DISCURSO
DO VICE-PRIMEIRO-MINISTRO DA SÍRIA E MINISTRO DO EXTERIOR E EXPATRIADOS, WALID
AL-MOALLEM, À “CONFERÊNCIA GENEBRA-2”, EM MONTREUX, SUÍÇA
Vice-Primeiro-Ministro da Síria e Ministro do Exterior
e Expatriados, Walid al-Moallem
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SEXTA-FEIRA, 24 DE JANEIRO DE
2014
22/1/2014, Global Research
News (pela Agência SANA)
Traduzido do inglês pelo pessoal
da Vila VuduSenhoras e Senhores,
Falo-lhes em nome da República
Árabe Síria, REPÚBLICA – estado civil que alguns, aqui nessa sala, tentaram
empurrar de volta à idade média; ÁRABE – orgulhosa da sua firme e constante
herança panárabe, apesar dos deliberados atos de agressão de supostos
fraternais amigos árabes; e SÍRIA, com história de mais de sete mil anos.
Nunca estive em posição mais
difícil; minha delegação e eu trazemos o peso de três anos de privações e
dificuldades que meus companheiros e patrícios enfrentamos – o sangue dos
nossos mártires, as lágrimas dos nossos enlutados, a angústia das famílias à
espera de notícias dos entes queridos – sequestrados ou desaparecidos, o choro
das nossas crianças nas salas de aula, crianças cuja doçura foi alvo de
bombardeamentos mortais, a esperança de uma geração inteira destruída ante
nossos olhos, a coragem dos pais que mandaram todos os filhos para defender o
nosso país, a tristeza profunda das famílias cujos lares foram destruídos e
agora vagam, dispersadas, como refugiados.
Minha delegação e eu trazemos a
esperança da nossa nação para os anos vindouros – o direito de cada criança de
novamente ir em segurança à escola, o direito da mulher de sair de casa sem
medo de ser sequestrada, violentada ou morta; o sonho da nossa juventude de
realizar seu vasto potencial; esperança de que a segurança volte a existir, os
homens sabendo que podem deixar em segurança a família, certa de que o pai
voltará vivo para casa no fim do dia.
Afinal, hoje é a hora da verdade
que tantos tentaram sistematicamente enterrar por baixo de campanhas de
desinformação, de mentiras e de intrigas, que levaram às matanças e ao terror.
Essa verdade que não se deixa enterrar, apresenta-se aqui claramente para que
todos a vejam. Somos representantes da República Árabe Síria. Representamos o
povo sírio, o estado sírio, o governo da Síria, o estado, o exército da Síria e
o presidente da Síria, Bashar al-Assad.
Senhoras e Senhores,
é deplorável que aqui nessa sala,
conosco, estejam representantes de países que têm as mãos marcadas com sangue
sírio, países que exportaram o terrorismo – além do perdão para os terroristas
que perpetram atos de terror – como se Deus lhes tivesse dado o direito de
decidir quem vai para o céu e quem vai para o inferno. Países que impediram
crentes fiéis de visitarem seus templos de culto. Países que financiam e apoiam
terroristas.
Países que se auto-outorgaram,
eles mesmos, a autoridade para conceder ou negar a outros qualquer
legitimidade, do modo como melhor lhes conviesse, sem olhar os próprios velhos
telhados de vidro, antes de se porem a jogar pedras contra torres fortificadas.
Países que desavergonhadamente se
apresentam para nos ensinar o que é a democracia em progresso e em
desenvolvimento, ao mesmo tempo em que, em suas próprias terras, chafurdam na
ignorância e em suas regras e normas medievais retrógradas.
Países que se acostumaram a ser
possuídos, mandados, por reis e príncipes com o direito soberano de distribuir
a riqueza nacional só entre seus parentes e sócios, negando qualquer direito
aos que não se deixem prender na rede de favores oficiais.
E esses países quiseram ensinar à
Síria, estado virtuoso e soberano, o que aqueles países suponham que seja a
honra. E enquanto eles mesmos submergem na lama da escravidão, do infanticídio
e de outras práticas medievais. Depois de todos seus esforços e fracassos
subsequentes, as máscaras caíram-lhes da cara, e deixaram ver suas ambições
perversas: queriam desestabilizar e destruir a Síria, pela exportação do
principal produto que exportam: o terrorismo. Usaram seus petrodólares para
comprar armas, recrutar mercenários e para saturar o ar com notícias que
encobrissem a própria brutalidade insensata deles.
