– Olha, Yellen, o
pessoal de Wall Street tem me cobrado insistentemente para lhe dizer que deve
dar uma pressão bem grande no Governo Dilma. – Tô sabendo, Barack. – Pois,
então, não podemos deixar esses petistas continuarem, depois de 12 anos no
poder. Precisamos apostar nossas fichas no Aécio. Se não der…. – Isso, mesmo,
Barack, vamos acompanhar de perto o Eduardo, o Dudu, o neto do Arraes, o aposto
do avô, sabia? – Eles estão querendo jogar como no tempo do Getúlio Vargas,
essa turma da Dilma, do Lula. Eles não me enganam. São da mesma laia do Chavez,
da Kirchner, do Morales, do Mujica, esse maconheiro. _ Isso, mesmo, Barack,
tamos de olho. O perigo, sabe qual é? – Qual? – O negócio da dívida, eles estão
namorando com a solução do Correa, do Equador. – Minha nossa, que perigo! – Não
vamos deixar eles partirem para a solução Correa, de dar uma geral na dívida,
por meio de auditoria completa, e depois chamar para trocar os bonds, com um
desconto de 70%. – De jeito nenhum, Yellen, isso é calote!!! – Querem fazer o
que já estamos fazendo, aqui, Barack, deixar de pagar juros aos nossos
credores!!! – Mas, isso, só nós podemos fazer, para proteger nosso dólar. Já
pensou, Yellen, o mundo sem o dólar, sem a nossa força, sem a nossa pujança? –
Tenho que confessar, Barack, que o dólar não é mais aquela potência, heim… –
Não importa, e as nossas garantias? – Quais, Barack? – Não seja ingênua e
cínica, Yellen, se informe, lá, com o Pentágono, para saber o tamanho do nosso
poder bélico, espacial e nuclear!!! Quem é Putin, para poder conosco, quanto
mais Dilma, essa fantasia de guerrilheira desarmada!!! – Não quis ofender,
Barack, mas só lembrar que as nossas finanças, também… – Bom, não precisa
repetir o que já sei. O importante é conter a Dilma, que quer gastar, gastar, gastar.
Se todo mundo nesse nosso quintal da América do Sul ir por esse caminho, nossos
banqueiros vão falir!!! Não descuide, heim, Yellen, trate muito bem esses
nossos companheiros tucanos e esse outro aí, como é, mesmo, Dudu? É o Dudu ou o
Didi Pedalada, aquele centroavante do Grêmio, que participou da Operação
Condor, descrito, lá, no livro do Luiz Cláudio Cunha, aquele comunista de uma
figa? – Peraí, Barack, cê tá indo longe demais… – Bom, de qualquer jeito, olho
vivo, Yellen, não podemos perder essa parada no Brasil, em outubro, tá certo? –
Vou fazer tudo que tiver ao meu alcance, Barack, mas, tem um negócio… – Que
negócio, Yellen? – E se o Putin apoiar a Dilma? – O QUE? O QUE? O QUE?
Cesar Fonseca em
04/05/2014
O governo americano e o Banco Central dos
Estados Unidos, o FED, estão comandando a campanha eleitoral da oposição no
Brasil em 2014.
Basta ver as declarações do senador Aécio
Neves, PSDB, e do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, sobre suas
prioridades para a macroeconomia.
Estão perfeitamente adequadas às demandas dos
banqueiros americanos, credores do Brasil relativamente à condução do
endividamento público brasileiro.
Eles se pronunciaram a favor das recomendações
do FED e do FMI, que segue orientação da Casa Branca.
A orientação do império, que está em crise, é
o norte da oposição brasileira.
Logo esse império, que está fazendo tudo ao
contrário do que determina aos seus súditos: metas inflacionárias, cambio
flutuante e superavit primário.
Nos Estados Unidos, o FED busca, nesse
momento, garantir mais inflação, para fugir da deflação; mais protecionismo
cambial, para fortalecer as indústrias de Tio Sam, e, claro, nenhum superavit
primário, porque pratica juro zero ou negativo, de modo a livrar as empresas de
custos operacionais, de modo a torná-las, junto com o câmbio favorecido pela
guerra monetária, mais competitivas na cena internacional, onde a concorrência
global se intensifica.
Na mesma linha, seguem os japoneses e os
europeus, com seus bancos centrais repetindo o FED, adotando expansão
monetária, para desvalorizar sua moeda, a fim de valorizar as moedas dos outros
concorrentes, para poderem desovar seus estoques.
Irresponsavelmente, ou alienadamente, Aécio
Neves deu uma declaração destemperada, ao ser perguntado se, caso eleito,
aumentaria as verbas para programas sociais, tipo o Bolsa Família, como
anunciou a presidenta Dilma Rousseff, em seu impactante discurso de 1º de Maio.
Respondeu o neto de Tancredo o que Tancredo
não falaria.
Disse que jamais daria uma resposta
afirmativa, antes de conhecer, a fundo, a situação das contas públicas, porque
seu compromisso é com o equilíbrismo fiscal.
Ora, o seu prévio compromisso anunciado com os
credores de mexer na política salarial, de seguir as metas inflacionárias, de
manter o câmbio flutuante e de elevar o superavit primário, conforme recomenda
os seus assessores econômicos neoliberais, como é o caso de Armínio Fraga,
representa ataque frontal aos interesses dos trabalhadores e certeza de que o
equilibrismo fiscal que promete desequilibrará totalmente a política de rendas
que hoje o governo dilmista pratica para manter em relativo equilíbrio, em meio
à crise global, o mercado interno.
