3 Janeiro,
13:01 6
Foto: RIAo Novosti
Fiodor Dostoievski |
A
Voz da Rússia publica hoje as reflexões do grande clássico da literatura russa,
Fiodor Dostoievski, sobre as relações entre a Rússia e os povos eslavos
vizinhos. A sua atualidade é pertinente.
Fiodor Dostoievski, “Diário de um Escritor”, 1877:
"A Rússia nunca terá, e nunca teve ainda, inimigos tão injuriadores,
tão invejosos, tão caluniadores e até tão declarados como todos esses povos
eslavos, logo após a Rússia os ter libertado e de a Europa ter concordado em
reconhecer a sua libertação! E não contestem, nem gritem comigo que eu exagero
ou que odeio os eslavos!
Depois da libertação, eles começam a sua nova vida, repito, precisamente
a pedir à Europa, Inglaterra e Alemanha, por exemplo, a garantia e a proteção
da sua liberdade, e, embora no concerto das potências europeias esteja também a
Rússia, eles fazem isso precisamente para se defenderem da Rússia.
Começam obrigatoriamente por dizer para consigo mesmos, ou até mesmo em
voz alta, que não devem o mínimo agradecimento à Rússia. Pelo contrário, dizem
que dificilmente se salvaram das ambições da Rússia.
Talvez durante um século, ou mais, eles irão tremer constantemente pela
sua liberdade e temer as ambições da Rússia; eles irão procurar as boas graças
dos Estados europeus, irão caluniar a Rússia, contar mexericos sobre ela e
intrigar contra ela.
Será particularmente agradável para os eslavos libertados dizer e gritar
ao mundo que eles são povos cultos, capazes de assimilar a mais alta cultura
europeia, enquanto que a Rússia é um país bárbaro, um colosso nórdico sombrio,
que nem sequer tem sangue eslavo puro, perseguidor e que odeia a civilização
europeia. Claro que entre eles aparecerão, desde o início, regimes
constitucionais, parlamentos, ministros responsáveis, oradores, discursos. Isso
irá consolá-los e deleitá-los.
Todavia, quando chega alguma desgraça séria, eles pedem obrigatoriamente
ajuda à Rússia. Eles irão de alguma forma odiar, queixar-se e caluniar-nos
junto da Europa, mas sentirão sempre instintivamente (claro que quando chegar
alguma desgraça, e não antes) que a Europa é o inimigo natural da sua unidade,
foi e será sempre, mas se eles existem na terra, é porque existe um enorme imã:
a Rússia, que, atraindo-os irreversivelmente a todos para si, mantém a sua
integridade e unidade. Chegará até o momento em que eles estarão quase num
estado de já concordar conscientemente que, sem a Rússia, o grande centro
oriental e grande força atratora, a sua unidade ruirá num momento, será
desfeita em pedaços e até a sua própria nacionalidade desaparecerá no oceano
europeu, como desaparecem algumas gotas separadas de água no mar.
Claro que, hoje, se coloca a questão: qual é então o proveito da Rússia,
por que é que ela lutou por eles durante 100 anos, sacrificou o seu próprio
sangue, as suas forças, o seu dinheiro? Terá sido apenas para
colher ingratidão e um ridículo ódio insignificante?"