Mentiram e disfarçaram as suas
próprias mentiras sob o slogan de que a “revolução” deles seria “Revolução
Síria que iria satisfazer as aspirações do povo sírio”.
Senhoras e senhores,
Como poderia alguém supor que o
que aconteceu e continua a acontecer e a atormentar a Síria satisfaria algum
dia alguma aspiração do povo sírio?!
Como poderia alguém supor que
terroristas chechenos, afegãos, sauditas, turcos ou, mesmo, franceses ou ingleses,
satisfariam algum dia alguma aspiração do povo sírio? E para oferecer o quê, ao
povo sírio? Um estado islamista que se orienta pelo mais pervertido wahhabismo?
E quem algum dia disse a eles que o povo sírio teria alguma aspiração a
regredir muitos mil anos, de volta ao atraso, rumo ao passado? (...)
Mas, em nome dessa
“revolução” deles, crianças são mortas nas escolas; estudantes, nas
universidades; mulheres são ofendidas e extorquidas nessa “jihad al-nikah” e
por outras formas, mesquitas são bombardeadas nos momentos em que estão mais
cheias de fiéis que fazem suas orações, queimam-se pessoas vivas, num
verdadeiro holocausto que muitos países negarão, sem serem acusados de
preconceito contra judeus.
Em nome de uma revolução “para
salvar o povo oprimido da Síria do seu regime e para difundir a democracia”,
iria um chefe de família fazer explodir a si mesmo, sua mulher e seus filhos
para impedir que intrusos estrangeiros entrassem em suas casas? A maioria de
nós nessa sala somos pais. Pergunto-lhes então: o que compeliria um homem a
matar a própria família para protegê-la desses monstros terroristas, chamados
“combatentes da liberdade”? E isso, precisamente, aconteceu em Adra, lugar do
qual a maioria dos senhores nunca ouviram falar, mas onde esses mesmos monstros
estrangeiros foram ao ataque: mataram, saquearam, decapitaram, massacraram e
incendiaram pessoas vivas. Certamente os senhores nada ouviram a respeito dessa
brutalidade. Mas podem ter ouvido de outras localidades onde o mesmo tipo de
crimes atrozes foram cometidos pelos terroristas, que agora apontam os dedos
ainda ensanguentados contra o Exército Sírio e o governo. Foi só depois de
essas mentiras flagrantes já não obterem nenhum crédito, que eles pararam de
construir essa sua teia de impostura, mentiras, enganações.
Os terroristas fizeram o que seus
patrões os mandaram fazer, esses países que lançaram a guerra contra a Síria,
tentando aumentar sua influência na região com subornos e dinheiro, exportando
monstros humanos completamente embriagados da abominável ideologia wahhabista e
ao preço do sangue da Síria.
Desta tribuna, digo em voz alta e
claramente que os senhores, como eu, sabemos que eles não pararão depois da
Síria, ainda que alguns nessa sala recusem-se a aceitar que assim é, porque se
consideram, eles mesmos, imunes.
Senhoras e senhores,
tudo o que até aqui lhes disse
nunca teria acontecido, não seria possível, se os países que têm fronteira
conosco tivessem sido bons vizinhos ao longo desses anos desafiadores.
Infelizmente ficaram muito longe disso; nos atacaram com facas pelas costas,
vindos do norte; como espectadores inertes e silenciosos quanto à verdade,
vindos do oeste; um sul fraco, acostumado a fazer os jogos de outros; ou o
exaurido e esgotado leste, ainda cambaleante por causa das maquinações que
visam também a destruí-lo junto com a Síria.
Realmente, o que se tem é que a
miséria e a destruição que invadiram a Síria e querem fazê-la afundar só foram
possíveis dada a decisão do governo de Erdogan, de convidar e acomodar esses
terroristas criminosos, antes de eles entrarem na Síria. Claro que, já tendo
esquecido de que o feitiço pode, no final, virar-se contra o feiticeiro, o
governo Erdogan já está conhecendo a amargura de colher o que foi plantado.
Porque o terrorismo não reconhece
nenhuma religião. O terrorismo só é leal ao próprio terrorismo. E o governo de
Erdogan, imprudente e temerário, mudou, de política de zero problemas com
vizinhos, para política de zero política exterior, de zero diplomacia, que,
crucialmente, gerou zero credibilidade.
