Os efeitos da paixão no organismo
Dra. Thaisa Jonasson
1. Quais são
os hormônios liberados por quem está apaixonado?
Sempre que alguém percebe outro
ser humano como romanticamente atraente, o hipotálamo transmite uma mensagem,
através de vários produtos químicos, para a hipófise, a qual libera hormônios
que são rapidamente liberados na corrente sanguínea.
Os principais hormônios e neurotransmissores
liberados na paixão são: Feniletilamina, Noradrenalina, Dopamina, Serotonina,
Endorfina, Testosterona, Ocitocina, Vasopressina.
2. E quais
são as funções de cada um para o organismo? Como agem?
Feniletilamina – um dos mais
simples neurotransmissores, com concentrações aumentadas em cérebros de
apaixonados. Pode ser liberado por eventos tão simples quanto um aperto de mão
ou troca de olhares. Sua ação é semelhante à das anfetaminas, que têm efeito
potencializador no sistema nervoso central.
Noradrenalina –
neurotransmissores que fazem o coração acelerar e prepara para a ação de ver a
pessoa amada, como uma reação de “ataque ou fuga”. Seus níveis são estimulados
pela feniletilamina.
Dopamina – seus níveis também
aumentam na paixão e é responsável pelo aumento do desejo pela pessoa amada.
Também é ela que atua nas descargas de emoções para o coração e para as
artérias. É o neurotransmissor da alegria e da felicidade, para potencializar a
sensação de que o amor é lindo.
Serotonina – apresenta níveis
reduzidos na paixão e é responsável pela “tonalidade” do humor. Sua redução
torna os apaixonados mais sensíveis à depressão, mas também mais receptivos a
novas sensações, como aquela sentida quando há alguém atraente ao lado. Quando
seus níveis reduzem-se, sobem os níveis de dopamina, mudando a forma de pensar
e sentir. Há aumento de euforia e excitação.
Endorfina – níveis aumentados. É o “hormônio da felicidade”.
Testosterona – Apesar de ser o
hormônio sexual típico do homem, ele está presente nos dois organismos, porém
em menor quantidade no feminino. Quando ocorre a paixão, a substância aumenta e
a mulher sente mais libido. Nos homens, a testosterona cai, deixando-o menos
agressivo.
Sistema ocitocina-vasopressina –
é um dos responsáveis pela escolha monogâmica. Esses hormônios são responsáveis
pela formação de laços afetivos mais duradouros e intensos, como o de mãe e
filho.
Estão aumentados na fase inicial,
preparando para um relacionamento estável.
A ocitocina é liberada em
momentos como abraços e momentos de contatos físicos. É o hormônio que estreita
a relação do casal.
Devido à sua capacidade de gerar
profundas conexões emocionais, e sua capacidade de combustão de sentimentos,
intimidade e desejo sexual, a ocitocina é realmente a coisa mais próxima de uma
droga do amor.
3. Podemos
dizer que esses hormônios fazem bem para a parte física e mental?
A paixão e os hormônios por ela
liberados fazem bem, sim. Mas, também, tem seus efeitos ruins.
A ocitocina ajuda a regular os
padrões de sono, acalmá-lo e contribui para uma sensação geral de bem-estar.
Há outras modificações no
organismo apaixonado semelhantes às que ocorrem no estresse, como aumento da
pressão sanguínea, dilatação dos vasos na pele (rubor), aumento da temperatura
corporal, descarga de adrenalina, aumento da freqüência respiratória e
cardíaca, tremor muscular.
A adrenalina é um inibidor
natural do apetite e do sono.
O cortisol, que também
encontra-se aumentado na fase mais aguda da paixão, tem efeito anti-inflamatório
que se torna prejudicial se durar demais, baixando a resistência do sistema
imune e favorecendo infecções, como gripe.
Esse estado exagerado de
excitação prejudica a memória e a concentração, o que pode prejudicar os
estudos e trabalho.
Essas alterações só trazem
prejuízo se forem muito intensas e durarem tempo demais, porque o organismo
entra em uma espécie de exaustão, que pode levar à maior susceptibilidade a
doenças.
Mas o organismo sabe se defender
e os seres humanos são biologicamente programados para se sentirem apaixonados
por período auto-limitado, entre 18 e 30 meses.
4. Há
diferença entre os hormônios liberados por homens e mulheres? Se sim, quais
seriam?
Homens e mulheres liberam os
mesmos hormônios e neurotransmissores, com exceções como a testosterona, que
apresenta níveis aumentados nas mulheres e reduzidos nos homens, como já dito
anteriormente.
5. Os
hormônios podem ser “culpados” por alguns excessos dos apaixonados? Como, por
exemplo, o ciúme excessivo?
A vasopressina é o hormônio da
proteção, do cuidado, mas, também, do ciúme.
A descarga de hormônios, vista
nos apaixonados, principalmente de dopamina, é a mesma descrita em indivíduos
usuários de drogas psicoativas. Há, ainda, o rebaixamento do controle das
emoções, do senso crítico e do autocontrole, devido à redução da serotonina.
A dependência que a enamorada tem de seu eleito leva a uma síndrome de abstinência ao se distanciarem.
Autora: Dra. Thaisa Jonasson,
endocrinologista do Hospital Marcelino Champagnat