Os economistas Eduardo Gianetti da Fonseca,
assessor de Eduardo Campos, e Samuel Pessôa, assessor de Aécio, ambos
neoliberais de carteirinha, foram claros, no programa Globo News Painel,
domingo passado: o receituário econômico com o qual estão trabalhando
terá custo social significativo.
Somente depois do saneamento econômico,
disseram, será possível abrir novos horizontes de crescimento, segundo eles,
sustentável.
E o que representa o saneamento que defendem?
Arrocho salarial, arrocho fiscal, arrocho
monetário, privatizações e sustentação de terapia econômica depressiva, para,
depois, se houver um depois, permitir retomada do desenvolvimento.
É a velha conversa neoliberal de sempre, ou
seja, o bolo precisa crescer, para depois ser dividido.
O fato é que, a crer na conversa-mole
neoliberal da oposição, será jogada por terra a política de rendas lulista e
dilmista, colocada em prática para enfrentar a crise global capitalista ainda
em curso, nos países ricos, com grandes consequências para os trabalhadores.
Ao cogitarem de ortodoxia econômica
neoliberal, da qual fogem os governantes ricos, para não terem que ser
defenestrados do poder em eleições futuras, Aécio e Campos vão demarcando o
campo anti-popular que passarão a trilhar, se, eventualmente, chegarem ao
poder, com a ajuda, claro, da grande mídia, cujos interesses estão ligados
umbilicalmente ao capital financeiro especulativo internacional.
A proposta macroeconômica neoliberal aecista e
eduardista, ao desarmar as políticas sociais em curso, sinaliza tensões
políticas violentas, colocando o mundo sindical em convulsão.
Como reagirão os 40 milhões de novos
consumidores brasileiros emergentes em decorrência dos benefícios trazidos pela
política de rendas dilmista-lulista?
Aceitarão, pacificamente, ver destruídos os
alicerces econômicos que os fizerem ascender, relativamente, na escala social,
transformando-os em efetivos consumidores, para voltarem ao que eram antes,
não-consumidores, em nome do equilibrismo fiscal monetarista washingtoniano?
O equilibrismo fiscal pregado pela oposição é
retorno aos parâmetros da economia clássica, predominante no século 19, apoiada
na ideologia do padrão ouro, segundo o qual os governos se limitam às suas
reservas em metais – ouro e prata – , para promover a oferta monetária, de modo
a dinamizar as forças produtivas, sempre em escala insuficiente, incapaz de
atender as demandas sociais.
Como a história econômica demonstrou, tal
equilibrismo somente se sustenta se forem removidas ou impedidas de existirem
quaisquer políticas de rendas, como a que está sendo praticada, atualmente.
Afinal, o lema essencial dessa ortodoxia
monetarista é buscar o ideal econômico no salário zero ou negativo na sua
expressão matemática do termo, como dizia Marx, como forma de sustentar a
reprodução ampliada de capital sobreacumulado à custa do trabalho humano.
Aécio e Campos voltam ao século 19 imaginando
que estão avançando para o século 21!
Parece que não aprenderam com a história,
caminhando cegos, sem perceberem que a economia neoclássica equilibrista
desembocou na grande crise neoliberal de 1870/1892, seguida pelo reinado de
cartéis e oligopólios, que detonou a Primeira Guerra Mundial, cujas
consequências, no processo de exacerbação do lassair faire, produziram o crash
de 1929.
Parece que Aécio e Campos não leram que a
crise da economia de mercado produziu o Estado keynesiano, produtor do Estado
do Bem Estar Social, que, agora, na crise de 2007-2008, também, está indo para
o brejo, no compasso dos estouros das finanças estatais especulativas.
Esses dois oposicionistas ameaçam os
trabalhadores brasileiros com o economicídio.
Depois do fracasso do modelo keynesiano, o que
fazer?
Voltar ao útero materno, ao modelo neoliberal,
se ele já foi para o brejo desde 1870?
Só Freud explica o desejo de Aécio e Campos e
seus assessores monetaristas, de voltarem, açodadamente, ao equilibrismo
marshalliano neoliberal, que levou a humanidade a duas guerras mundiais.
Campos e Neves se mostram, ao lado dos seus
gurus econômicos falidos, mais perdidos que cegos em tiroteio.
Enquanto isso, Dilma, ao que tudo indica,
tende a radicalizar na política social.
Depois de anunciar mais verbas para o programa
Bolsa Família, para o salário mínimo e para minimizar o sacrifício da classe
média, mediante reajuste da tabela do imposto de renda, coloca a Caixa
Econômica Federal para gastar mais R$ 155 bilhões em programa habitacional.
Sua orientação keynesiana, evidentemente,
exigirá, no curso da colocação dela em prática, a renegociação da dívida, seguida
da diminuição das taxas de juros, para dinamizar a produção, tornando-a
competitiva, capaz de enfrentar a inflação, jogando no incremento da produção e
não no suicídio da recessão.
Se as economias ricas tentam sair da crise,
fazendo isso, por que as emergentes seguirão a receita do desastre que Aécio e
Campos querem recomendar aos brasileiros?
Eis como se desenrola o panorama da discussão
macroeconômica no início da campanha eleitoral de 2014.