Mas continuou-se pelo mesmo
caminho atroz e falso, acreditando-se que os sonhos de Sayyid Qutb e, antes
dele, de Mohammad Abdel Wahab, estariam, afinal, se realizando. Causaram
estragos, pilharam e saquearam. Partindo da Tunísia, até a Líbia, o Egito e a
Síria, determinados a realizar uma ilusão só existente em suas mentes. Agora,
apesar de ter-se comprovado que isso levaria ao fracasso, continuam
determinados a perseguir o sonho.
Não se entende isso tudo, em
termos lógicos, se não como estupidez, porque, se não se aprende pela história,
perde-se a capacidade de compreender o presente. A história ensina que, se a
casa do seu vizinho estiver em fogo, você está em perigo e não conseguirá
manter-se ao abrigo, fora de perigo.
Alguns vizinhos começaram a
incendiar a Síria, enquanto outros recrutavam terroristas ao redor do globo.
Nisso, somos confrontados com uma chocante farsa de padrões dúbios e duplos.
Em luta, dentro da Síria, há
agentes armados de 83 nacionalidades. Ninguém denuncia essa aberração,
praticamente ninguém a condena, praticamente ninguém dá sinais de qualquer
interesse em reconsiderar as próprias posições iniciais. E a isso chamam ainda,
impertinentemente, de Revolução Síria! Porém, quando uns poucos jovens da
frente de combate da Resistência passaram a apoiar o Exército Sírio, em algumas
poucas localidades, então... foi como se as portas do inferno se abrissem de
par a par. Isso, e a ajuda ao governo oficial, foi visto como intervenção
estrangeira!
Exigiu-se em seguida a saída de
tropas estrangeiras, a proteção da soberania da Síria, que não pode ser
violada.
Aqui, senhores, declaro que a
Síria – estado soberano e independente – vai continuar a fazer o que for
necessário para defender-se, com quaisquer meios que conclua e decida que sejam
necessários, sem dar nenhuma atenção a tumultos, denúncias, enunciados ou
posições expressas por partes não qualificadas para manifestar-se. São decisões
soberanas, como outras foram e outras serão, decisões soberanas que cabe à
Síria tomar e que a Síria tomará.
Apesar de todas as dificuldades,
o povo sírio continuou firme. Vieram então as sanções alimentares, cortaram a
comida dos sírios, o pão e o leite das nossas crianças. A população está à
míngua, há doença e morte, por causa da injustiça dessas sanções. Ao mesmo
tempo fábricas, pilham-se e incendeiam-se fábricas, pilhagens e incêndios que
agridem, principalmente as fábricas de alimento e de remédios; hospitais e
centros de saúde são destruídos; linhas ferroviárias e de eletricidade são
sabotadas em toda a Síria; e nem os nossos templos religiosos – dos cristãos e
os islâmicos – salvam-se da fúria terrorista.
Quando tudo aquilo fracassou, os
EUA então ameaçaram bombardear a Síria.
Fabricaram, com os seus aliados
ocidentais e árabes, aquela história do uso de armas químicas, história com a
qual não conseguiram convencer sequer o seu público interno; muito menos, é
claro, convenceram o público sírio.
Países que tanto celebram a
democracia, a liberdade e os direitos humanos, só falam, de fato, a linguagem
da violência bruta, do sangue, da guerra, do colonialismo e da dominação.
Democracia, mas imposta sob fogo;
liberdade, mas imposta com aviões de guerra; direitos humanos, implantados
mediante massacres e matanças; porque estão habituados a viver num mundo que
obedece suas ordens e atente seus desejos: se querem, a coisa acontece; se não
querem, não acontecerá.
Assim, rapidamente esqueceram que
os criminosos que atacaram em New York repetem e obedecem a
mesma doutrina e vêm da mesma fonte, que os criminosos que agora se
autoexplodem na Síria. Temerária, descuidadamente, esquecem que se trata do
mesmo tipo de terroristas que ontem estavam ativos nos Estados Unidos; e que
hoje estão ativos na Síria. Quem pode saber onde estarão ativos amanhã?
Absolutamente certo, porém, é que
nada disso termina aqui. O Afeganistão seria boa lição para quem quisesse
aprender – qualquer um! Infelizmente, a maioria não quer aprender; nem os Estados
Unidos, nem nenhum dos países ocidentais ditos “civilizados” que seguem a mesma
orientação, a começar por Paris, “Cidade Luz”, e indo até o reino inglês, onde
“o sol jamais de põe” – ninguém aprendeu do passado. Apesar de todos esses
países conhecerem o gosto amargo do terrorismo.
