2/5/2014, [*] Paul Craig Roberts – Institute for Political Economy
SEGUNDA-FEIRA, 5 DE MAIO DE 2014
Traduzido por Mberublue
Não é intenção de Washington permitir que
seja resolvida a crise na Ucrânia. Washington vê novas oportunidades na crise
após falhar na tentativa de assumir o país e expulsar a Rússia de suas bases
navais no Mar Negro.
Uma delas é
forçar o recomeço da Guerra Fria forçando a Rússia a ocupar as áreas onde
predominam os cidadãos russos ou de língua russa atualmente na Ucrânia, onde os
manifestantes se levantam contra o governo de palhaços anti russos instalado em
Kiev pelo golpe americano. Essas mesmas áreas formavam parte do território
russo antigamente. Foram acrescentadas à Ucrânia pelos líderes soviéticos no
século 20 quando Rússia e Ucrânia faziam parte do mesmo país, a URSS.
Essencialmente,
foram estabelecidos governos independentes nas cidades pelos manifestantes.
Unidades policiais e militares enviadas para suprimir as manifestações,
chamadas de “terroristas” pela mídia presstituta (orig.presstitute NT) no
ocidente acabaram em sua maior parte desertando para o lado dos manifestantes.
Com a tomada da
Ucrânia falhando pela incompetência do Departamento de Estado e da Casa Branca
de Obama, Washington agora trabalha para jogar a culpa de todos os problemas
sobre a Rússia. Não há sinceridade na afirmação de Washington e sua mídia presstituta
(como a imprensa-empresa do Brasil em geral [Nrc]) de que os
protestos teriam sido organizados pelo governo russo. Caso a Rússia tivesse
mesmo enviado algumas unidades militares para a proteção de cidadãos russos nos
antigos territórios russos, este ato seria usado por Washington para confirmar
a tese da propaganda dos EUA sobre uma invasão russa (como aconteceu na
Geórgia) e a Rússia seria demonizada ao infinito.
O governo russo
está em uma situação difícil. Moscou não quer se responsabilizar
financeiramente por estas áreas, mas não pode simplesmente olhar para o lado
enquanto russos são reprimidos pela força. O governo russo tenta manter a
unidade ucraniana confiando nas próximas eleições, o que talvez resulte na
composição de um gabinete de líderes mais realistas que os malucos instalados
por Washington.
No entanto
Washington não quer uma eleição que possa colocar outros líderes em
substituição aos malucos no poder em Kiev e que possam retornar à cooperação
com a Rússia e uma forma de resolver a situação. Washington tem, neste
instante, uma boa oportunidade de dizer aos idiotas no poder em Kiev que a
crise infligida à Ucrânia pela Rússia impede a realização de eleições. Os
Estados Europeus, fantoches da OTAN e de Washington certamente apoiariam a
alegação.
É quase certo
que, apesar das esperanças do governo russo, este terá que encarar tanto a
continuação da crise quanto as marionetes instaladas por Washington no governo
da Ucrânia.
Alexander Vershbow |
Em 1º de maio, o
antigo embaixador de Washington na Rússia e agora o segundo em comando na OTAN,
porém a pessoa que na realidade dá as cartas, por ser americano, declarou que a
Rússia não mais é um parceiro e sim um inimigo. O americano, Alexander Vershbow
disse a jornalistas que:
(...) a
OTAN desistiu de uma “aproximação com Moscou” e brevemente estará enviando um
grande número de forças de combate para a Europa Oriental. Vershbow chama a
implantação dessa política agressiva de “fundamentos defensivos para a região.
Em outras
palavras, temos mais uma vez a mentira de que o governo russo desprezará as
próprias dificuldades na Ucrânia e ainda por cima lançará ataques contra a
Polônia, os Estados Bálticos, Romênia, Moldávia e contra os Estados da Ásia Central,
a Geórgia, Armênia e Azerbaijão. Vershbow, que é desprezível, quer modernizar
os exércitos desses Estados-fantoches da América e “aproveitar a ocasião para
criar uma situação real onde possa acontecer a aceitação de outros países
membros ou aspirantes à OTAN”.
