15 de abril de 2014
Por Rodrigo Vianna,
no blog Escrevinhador:
O fato é que os bilionários da
família Marinho estão incomodados, e querem intimidar os blogueiros. É uma
batalha descomunal. Eu - que batuco meus textos num escritório improvisado no
fundo de casa - de repente virei tema de “reportagem” de um império midiático
com centenas de jornalistas Brasil afora?
Vejam só. Na tarde de
segunda-feira (14/abril), fui procurado por uma suposta jornalista de “O
Globo”, que me enviou a singela mensagem: “Prezado Rodrigo, Sou repórter do
jornal O Globo e estou fazendo uma matéria sobre a entrevista coletiva do ex-presidente
Lula com blogueiros na semana passada. Nós poderíamos conversar por telefone?
Atenciosamente, Barbara Marcolini - Jornal O Globo”.
Curioso que o jornal conservador
da zona sul carioca tenha levado uma semana para se interessar pelo tema, não?
A entrevista
de Lula aos blogueiros foi um sucesso enorme, gerando manchetes Brasil
afora. A imprensa velha passou recibo. Ficou furiosa.
Editoriais, comentários na TV e
rádio, colunistas conservadores: muitos se mobilizaram para atacar os
blogueiros “sujos”. Alguns ataques vieram com acusações graves: fomos acusados
de ser “financiados” pelo governo federal. E os mais incomodados parecem ser os
colunistas das chamadas “Organizações Globo”.
Nada disso é por acaso. Trabalhei
na Globo. Sei como essas coisas são. Quando jornal, TV, internet e rádio da
família Marinho começam a bater na mesma tecla – ao mesmo tempo – é porque há
uma ordem superior, uma determinação do patrão (ou de seus prepostos) para ir
fundo naquele assunto.
Pedi que a repórter Barbara me
enviasse as perguntas por escrito. Tenho pela repórter (a quem não conheço)
respeito profissional. Mas considero “O Globo” e as “Organizações Globo”
adversários. E sei que os prepostos da família Marinho me tratam como inimigo.
Pessoa de minha família foi demitida da TV Globo, em 2010, depois que passei a
assumir um posicionamento político claro em meu blog. Eles chegam a esse nível.
São vingativos. Por isso, não há hipótese de responder nada a “O Globo” – a não
ser por escrito.
Até as 21h, as perguntas de
Barbara não vieram. Mas eu soube que outros blogueiros também foram procurados
por jornalistas de “O Globo” – com a mesma pauta: a entrevista de Lula. Pelo
menos 3 repórteres diferentes do jornal foram mobilizados na Operação. Objetivo
era estabelecer vinculações “comprometedoras” entre os blogueiros e
determinadas empresas, entidades e/ou governo (veja aqui a resposta do Fernando
Brito, do Tijolaço, à tentativa de intimidação).
Mas não era só isso. Uma das
repórteres globais chegou a perguntar a um blogueiro (a entrevista está
gravada) se ele tinha filiação partidária. Sim, o macartismo da Globo avançou
até esse ponto.
Trata-se de uma Operação para
intimidar aqueles que nos últimos anos – ainda que de forma limitada – criaram
um contraponto ao poder da velha mídia. Os barões da imprensa velhaca não se
conformam com o fato de meia dúzia de blogueiros “sujos” oferecerem uma outra
narrativa ao Brasil. A Globo, a Abril e a Folha seguem a ter imenso poder. Mas
já não falam sozinhas.
Seria bom que soubessem: com essa
tentativa de cerco, em vez de intimidar, vão mobilizar ainda mais blogueiros e
internautas.
A Globo não tem estatura moral
para cobrar explicações de ninguém. Vamos relembrar alguns episódios recentes:
- a Globo foi acusada de sonegar
impostos (mais de 1 bilhão em valores atualizados –clique
aqui para saber mais), e até hoje não esclareceu o episódio;
- o processo fiscal em que a
Globo era investigada por bilionária sonegação “sumiu” (na verdade, teria sido
roubado) de uma agência da Receita Federal no Rio, e a Globo até hoje não
explicou o caso;
- um diretor da Globo, Ali Kamel,
processa pelos menos 6 blogueiros (entre eles este escrevinhador), numa
tentativa clara de intimidação judicial, de calar as vozes que em 2006 e 2010
ajudaram a desmascarar a tentativa da Globo de interferir no processo
eleitoral;
- por fim, a Globo (estou falando
só da TV) recebeu quase 6 bilhões do governo federal nos últimos anos – como
mostra atabela
abaixo, publicada pelo VioMundo e pelo jornalista Fernando Rodrigues.
E essa mesma Globo de 6 bilhões
em recursos públicos (recursos dos seus, dos meus impostos!) quer acusar
blogueiros de serem “financiados” pelo governo?!
É piada.
De minha parte, sou jornalista
profissional. Vivo do trabalho como repórter de TV. Já vendi minha força de
trabalho para a “Folha”, a “TV Cultura”, a “TV Globo” – e hoje sou repórter na
“TV Record”. Jamais vendi meu cérebro para nenhum patrão. Tenho posições
políticas claras. Públicas. E por conta delas comprei briga com a Globo em 2006
– deixando a emissora.
Não vejo nada de anormal em blogs
e sites sem vinculação com a velha mídia pleitearem publicidade. Mas,
felizmente, não preciso disso para seguir travando o bom combate. Nunca entrei
na SECOM do governo federal para tratar de dinheiro. E nem em qualquer outra
secretaria de Comunicação Brasil afora.
Minha questão é política. Encaro
o debate de forma aberta – jamais de braços dados com ditadores, ou beneficiado
por acordos obscuros com embaixadas e governos estrangeiros. O Escrevinhador
não tem em seu currículo: TimeLife, apoio a uma ditadura assassina, escândalo
Proconsult contra Brizola em 82, manipulação da cobertura das Diretas-Já,
edição criminosa do debate Lula/Collor em 89, combate ao Bolsa-Família,
oposição às quotas para negros, tentativa de transformar bolinha de papel num
míssil em 2010…
Os gastos mensais para manter meu
blog hoje são de aproximadamente 2,5 mil reais. Conto com anúncios do Google
(valores irrisórios) e com a colaboração de leitores, e ainda tiro dinheiro do
meu bolso para cobrir as despesas. Em 6 anos, devo ter recebido 6 anúncios pontuais
de governos ou entidades sindicais. Nenhum deles por mais de um mês. Nenhum
deles superior a 2 mil reais (ou seja, no total os anúncios não chegaram a 15
mil reais em quase 6 anos – contra despesas de aproximadamente 150 mil no mesmo
período).
Tenho lutado para que os
blogueiros se organizem, façam parcerias com empresas ou criem associações para
disputar, sim, o direito a participar do bolo publicitário – inclusive as
verbas oficiais, que ajudaram a família Marinho a ficar bilionária nos últimos
anos.
Aliás, proponho à Redação de “O
Globo” uma troca singela: dou entrevista e respondo tudo o que quiserem saber,
desde que a família Marinho (que ficou bilionária graças a uma concessão
pública) abra suas contas e apresente o famoso DARF – esclarecendo se pagou (ou
não) a suposta dívida com a Receita Federal.
Que tal, Bárbara? Passa a
sugestão pros seus chefes aí!
Postado há 23 hours ago por Blog Justiceira de
Esquerda