Depois então, na sequência,
converteram-se todos em “Amigos da Síria.” Quatro desses “amigos” são
autocráticos, monarquias opressivas que nada sabem de estado civil ou de
democracia; e os demais são os mesmos poderes coloniais que ocuparam, pilharam,
e dividiram a Síria, há menos de cem anos passados.
Esses chamados “amigos” agora se
põem a convocar “conferências” para, publicamente, declarar sua amizade com o
povo da Síria. Ao mesmo tempo, encobertamente continuam a agir para aumentar as
privações pelas quais passa o povo sírio e destruindo nossos meios de vida.
Esses chamados “amigos” abertamente se declaram escandalizados com a difícil
situação humanitária dos sírios; ao mesmo tempo, cuidam de enganar a comunidade
internacional, ocultando todas as pegadas da cumplicidade daqueles “amigos”, no
que acontece de ruim à Síria.
Se estivessem realmente
preocupados com a situação humanitária da Síria, bastaria que removessem as
sanções e os embargos, que são os nós que estrangulam a economia síria; e se
associariam ao governo sírio, na luta contra o influxo de armas e de
terroristas. Façam isso, e podemos garantir que voltaremos a viver tão bem como
vivíamos antes, e aqueles “amigos” ficarão livres de tantas e tão profundas
preocupações com o nosso bem-estar.
Alguns dos senhores talvez se
estejam perguntando: todos os fabricantes do que hoje se passa na Síria são
estrangeiros? Não, senhoras e senhores.
Os sírios que temos aqui entre
nós, depois de terem sido pseudo-legitimados por agendas estrangeiras, tiveram
importante papel como facilitadores e realizadores do que hoje se vê na Síria.
O que fizeram foi feito à custa de sangue sírio e de aspirações do povo que
dizem representar. Eles mesmos divergiram entre eles, dividiram-se inúmeras
vezes entre eles; e, no campo de batalha, os “líderes” deles dispersaram-se, em
fuga. Venderam-se a Israel, transformando-se, aqueles sírios, em olhos e
gatilhos israelenses, para destruir a Síria. Quando afinal aqueles prepostos
falharam, Israel então interveio diretamente para reduzir a capacidade do
Exército da Síria; assim Israel tentava garantir a continuada realização de
seus planos, já preparados há décadas, contra a Síria.
Enquanto o povo sírio estava
sendo massacrado, aqueles sírios exilados viviam em hotéis de luxo. Toda a
“oposição” que fizeram ao governo sírio sempre foi feita de bem longe, de terra
estrangeira. Ali se reuniram para trair a Síria e vender, por bom preço, a
estrangeiros as mais mirabolantes ideias e propostas. Ainda agora repetem que
falariam em nome do povo da Síria!
Não, senhoras e senhores. Quem
quiser falar em nome do povo da Síria que cuide, antes, de não trair a causa do
povo da Síria e de não se pôr a serviço dos inimigos da Síria. Os que queiram
falar em nome do povo da Síria que falem de dentro das fronteiras da Síria, em
solo sírio, morando nas casas sírias destruídas; tendo de mandar os filhos à
escola, de manhã, sem saber se voltarão salvos à tarde, sobreviventes dos
tiroteios e dos ataques de morteiros. Os que queiram falar em nome do povo da
Síria que venham enfrentar o inverno congelante (porque não há combustível para
aquecimento), horas e horas nas filas para comprar pão (porque as sanções
impedem a compra do trigo e cereais, que a Síria sempre exportou; até que
agora, por causa das sanções, praticamente já não se encontram).
Quem queira falar em nome da
Síria e de seu povo teria, antes, de ter enfrentado três anos de luta contra o
terrorismo, cara-a-cara, como nós fizemos. Sem isso, não, senhores, não. Eles
não falam em nome do povo sírio.
Senhoras e senhores,
a República Árabe Síria – como
povo e como estado, cumpriu seus deveres.
