domingo, 18 de maio de 2014
17/5/2014, [*] John
Kozy, Global Research
Traduzido por mberublue
Henry Kissinger certa vez disse que :
(...) em minha vida, vi quatro guerras que começaram com grande
entusiasmo e apoio público; em nenhuma delas sabíamos como terminar; e de três
delas nos retiramos unilateralmente.
Umair
Haque, Diretor do Havas Media Labs, e tido pela revista Thinkers50 como
um dos mais influentes pensadores de gestão-management do
mundo, escreveu na Harvard Business Review a
seguinte descrição dos Estados Unidos contemporâneos:
Os Estados Unidos são ricos em quê? Começam a parecer pobres, para as
pessoas comuns. A infraestrutura dos EUA está ruindo. O sistema educacional dos
EUA educa mal. O sistema de saúde dos EUA é simplesmente inexistente. Posso
atravessar a Europa por trem de alta velocidade em oito horas; mal consigo ir
de Washington a Boston em nove. Pior que isso: os EUA estão estragando seus
suprimentos de água e comida mediante o envenenamento ininterrupto por energia
poluente, enquanto o resto do mundo rico está trocando essa energia por outro
tipo, renovável. Os Estados Unidos são flagrantemente deficitários em todos os
serviços públicos de educação, saúde, transporte, energia, infraestrutura, para
não dizer de outros, raramente listados, mas não menos importantes: parques,
centros comunitários e serviços sociais.
Assim, mesmo dizendo ser o líder do mundo livre e enquanto tenta ensinar
ao mundo como governar, quando os EUA se olham para eles mesmos – o que só
muito raramente fazem – veem um consumado idiota.
A política implementada continuará a mesma, por mais persistentemente se
prove ser errada e ineficiente. A “guerra às drogas”, iniciada em 1971, tem
sido tão desastrosa que vários estados já legalizaram substâncias ainda
proibidas pelo governo federal. A dependência viciosa a políticas econômicas há
tempos desacreditadas quebrou o mundo duas vezes nos últimos setenta anos. As
ruas dos Estados Unidos viraram campo de batalha, porque não há via pela qual o
país consiga derrotar o lobby da indústria de armas e não há
meio que leve a aprovar qualquer medida que limite a propriedade de armas.
Por muito que os EUA sejam tolos nas políticas internas, é no trato com
outros países que o horror aparece mais pleno. Considere-se, por exemplo, a
política de chantagear outros países, para fazerem o que não querem fazer, mas
interessa aos EUA que façam, usando, como arma de chantagem, as chamadas
“sanções econômicas”.
Aplicar sanções é uma modalidade de guerra econômica e, como guerra real
que é, os dois lados em luta sofrem baixas, sempre que um lado aplica sanções
as quais, em teoria, deveriam ter efeito exclusivamente contra o outro lado.
Já se aplicaram e aplicam-se hoje sanções em, pelo menos, 25 “conflitos”
internacionais. Nada, na lista do Departamento do Tesouro dos EUA, indica que a
meta estabelecida teria sido alcançada. Hoje, há sanções vigentes aplicadas
pelos EUA contra sete países: Cuba (desde 1960), Irã (1979), Myanmar (1997),
Coréia do Norte (1993), Costa do Marfim (2006), Síria (2012) e Rússia (2014).
Ora! E não se trata de clara lista de potências econômicas? Pois até a
publicação deste artigo, por várias e boas razões, os EUA não conseguiram
nenhuma das metas a que visavam com a imposição dessas sanções.
A prática de impor sanções contra nações cujos atos desagradem aos EUA é
política orientada para objetivos ou tolos ou infames. É prática que visa a
destruir a soberania de outras nações. Tanto quanto sei, até hoje os EUA nada
conseguiram, desses objetivos, servindo-se de sanções.
Os EUA são nação narcisista que só enxerga o próprio reflexo em seja qual
for a superfície para a qual olhe. A húbris norte americana faz os
norte-americanos crerem que o mundo inteiro teria de operar como os EUA operam.
Assim sendo, dado que desde o nascimento da nação a corrupção gerada e
alimentada pelos mercadores e pela classe mercantil predomina na política
econômica dos EUA, impondo as políticas nacionais, os norte americanos creem
que a classe mercantil de outras nações também teriam o poder e a força para
mandar e desmandar no plano político e na construção das políticas. Obviamente
isso nem sempre acontece. Em Cuba e na Coréia do Norte a classe mercantil
praticamente inexiste. No Irã, está submetida às ordens dos aiatolás; em
Myanmar e na Costa do Marfim, o controle é exercido totalmente pelos dirigentes
corruptos. Quanto à Síria e à Rússia, o relacionamento entre o governo e a
classe mercantil é no mínimo ambíguo.
Impor sanções contra essas nações pode causar algum abalo em suas
economias, sim; mas é pouco provável que cause qualquer grave efeito contra os
seus respectivos governos.
Para que as sanções levem ao resultado que os EUA esperam delas, é
indispensável que se configurem algumas condições necessárias. Em primeiro
lugar, a nação sancionada tem de ter grande classe mercantil, com poder
suficiente para influenciar o próprio governo do país. O governo tem de ser
atento e preocupado com atender bem às necessidades da classe mercantil.
