacidade de combustão de sentimentos, intimidade e desejo sexual, a ocitocina é realmente a coisa mais próxima de uma droga do amor.


3.    Podemos dizer que esses hormônios fazem bem para a parte física e mental?

A paixão e os hormônios por ela liberados fazem bem, sim. Mas, também, tem seus efeitos ruins.

A ocitocina ajuda a regular os padrões de sono, acalmá-lo e contribui para uma sensação geral de bem-estar.

Há outras modificações no organismo apaixonado semelhantes às que ocorrem no estresse, como aumento da pressão sanguínea, dilatação dos vasos na pele (rubor), aumento da temperatura corporal, descarga de adrenalina, aumento da freqüência respiratória e cardíaca, tremor muscular.

A adrenalina é um inibidor natural do apetite e do sono.

O cortisol, que também encontra-se aumentado na fase mais aguda da paixão, tem efeito anti-inflamatório que se torna prejudicial se durar demais, baixando a resistência do sistema imune e favorecendo infecções, como gripe.

Esse estado exagerado de excitação prejudica a memória e a concentração, o que pode prejudicar os estudos e trabalho.

Essas alterações só trazem prejuízo se forem muito intensas e durarem tempo demais, porque o organismo entra em uma espécie de exaustão, que pode levar à maior susceptibilidade a doenças.

Mas o organismo sabe se defender e os seres humanos são biologicamente programados para se sentirem apaixonados por período auto-limitado, entre 18 e 30 meses.

4.    Há diferença entre os hormônios liberados por homens e mulheres? Se sim, quais seriam?

Homens e mulheres liberam os mesmos hormônios e neurotransmissores, com exceções como a testosterona, que apresenta níveis aumentados nas mulheres e reduzidos nos homens, como já dito anteriormente.

5.    Os hormônios podem ser “culpados” por alguns excessos dos apaixonados? Como, por exemplo, o ciúme excessivo?

A vasopressina é o hormônio da proteção, do cuidado, mas, também, do ciúme.

A descarga de hormônios, vista nos apaixonados, principalmente de dopamina, é a mesma descrita em indivíduos usuários de drogas psicoativas.  Há, ainda, o rebaixamento do controle das emoções, do senso crítico e do autocontrole, devido à redução da serotonina.

A dependência que a enamorada tem de seu eleito leva a uma síndrome de abstinência ao se distanciarem.


Autora: Dra. Thaisa Jonasson, endocrinologista do Hospital Marcelino Champagnat