A Síria deu as boas vindas a
centenas de jornalistas internacionais facilitando sua mobilidade, segurança e
acesso. Eles por seu turno espelharam a horrífica realidade, que testemunharam,
para suas audiências, realidades que deixaram muitos da mídia organizada do
ocidente perplexos... por não mais poderem manter sua propaganda e por verem
suas narrativas expostas e desmentidas. Os exemplos são muitos para serem
contados. Nós permitimos a ajuda internacional e que organizações de ajuda e
socorro entrassem no país. Mas agentes clandestinos de certas partes presentes
aqui nessa sala impediram que a ajuda chegasse aos que mais horrível e
fatalmente tinham carência dela. Essa ajuda foi muitas vezes detonada em
ataques terroristas. Nós, como estado e governo, cumprimos nosso dever de
proteger os agrupamentos de socorro e de facilitar seu trabalho.
Anunciamos várias anistias e
libertamos milhares de prisioneiros, alguns dos quais, até, membros de grupos
armados e, isso, apesar de termos de enfrentar a ira e a consternação dos
familiares das vítimas deles. Mas aquelas famílias, como nós, tivermos de
aceitar que os interesses da Síria têm prioridade sobre tudo, aqui; e ocultamos
nossos sofrimentos e nos erguemos acima do rancor e do ódio.
E o que fizeram vocês, que dizem
falar em nome do povo sírio? Que visão têm a oferecer para esse grande país?
Onde estão suas ideias? Onde está seu manifesto político? Quais os seus agentes
de mudança em solo – que não sejam só as gangues de bandidos armados? Não tenho
dúvida de que vocês não têm o que teriam de ter. E isso está muito claramente
visível nas áreas ocupadas pelos mercenários de vocês, aquelas, que vocês
chamam de “áreas libertadas”...
Libertaram o quê? Libertaram
aquelas populações da cultura moderada em que viviam antes, para enforcá-las em
suas práticas radicais e opressivas? Construíram alguma escola? Algum centro de
saúde? Não. Vocês destruíram escolas e centros de saúde. Deixaram que a
poliomielite, que já havia sido erradicada na Síria, voltasse ao país.
Vocês protegeram museus e peças
culturais e de arte? Não. Vocês saquearam o patrimônio nacional sírio, com
lucros pessoais, para vocês. Vocês mostraram qualquer compromisso com a justiça
e os direitos humanos? Não, vocês encenaram execuções públicas e decapitações.
O que fizeram, e é desgraça e vergonha, foi suplicar aos EUA que bombardeassem
a Síria.
Nem a oposição, da qual vocês são
autodesignados senhores e guardiões, os reconhece. Como tampouco reconhece os
métodos de que vocês servem-se para manejar seus próprios interesses, nunca nem
os negócios nem os interesses da Síria.
E eles pretendem homogeneizar o
país; não é, sequer, em algum sentido sectário, étnico ou religioso, mas num sentido apenas
ideológico deformado. Quem for contra eles, sejam esses cristãos ou muçulmanos,
será visto como infiel. Eles já mataram muçulmanos de todas as seitas, e também
tomaram como seus alvos mortais cristãos sírios; e outros foram tratados com
muita severidade. Mesmo freiras e bispos foram convertidos em alvos deles. E
foram sequestrados, quando do ataque a Maloula, a última comunidade no mundo
que ainda fala a língua de Jesus Cristo. Esses “salvadores” da Síria fizeram o
que fizeram em Maloula, para que os cristãos fugissem da Síria.
De fato, nem sabiam que nós, na
Síria, somos uma unidade. Quando a cristandade é atacada, todos os sírios se
transformam em cristãos. Quando as mesquitas são atacadas, todos os sírios se
transformam em muçulmanos. Todo e cada sírio é de Raqqa, Lattakia, Sweida,
Horns, ou da ensanguentada Allepo, quando qualquer um desses lugares é atacado.
As odiosas tentativas para semear
o sectarismo e a guerra religiosa jamais serão aceitas pela população comum da
Síria.
Em resumo senhoras e senhores,
essa dita “gloriosa revolução”, cometeu todos, e não deixou de cometer um,
sequer, dos pecados mortais.
Há ainda um outro lado desse
triste panorama. A luz no fundo do túnel ainda brilha, por causa da
determinação e da firmeza do povo sírio e da coragem do Exército Sírio, que
protege e sempre protegerá os cidadãos sírios. E da resistência elástica, e
perseverante, do governo sírio.
Durante tudo o que aconteceu,
houve países que nos demonstraram real amizade. Países honestos que estiveram
ao lado do certo contra o errado, mesmo quando, em todo o horizonte, só se via
o lado errado.