Em segundo lugar, não se sanciona país que tenha ou dívida internacional
muito pequena, ou carteira de comércio internacional muito grande. Em nada
ajuda o governo de um país dizer aos seus comerciantes que não podem fazer
negócios com outra nação, com a qual eles já não tenham comércio. Mas dizer aos
próprios comerciantes que interrompam o comércio com determinada nação, com a
qual eles têm substancial negociação e muitos interesses, pode vir a ser
economicamente mais prejudicial para a nação que sanciona, que para a nação
sancionada.
Em terceiro lugar, restam as nações com comércio internacional médio.
Alguns danos podem ser causados, se se sancionam essas nações, mas não serão
danos suficientes para forçar o país a mudar na direção em que interessa aos
EUA que o país mudem. Tais sanções raramente são bem-sucedidas. E o que
acontece quando esse tipo de sanção é tentado e falha? Muitas vezes, esses
fracassos levam à guerra.
Apenas um ano após os Estados Unidos sancionarem Cuba, o país foi
invadido por um grupo paramilitar patrocinado pela CIA.
Oito bombardeios B-26 fornecidos pela CIA atacaram os campos aéreos
cubanos. Na noite seguinte, os invasores desembarcaram na Baía dos Porcos. Os norte-americanos supunham que o
povo cubano se levantaria e derrubaria o governo Castro. Em vez disso, viram o
exército cubano cercar e prender os invasores norte-americanos, em apenas três
dias. A invasão foi fracasso escandalosamente vergonhoso para os EUA. Em grande
parte da América Latina e do mundo, comemorou-se ali a falibilidade do
imperialismo dos Estados Unidos.
Pois, apesar do fracasso escandalosamente vergonhoso, ante o povo cubano,
os EUA, ali, “inauguraram” a guerra de sanções.
Desde então os norte americanos têm feito guerra, às vezes sem aviso ou
conhecimento, em numerosos lugares onde as sanções falharam: Bálcãs, Iraque,
Líbano, Líbia, Somália, Sudão (e mais outra longa lista de potências
econômicas).
E, quando as sanções falham pela primeira vez, e vêm as sanções; e as
sanções falham, e vem a guerra; e, ainda depois da guerra, vêm mais e novas
sanções... o absurdo é flagrante.
Nesse momento do processo, a política de guerra dos EUA evolui para a
política de assassinatos dos EUA.
Talvez o propósito das sanções, das guerras que acompanham as sanções, e
dos assassinatos que vêm subsequentes, não seja alcançar algum sucesso, nem
provocar mudanças. Todo o programa é absurdo, mas repete-se tanto, tão
pontualmente, há tanto tempo, que tem de haver alguma explicação. Uma
possibilidade para chegar a alguma explicação razoável talvez se possa extrair
de um exame atento do sistema penal americano.
Sob vários aspectos, o atual sistema penal é mais duro e desumano com os
inconformados, que a antiga pena de exílio. Mas o problema é que vai ficando
cada dia mais difícil encontrar lugares para onde exilar alguém; e acabou por
prevalecer o sistema penal atualmente vigente, de encarceramento. E tudo se
complicou muito.
Em vez de simplesmente remover cidadãos que apresentam perigo para a
sociedade, o povo começou a usar as próprias prisões como forma de punição:
isso, precisamente, é o que são as prisões como as conhecemos hoje. Quando a
vítima (ou o juiz) diz: “quero que seja feita a justiça” ele/ela está dizendo
que quer que o criminoso “pague”. Então, os perpetradores de crimes pagam o
preço de se deixar aprisionados pela sociedade; e a sociedade paga o preço de
manter todo o sistema penal. É um preço pago tanto pelos criminosos, quanto
pelos cidadãos que respeitam a lei. O intuito do sistema penal é meramente
punitivo, independente do custo. Não há outra função.
Nunca houve qualquer resultado favorável aos Estados Unidos oriundo das
sanções contra Cuba e a Baía dos Porcos, mas isso não importa. O povo de Cuba
está sendo punido há mais de meio século, por não se ter levantado em revolta e
derrubado o governo de Castro em 1961. No Iraque, o povo iraquiano é castigado
pelo governo Obama, pelas ações de Saddam Hussein. Assim também, o povo afegão
está sendo punido porque o governo afegão não entregou Osama Bin Laden aos EUA
quando lhe foi “ordenado”, para ser “julgado” por ter – supostamente –
planejado o incidente de 11/9. Não importa que esse castigo tenha custado e
continue a custar também muito caro aos Estados Unidos. O custo dos castigos
não vem ao caso. Não apenas não é importante o custo da punição, como também é
irrelevante que povo será punido...
O mundo ocidental continua, até hoje, a castigar os palestinos, pelo
holocausto de judeus europeus assassinados por europeus da Europa ocidental!
Essa política não é exclusividade dos EUA
Os EUA só continuam a aplicar essa política “de sanções”, porque seus
fracassos são anotados como sucessos. O princípio que rege essas operações “de
sanções” é deixar claro que quem não “respeite’” (no sentido de “obedeça
servilmente”) os EUA, desencadeará sobre a própria cabeça fúria tão violenta e
avassaladora que faria tremer de medo o demônio.
[*] John
Kozy é professor aposentado de Lógica e Filosofia, que escreve sobre
questões sociais, políticas e econômicas. Depois de servir no exército dos EUA
durante a guerra da Coréia, viveu 20 anos como professor universitário e outros
20 como escritor. Seus trabalhos online podem
ser encontrados no blog.
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/05/guerras-assassinatos-e-sancoes.html
http://goo.gl/n8lD5s
Para ler outras matérias sobre este assunto, acesse o blog redecastorphoto
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Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons
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