quarta-feira, 18 de junho de 2014

Personalidades reagem, lançam carta e montam comitê para desvendar Mensalão



Do Escrevinhador
18 de junho de 2014

Cerca de 300 intelectuais, artistas e lideranças políticas e dos movimentos sociais lançaram manifesto que critica a conduta do presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, à frente da execução penal dos réus da AP 470, nesta segunda-feira (16/6).

A manutenção por sete meses em regime fechado dos condenados ao regime semi-aberto no processo do mensalão sensibilizou lideranças, que criaram o Comitê por Democracia, Justiça e Solidariedade.

A iniciativa partiu de um grupo que articulou o presidente da nacional da CUT, Vagner Freitas; o coordenador do MST, João Pedro Stedile, o presidente Nacional do PT, Rui Falcão; o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo; a dirigente do PT, Misa Boito; o ativista dos direitos humanos, Aton Fon Filho; o dirigente da Consulta Popular, Ricardo Gebrim; o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh e o jornalista Celso Horta, entre outras personalidades.

A construção da carta pública teve apelo até no meio artístico, com a adesão dos atores Chico Diaz, Débora Duboc, Hugo Carvana, Osmar Prado, Sergio Mamberti, Tuca Moraes e Zé de Abreu.

A primeira iniciativa foi construir esse manifesto, que denuncia o desrespeito aos direitos dos presos na AP-470 (leia abaixo). O documento questiona Barbosa e cobra que os presos fiquem detidos no regime pelo qual foram condenados.

“O Presidente do Supremo Tribunal Federal, ao invés de cumprir as decisões dessa Suprema Corte, nega direitos a alguns sentenciados, desrespeitando a decisão do próprio pleno do STF e a jurisprudência do STJ quanto ao cumprimento do regime semiaberto”, expressa o apelo público.




O grupo cresceu com a articulação do apelo e pretende promover atividades públicas para denunciar as arbitrariedades do julgamento do mensalão e da execução das penas por todo o país.

De acordo com Misa Boito, dirigente do PT, o apelo é importante porque reúne várias entidades, movimentos, partidos, parlamentares, juristas, intelectuais e artistas. “São setores e personalidades que se colocam no campo da defesa da democracia que vem sendo colocada em questão com essas arbitrariedades. A lista de adesão mostra a amplitude”, afirma.

Na próxima quarta-feira (18), a carta será levada e protocolada no gabinete de todos os ministros do Supremo por um grupo representante dos signatários.

“Queremos começar a chamar mais a atenção para toda essa situação aberta com a Ação Penal 470 que, se nesse momento atinge os que foram condenados, é na verdade um perigoso precedente para o conjunto do movimento social e para a democracia no Brasil”, avalia Misa.

O comitê pretende continuar as reuniões e realizar atividades de sensibilização da sociedade diante das irregularidades no processo de execução penal.

“O comitê pretende esclarecer o que realmente foi a Ação Penal 470, num certo sentido, desconstruir o que nós consideramos um julgamento injusto e de exceção”, projeta Misa.



Abaixo, leia o apelo público na íntegra:

APELO PÚBLICO AO STF, EM DEFESA DA JUSTIÇA E DO ESTADO DE DIREITO

Senhores ministros,

O Brasil assiste perplexo à escalada de arbitrariedades cometidas pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa.

Já não se trata de contestar o resultado do julgamento da chamada AP 470 – embora muitos de nossos pátrios juristas ainda discutam inovações polêmicas daquele julgamento, como a chamada “teoria do domínio do fato”, por substituir a presunção de inocência pela presunção de culpabilidade.

O Presidente do Supremo Tribunal Federal, ao invés de cumprir as decisões dessa Suprema Corte, nega direitos a alguns sentenciados, desrespeitando a decisão do próprio pleno do STF e a jurisprudência do STJ quanto ao cumprimento do regime semiaberto. Com isso ameaça levar ao caos o sistema prisional brasileiro, pois, aceito o precedente, cria-se jurisprudência não somente em desfavor dos presos e sentenciados, mas contrária ao espírito democrático que rege as leis de execução penal, inclusive.

É o caso de sua exigência de cumprimento em regime fechado de um sexto da pena de réus condenados a uma sanção a ser iniciada no regime semiaberto. Adotada, à revelia de entendimento do pleno desse Supremo Tribunal Federal, tendo como alvo os sentenciados, todos ao regime semiaberto, inclusive Delúbio Soares, João Paulo Cunha, José Dirceu de Oliveira e Silva e José Genoíno, levará angustia e desespero não somente a eles e seus familiares, mas a dezenas de milhares de famílias de sentenciados que cumprem penas em regime semiaberto, trabalhando para sustentar suas mães, esposas e filhos.

É preciso que o plenário do Supremo Tribunal Federal impeça a continuidade dessa agressão ao Estado de Direito Democrático.

Concitamos, portanto, os Senhores Ministros integrantes dessa Corte Constitucional de Justiça a que revejam e corrijam tal violação de direitos praticada pelo Exmo. Sr. Presidente do STF, acatando o agravo impetrado pelos advogados dos réus.

O desrespeito aos direitos de um único cidadão coloca em risco o direito de todos, e o Brasil já sofreu demais nas mãos de quem ditava leis e atos institucionais, atacando os mais elementares direitos democráticos.