Em nome do povo sírio e da Síria,
como estado, agradeço à Rússia e à China, por terem respeitado a soberania e a
independência da Síria.
A Rússia tem sido real campeão
dos povos no palco internacional, defendendo consistentemente mediante ações,
não só com palavras, os princípios fundamentais das Nações Unidas, que respeita
e exige respeito à soberania das nações.
Assim também a China, os países
do grupo BRICS, o Irã, o Iraque e outros países árabes e muçulmanos, além de
países africanos e sul-americanos, que também salvaguardaram, genuinamente, as
aspirações do povo sírio, e não as ambições de outros governos de olhos postos
na Síria, como presa.
Sim senhoras e senhores,
o povo sírio, como outros povos
da região, deseja ardentemente mais liberdade, justiça e direitos humanos; eles
desejam ardentemente mais pluralidade e democracia, querem uma Síria melhor, mais
segura e fora de perigo, em prosperidade e em saúde. Desejam ardentemente
construir de instituições firmes, não a destruição de todas as instituições
firmes; aspiram a proteger nossos bens, nosso patrimônio, nossa arte; não o
saqueio e a demolição de tudo que a Síria tem. Eles desejam um exército
nacional capaz, que assegure e proteja nossa honra, nosso povo e a riqueza
nacional, um exército que defenda as fronteiras sírias, sua soberania e a sua
independência. O povo sírio não quer, senhoras e senhores, um exército de
mercenários.
Não queremos exército “livre”
para sequestrar civis, ou para cobrar resgate ou para usá-los como escudos
humanos; “livre” para roubar a ajuda humanitária, para extorquir os sírios
pobres; “livre” para comerciar ilegalmente órgãos humanos, arrancados de
mulheres e crianças vivas; “livre” para canibalizar corações e fígados humanos,
para assar cabeças humanas, para recrutar e armar crianças-soldados e para
violar mulheres. Tudo isso é feito pela força das armas. Armas essas a eles
entregues por países representados nessa Conferência e que dizem representar
“grupos moderados”.
Antes nos digam, em nome de Deus,
onde estava essa moderação, quando acontecia tudo que aqui lhes relato?
Onde estão esses sombrios grupos
moderados, atrás dos quais tantos tentam esconder-se? Serão esses os mesmos
velhos grupos que continuam a ser apoiados, militar e publicamente pelo
ocidente, que hoje se submetem às mais patéticas tentativas de face-lift [cirurgia
plástica, para rejuvenescimento facial], na esperança de nos convencer de que
estariam lutando contra o terrorismo?
Todos nós sabemos que não importa
o quanto suas máquinas de propaganda tentem envernizar as imagens deles, o
extremismo, o terrorismo, continuam inalterados, por baixo das novas fachadas.
Eles sabem, como nós todos
sabemos, que sob o pretexto de apoiar esses grupos ditos “moderados”, a
al-Qaeda e seus afiliados estão sendo armados na Síria, no Iraque e em outros
países da região.
Essa é a realidade, senhoras e
senhores.
É tempo de acordar para a
incontestável realidade de que o ocidente está apoiando alguns países árabes
para que forneçam armas mortais para a al-Qaeda.
O ocidente afirma publicamente
que combate o terrorismo, enquanto, de fato, ocultamente, o está alimentando.
Quem não vir isso está cego, ou pela ignorância, ou pela ânsia de acabar o que
começaram.
É essa a Síria que queremos ter?
Milhares de mártires e a perda de nossa antes estimada segurança pessoal e
nacional, que foi substituída por devastação apocalíptica? Seria esse o desejo
do povo sírio, que eles tentam concretizar? Não, senhoras e senhores. O que
hoje se vê na Síria não prosseguirá. E é por isso que estamos aqui.
Apesar de tudo o que foi feito
por alguns, nós estamos aqui para salvar o país; para terminar com as
decapitações, para impedir a canibalização e a carnificina. Viemos ajudar mães
e crianças a retornarem às suas casas, das quais foram afugentadas pelos
terroristas. Estamos aqui para proteger os civis e o caráter aberto do estado
sírio, da Síria, e para impedir o avanço sistemática de terroristas vindos de
outros países, por toda a nossa região.
Estamos aqui para impedir o
colapso de todo o Oriente Médio. Para proteger sua civilização, cultura e
diversidade, e para preservar o diálogo das civilizações no berço das
religiões.
