A cada dia surgem novas evidencias e informações que desmontam o mito do México como paradigma de progresso e modernidade na América Latina, e de um exemplo e modelo de corte neoliberal para o desenvolvimento de outros países da região.
23/04/2014
Não bastasse a
revelação de que quatro em cada dez mexicanos estão passando fome, de que
não existe sequer seguro desemprego no país, e de que cerca de 60% da população
sobrevive na informalidade, sem direito a vale alimentação ou aposentadoria,
por exemplo, cai agora por terra a posição do país como grande potência
exportadora.
Um estudo
recente, publicado na Revista Paradigmas, editada por um conjunto de
universidades mexicanas, com o título de “quão mexicanas são as exportações
mexicanas”, mostra que, de 1987 a 2011, as exportações cresceram até chegar a
quase um terço do PIB, mas ao mesmo tempo, a produção per capita, segundo o
Banco Mundial, ficou em apenas 2% ao ano.
A causa dessa
dicotomia, que faz com que as exportações tenham crescido muito mais do que a
produção - e com que persista a pobreza - seria, justamente, o baixíssimo nível
de conteúdo nacional nas exportações mexicanas.
Usando dados
sobre a relação insumo-produto desenvolvida pelo economista Marcel Timmer, os
autores - mexicanos - do estudo, separaram os cinco setores de maior vocação
exportadora do México, Brasil, Coréia do Sul e China, e se debruçaram sobre o
conteúdo nacional da produção enviada por eles enviados para o exterior.
A conclusão, ao
final do trabalho, foi a de que, excluídas as atividades de extração de
recursos naturais ou o processamento básico desses recursos, o maiores setores
exportadores da economia mexicana são justamente aqueles que apresentam menor
conteúdo nacional.
Enquanto no
Brasil e na China o conteúdo nacional dos cinco maiores setores exportadores é
de aproximadamente 90%, e na Coréia do Sul é de 80%, no México ele não passa de
60%.
Por essa razão,
quando as exportações crescem, no México, seu impacto na utilização de
insumos nacionais e no salário da população é mínimo e muito menor do que
ocorre no Brasil e na China.
No México, existe
um divórcio, um forte desacoplamento entre o setor exportador e o resto da
economia, o que faz com que nem os empresários, nem os trabalhadores locais se
beneficiem da “abertura” do país para o exterior.
Isso confirma o
que qualquer observador com um pouco de bom senso já sabia. O setor exportador
mexicano funciona como um enclave dentro da economia local. E se
beneficia de seus baixos salários e da localização geográfica das
“maquiladoras”, para fazer uma breve parada, a caminho do mercado dos Estados
Unidos.
O dinheiro não
fica no México, já que, ao contrário do Brasil, a maioria dos setores de maior
potencial exportador são de capital estrangeiro, e os lucros, assim como o suor
dos trabalhadores, vão, em sua quase totalidade, para o exterior.