Ovo de Colombo, 1924, aquarela-Nils von Dardel |
29.04.2010 Pravda.ru
Fernando Soares Campos
A metafórica expressão "Ovo de Colombo" refere-se a
soluções que encontramos para certos problemas agindo de uma maneira que nos
parece simples, comum, até natural, mas que na verdade houve época em que
ninguém havia pensado naquilo, até que alguém planejou e resolveu agir daquela
forma. Daí em diante, aquele método se tornou corriqueiro, solução óbvia; mas
que nem sempre teria sido assim.
Depois do descobrimento da América, Cristóvão Colombo passou a desfrutar
uma fama de dar inveja a Galileu, Gagarin ou aos Beatles. Os institutos
castelhanos de pesquisa registravam homéricos índices de popularidade
colombina, percentuais que, desde então, só são menores que os da popularidade
de Lula, coisa nunca antes alcançada na história.
Certo dia, Colombo foi convidado para mais um banquete em que lhe prestariam
honrosa homenagem. Um dos convidados, enciumado com a badalação em torno do
nome de Colombo, lhe fez a seguinte pergunta:
Você descobriu o Novo Mundo,
certamente merece reconhecimento, mas, por acaso, acredita que não existem
outros homens na Espanha que poderiam ter realizado esse mesmo empreendimento?
Colombo, mantendo a fleugma, não respondeu diretamente à pergunta, mas
propôs um desafio aos presentes. Pegou um ovo de galinha e desafiou todos os
que ali se encontravam a colocar o tal ovo em pé, apoiando-o sobre uma de suas
extremidades.
Muitos foram os que decidiram tentar vencer o desafio. Debalde (palavra que, à época, estava em voga, assim como, em voga, era naquele momento uma expressão em voga).
Muitos foram os que decidiram tentar vencer o desafio. Debalde (palavra que, à época, estava em voga, assim como, em voga, era naquele momento uma expressão em voga).
Todos fracassaram.
Depois de muitas tentativas, os desafiados voltaram-se para Colombo e
declararam a impossibilidade de realizar aquela façanha.
Colombo pegou uma pitada de sal, colocou-a num canto da mesa e assentou o
ovo sobre os cristalinos grãos (há quem diga que ele bateu cuidadosamente o ovo
contra a mesa até que a casca se quebrasse levemente na parte mais
arredondada), e com isso foi simples colocá-lo em pé.
O homem que o havia provocado inicialmente protestou:
Assim qualquer um pode fazê-lo!
Colombo respondeu:
Sim, qualquer um! Mas qualquer
um que tivesse tido a idéia de fazê-lo.
E concluiu:
Uma vez que eu mostrei o caminho do
Novo Mundo, qualquer um poderá segui-lo. Mas alguém
teve antes que ter a idéia. E alguém
teve, depois, que decidir-se a colocá-la em prática.
Dizem ainda que entre os convidados para o banquete estava o navegador
português Pedro Álvares Cabral, que, diante da lição dada por Colombo, acreditou ter
aprendido a realizar grandes navegações. Cabral estava convicto de que poderia
até fazer um pouco mais, chegar um tanto mais longe que seu colega espanhol. E
foi assim pensando que o comandante português se lançou ao mar.
Dias depois de iniciar a aventura que o levaria a terras tupiniquins, Cabral
aportou nas Ilhas Canárias e postou uma carta a Colombo, através da qual fazia
a seguinte observação:
Você nos ensinou a
colocar o ovo em pé, fator considerado imprescindível
para realizar grandes navegações, mas, já nestas primeiras milhas navegadas,
posso lhe garantir que mantê-lo nessa posição com o mar agitado é praticamente
impossível.
Moral : Para fazer mais que os outros, às vezes precisamos quebrar um pouco mais a casca do ovo ou aumentar a quantidade de sal em que este será apoiado.
P.S.1 : Há quem acredite que Lula não deveria ter feito certos acordos em nome da governabilidade; saiba, porém, que, nesse caso, fazer mais que ele exige firmar aliança até mesmo com Judas. E ainda mais estreita que com Sarney.
P.S.2 : Fazer mais não significa fazer melhor.
É fazer mais.
Adaptação operere