Viemos para proteger a tolerância
islâmica, que foi deformada, e para proteger os cristãos do Levante.
Estamos aqui para dizer aos
exilados que retornem ao seu país, porque se não o fizerem se autocondenarão a
ser eternos estrangeiros em outros lugares. E porque, independente das nossas
diferenças, ainda continuamos a ser irmãos e irmãs.
Estamos aqui para pôr fim ao
terrorismo, como outros países que conheceram o seu gosto amargo e puseram-lhe
fim.
Afirmamos, alto e consistentemente,
que a única solução é um diálogo entre sírios. Mas, assim como outros países
também assaltados pelo terrorismo, temos o dever constitucional de defender
nossos cidadãos. Por isso continuaremos a combater o terrorismo que ataca
sírios, digam os terroristas o que disserem sobre suas afiliações políticas.
Aqui estamos para exigir
responsabilidades, porque se certos países continuarem a apoiar o terrorismo,
essa conferência não trará frutos.
Pluralismo político e terrorismo
não poderão jamais coexistir. A política só consegue avançar, se derrota o
terrorismo; nada se poderá jamais construir à sombra do terrorismo e de
terroristas.
Estamos aqui como representantes
do povo e do estado; mas que fique bem claro, para todos – a experiência é aqui
a melhor prova: ninguém tem autoridade para dar ou retirar a legitimidade de um
presidente, de um governo, de uma constituição, de uma lei, ou de seja o que
for, na Síria, exceto os sírios, eles mesmos. É direito dos sírios, tanto
quanto é seu dever.
Portanto, qualquer que seja o
acordo ao qual se chegue aqui, ele terá de ser submetido a um referendo
nacional na Síria.
Nós temos a tarefa de apresentar
aqui os desejos do nosso povo, não a de determinar o seu destino. Quem tenha
interesse em ouvir a vontade do povo sírio, que não comece por se apresentar
como seus representantes autodesignados. Só os sírios têm o direito de eleger
seu governo, seus parlamentares e de aprovar sua constituição. Qualquer outra
ideia será só conversa fiada, que nada determina, se não for aprovada pelos
sírios.
Finalmente, a todos aqui e aos
que nos acompanham ao redor do mundo:
Na Síria, estamos lutando contra
o terrorismo, que destruiu e continua a destruir; contra o terrorismo. Desde os
anos 1980’s muitos clamam a ouvidos surdos, por uma frente ampla que destrua o
terrorismo.
O terrorismo atacou nos Estados
Unidos, na França, na Inglaterra, na Rússia, no Iraque, no Afeganistão, no
Paquistão, e a lista continua a crescer.
Temos de todos cooperar nessa
tarefa. Temos de trabalhar conjuntamente para extinguir aquela ideologia
malévola, horrenda, obscurantista.
Então, que possamos como sírios
estar unidos para nos focar na Síria, para começar a reconstruir o seu tecido e
a sua estrutura social.
Como já ficou dito, o fundamento
desse processo é o diálogo. Apesar de nossa gratidão ao país anfitrião,
afirmamos que o diálogo real entre os sírios deve ser feito, de fato, em solo
da Síria, sob o céu da Síria.
Há exatamente um ano, o governo
sírio propôs a sua visão para uma solução política. Quanto sangue inocente
teria sido poupado, se tantos países tivessem optado pela razão, não pelo de
terrorismo e pela destruição.
Durante um ano, o governo sírio
clamou por um diálogo. E só o terrorismo respondeu, e continuou a atacar a
Síria, seu povo e suas instituições.
Hoje, nesse encontro de poderes
árabes e ocidentais, estamos frente a uma simples escolha; podemos escolher
lutar juntos contra o terrorismo e começar um novo processo político. Ou tantos
continuarão a apoiar que o terrorismo continue a atacar a Síria.
Rejeitemos as mentiras
apresentadas por falsas mãos e faces, que vêm com sorrisos públicos, mas
alimentam e armam, encobertamente, os terroristas. O terrorismo que hoje ataca
na Síria está em expansão e pode vir a infectar todos nós.
Hoje, é o momento da verdade e do
destino. Que estejamos à altura do desafio.
Muito obrigado.
O Ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey
Lavrov saúda Walid al-Moallem ao final deste discurso de 22/1/2014
em Montreux, Suiça
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CASTOR FILHO