O ele quer é que
o governo russo continue confiando na boa vontade e razoabilidade ocidental,
enquanto monta uma força grande o suficiente para impedir que a Rússia possa
socorrer seus cidadãos eventualmente oprimidos na Ucrânia.
A demonização da
Rússia pelos EUA está funcionando. Este fator a fará hesitante no breve período
em que poderia se antecipar a nós (EUA) para retomar seus antigos territórios.
Mas esperando, a Rússia dá tempo a Washington para juntar forças nas
fronteiras, desde o Mar Báltico até a Ásia Central. Isso deixará atenção russa
presa à Ucrânia.
Vladimir Putin |
A opressão que
os EUA infligem aos cidadãos russos na Ucrânia desacreditará a Rússia; e as
ONGs que financiamos na Federação Russa apelarão aos sentimentos nacionalistas
do povo, derrubando o governo (de Putin) por falhar em socorrer cidadãos russos
e em proteger os interesses estratégicos da Rússia.
Washington está
lambendo os beiços ao ver essa oportunidade de transformar a Rússia em um
Estado títere. Como pode Putin sentar-se com suas esperanças a tiracolo
esperando a bondade do ocidente para trabalhar em uma solução enquanto
Washington tenta engendrar sua queda?
Está ficando
curto o tempo para que a Rússia faça alguma coisa para ou acabar com a crise ou
aceitar uma crise interminável se desenrolando no seu próprio quintal.
Kiev lançou
ataques aéreos contra os manifestantes em Slaviansk. Em 02 de março o porta voz
do governo russo, Dmitry Peskov afirmou que o fato de ter Kiev apelado para
recursos violentos destruiu as chances de aplicação do acordo de Genebra para
desescalar a crise. Mesmo assim, expressou novamente a esperança do governo
russo de que governantes europeus e Washington possam parar com os ataques
militares e pressionar o governo em Kiev para de alguma forma acalmar os
manifestantes, mantendo a Ucrânia unida e restaurando relações amigáveis com a
Rússia.
É uma falsa
esperança.
Essa esperança
pressupõe que a “Doutrina Wolfowitz” sejam
só palavras, mas não são.
A “Doutrina
Wolfowitz” é a base da política dos Estados Unidos frente à Rússia (e a China).
Paul Wolfowitz |
Qualquer poder
que possibilite a qualquer país manter-se independente da influência de
Washington é um poder “hostil”, diz a doutrina. A doutrina especifica:
(...) nosso
primeiro objetivo é prevenir que não aconteça a ressurgimento de um novo rival,
seja no território da antiga URSS ou em qualquer outro, que possa representar o
que foi antigamente a União Soviética. Esta é uma consideração dominante na
nova estratégia de defesa regional, a qual exige que nos esforcemos para evitar
a possibilidade de que um poder hostil possa dominar uma região e ali
consolidar seu controle, se essa região tiver recursos que sejam suficientes
para gerar um poder global.
A Doutrina Wolfowitz justifica a dominação de Washington em todas as
regiões. É consistente com a ideologia neoconservadora de que os Estados Unidos
são um país “indispensável” e “excepcional”, que tem o direito de hegemonia
mundial.
A Rússia e a
China estão no caminho da hegemonia dos Estados Unidos. A menos que a Doutrina
Wolfowitz seja abandonada, uma guerra nuclear é muito provável.
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[*] Paul Craig Roberts (nascido em 03 de abril de 1939) é um
economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro
na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics.Ex-editor e colunista
do Wall Street Journal, Business Week eScripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em
30 ocasiões em questões de política econômica. Durante o século XXI, Roberts
tem frequentemente publicado emCounterpunch e
no Information Clearing House,
escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde
Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que ele diz ter destruído a
proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais
como habeas corpus e
o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados
republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e
criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um
graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade
de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na
Faculdade de Merton, Oxford
University.