Raras vezes, na história da
humanidade, um país se deixou cegar tanto pelo ódio político, pela intolerância
e pela mentira, sendo tão vilipendiado por sua própria elite.
Agora, que as eleições acabaram,
relembre: o Brasil é exemplo global no combate à fome, tem a menor taxa de
desemprego de sua história, uma nova classe média pujante, que adensa um dos
maiores mercados de consumo de massa do mundo, e uma presidente revigorada pela
vitória nas urnas; além disso, está prestes a se tornar um dos grandes
produtores globais de petróleo, não há descontrole inflacionário e os ajustes
necessários na economia são bem menos severos do que se apregoa; por último,
mas não menos importante, o Brasil NÃO é bolivariano!; um bom Dilma a todos;
artigo de Leonardo Attuch, editor-responsável pelo 247
26 DE OUTUBRO DE 2014 ÀS 22:01
Por Leonardo Attuch
O Brasil amanhece, nesta segunda-feira, não muito diferente do que foi
nos últimos dias, semanas e anos de governo Dilma – uma aposta renovada pelo eleitor
brasileiro para os próximos quatro anos. O desemprego continua a ser um dos
mais baixos da história, a inflação não está fora de controle e transformações
estruturais, como o avanço na exploração do pré-sal, continuam em curso.
No entanto, raras vezes, na história da humanidade, um país foi tão
vilipendiado e rebaixado por sua própria elite. Como jamais se viu, uma
sociedade se permitiu cegar pelo ódio político, pela intolerância e pela
mentira. Para citar apenas um caso, o dirigente de uma consultoria financeira
lançou um livro intitulado "O Fim do Brasil", profecia que se
realizaria em caso de reeleição da presidente Dilma. A julgar por seu
catastrofismo, que foi levado a sério por alguns agentes do mercado financeiro,
esta segunda-feira seria o "dia em que a terra parou", como diria
Raul Seixas.
No entanto, basta abrir os olhos – sim, abrir os olhos, após a cegueira e
a histeria das últimas semanas – para enxergar uma realidade bem diferente. O
Brasil fechará o ano com a inflação dentro dos limites da meta pelo décimo ano
consecutivo, com uma dívida interna estável, embora a situação fiscal seja
menos confortável do que no passado, e com uma população que volta a confiar no
futuro – este, um dos dados mais importantes das últimas pesquisas. Quando as
pessoas acreditam que irão manter seus empregos e seu poder de compra, o motor
do consumo e do crédito se mantém ligado e a pleno vapor.
Se há a necessidade de ajustes na economia, eles já são reconhecidos
pelas autoridades, em Brasília. Especialmente em alguns setores, como o do
etanol, que foi prejudicado pela contenção dos preços dos combustíveis e será
beneficiado com a volta da Cide – um importo que tornará o álcool mais
competitivo na bomba. A boa notícia é que os ajustes necessários são bem menos
severos do que se apregoa – 2015, ao contrário do que muitos imaginam, não será
o ano da catástrofe anunciada.
Passadas as eleições, é também a hora de superar antagonismos, divisões e
retomar o diálogo. Em vez de enxergar o copo meio vazio, é hora de encarar a
metade cheia, repleta de avanços. O Brasil é hoje reconhecido pelas Nações
Unidas como exemplo global no combate à fome e às desigualdades sociais. É
também um país montado num caminhão de reservas internacionais, capazes de
amortecer qualquer crise internacional. E que, com sua nova classe média, possui
um dos maiores mercados de consumo do mundo, que irá continuar recebendo
investimentos por muitos e muitos anos.
Se isso não bastasse, o pré-sal, de onde se extraem mais de 500 mil
barris de petróleo/dia, já não é mais uma promessa. É realidade concreta e
palpável. Aliás, se o Brasil foi rebaixado e vilipendiado por sua elite, que
daqui extrai suas fortunas, o que dizer, então, da Petrobras? Relatórios das
agências internacionais de energia, feitos por quem realmente entende do setor,
a apontam como uma das empresas de maior crescimento projetado para os próximos
anos. Depois dos investimentos, virá a colheita. E o Brasil, que viveu agudas
crises no balanço de pagamentos no passado, em razão de sua dependência
energética, tem tudo para se transformar num dos grandes exportadores globais
de petróleo – como já é no setor de alimentos.
Dilma venceu as eleições porque, em algum momento, os eleitores – e não
apenas os supostamente mal-informados, como diria FHC – se deram conta de que a
propaganda negativa não correspondia à realidade. Será mesmo que o Brasil dos
novos aeroportos, das usinas do Rio Madeira e da hidrelétrica de Belo Monte é
mesmo "um cemitério de obras inacabadas"? Aliás, o que aconteceu com
o apagão elétrico previsto no início de 2014? E a Copa do Mundo? Por onde andam
os arautos do #naovaitercopa? Se tiverem bom senso, depois de o Brasil ter
realizado a melhor de todas as Copas – fato que, infelizmente, ficou ausente da
campanha eleitoral – não farão o mesmo discurso terrorista em 2016, ano dos
Jogos Olímpicos.
O Brasil que emerge dessas eleições também tem uma possibilidade única de
enfrentar a corrupção. Depois de tantos escândalos, todos eles associados ao
financiamento privado de campanhas políticas, o País se vê diante da
oportunidade histórica de aprovar a reforma política, tornando as disputas
eleitorais menos dependentes do poder econômico. E a presidente Dilma, sem uma
reeleição pela frente, e reconhecida como honesta por seus próprios
adversários, é a pessoa ideal para levar esse desafio adiante. "Estou
pronta a responder a essa convocação. Sei do poder que cada presidente tem de
liderar as grandes causas populares. E eu o farei", disse ela ontem, em
seu discurso da vitória. Um discurso preciso – e de arrepiar.
Por último, mas não menos importante, há que se dizer com todas as
letras. Apesar de toda a histeria e toda a estridência dos nossos
neoconservadores, o Brasil não é bolivariano. Aliás, o próprio PT é um partido
que, há muitos anos, fez um escolha. Optou pelo caminho democrático – e não
revolucionário. O Brasil é um país capitalista, que respeita a propriedade e os
contratos, e que, neste caminho, promove a inclusão social. Aliás, a aposta na
radicalização interessa apenas a pequenos grupelhos, que se alimentam do
discurso do ódio. A estes, basta dizer que Miami é logo ali. À verdadeira elite
brasileira, comprometida com o País, o que importa é seguir adiante, com mais
igualdade e liberdade.
Como diria Eduardo Campos, não vamos desistir do Brasil. Até porque,
depois de tantas mentiras e ataques, o Brasil ficou barato. É hora de comprar
Brasil!
* Leonardo Attuch é fundador e editor-responsável pelo 247