Obama fala bem, mas ele não escreve os discursos. Ele lê os discursos escritos por outros enquanto outros governam. |
por Thierry Meyssan
Rede Voltaire
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Em orientemidia
Tradução Natalia Forcat
27 abr 2014
A propaganda do Império anglo-saxão nos fez acreditar que EUA é o
“país da liberdade” e suas guerras não têm outro propósito senão o de defender
seus ideais. Mas a crise ucraniana acabou de mudar as regras do jogo:
Washington e seus aliados perderam o monopólio da palavra. O governo e a
imprensa de outro grande Estado, Rússia, estão refutando abertamente as
mentiras que durante um século tem servido de justificativa ao Império
anglo-saxão. Nestes tempos de satélites e Internet, a propaganda anglo-saxônica
não funciona mais.
Os governantes
sempre tentar convencer de que eles estão fazendo a coisa certa, porque as
multidões não seguem alguém sabendo que não está com a razão. O século XX foi
marcado pelo surgimento de novos métodos de propagação de ideias que nada têm a
ver com a verdade. Os ocidentais afirmam que a propaganda moderna começou com o
ministro nazista Joseph Goebbels. Assim querem nos fazer esquecer que a arte de
distorcer a percepção das coisas foi desenvolvida muito antes pelos
anglo-saxões.
Em 1916, o
Reino Unido criou em Londres a Wellington House em e mais
tarde a Crewe House. Ao mesmo tempo, os EUA criaram o Comittee
on Public Information (CPI). Partindo do princípio de que a Primeira
Guerra Mundial foi um confronto de massas e não exércitos, aquelas agências
tentaram intoxicar seus próprios povos, assim como os de seus aliados e seus
inimigos.
A propaganda
moderna começa com a publicação, em Londres, do relatório Bryce sobre crimes de
guerra na Alemanha, documento que foi traduzido para 30 idiomas. De acordo com
o relatório de Bryce, o exército alemão havia estuprado milhares de mulheres na
Bélgica, assim que britânicos estavam lutando contra a barbárie. Após a
Primeira Guerra Mundial, foi descoberto que todo o relatório era uma mentira
inteiramente fabricada com falsos testemunhos e com a ajuda de vários
jornalistas.
Enquanto isso,
nos Estados Unidos, George Creel inventou uma história que apresentava a
Primeira Guerra Mundial como uma cruzada das democracias pela paz que
materializaria os direitos da humanidade.
Os
historiadores têm mostrado que a Primeira Guerra Mundial teve causas tão
imediatas como profundas, sendo a mais importante entre elas, a rivalidade
entre as grandes potências que competiam entre si para estender os seus
impérios coloniais.
As agências de
propaganda dos EUA e Reino Unido eram organizações secretas que trabalham para
o Estado. Elas se diferenciavam da propaganda leninista, que ambicionava
“revelar a verdade” para as massas ignorantes, em que os anglo-saxões estavam
tentando enganar e manipular. Para conseguir isso, as organizações estaduais
anglo-saxônicas tinham que agir de forma solapada e usurpando falsas
identidades.
Após o fim da
União Soviética, os EUA deram menos importância à propaganda e optaram pelas
Relações Públicas. O objetivo já não era mentir, mas levar os jornalistas pelas
mãos para que vissem unicamente o que fosse mostrado. Durante a guerra do
Kosovo, a OTAN recorreu ao Alastair Campbell, um assessor do primeiro-ministro
para contar para a imprensa uma história diferente cada dia. Enquanto os
jornalistas se entretinham relatando as histórias de Campbell, a aliança
atlântica podia bombardear “em paz”. O objetivo não era tanto mentir, mas sim
desviar a atenção.
Mas o que tem
sido chamado de story telling [em português, "contar
estórias"] conquistou grande força com o 11 de setembro de 2001. O
objetivo era concentrar a atenção do público sobre os atentados em Nova Iorque
e Washington para que não vissem o golpe de estado militar que ocorreu naquele
dia: transferência dos poderes executivos do presidente George W. Bush a uma
entidade militar secreta e detenção camuflada de todos os membros do Congresso
dos EUA. Essa operação de intoxicação foi a obra de Benjamin Rhodes, atual
conselheiro do presidente Barack Obama.
Durante os
anos seguintes a Casa Branca criou um sistema de intoxicação com os seus
principais aliados (Grã-Bretanha, Canadá, Austrália e, claro, Israel). Esses
quatro governos recebiam instruções diárias, até mesmo discursos prontos,
enviados peloGlobal Media Bureau para justificar a guerra contra o
Iraque e caluniar o Irã [1].
Desde 1989,
Washington se apoiava na CNN para disseminar rapidamente as suas mentiras. Com
o tempo, os EUA foi criando um cartel de redes informativas de televisão via
satélite (Al-Arabiya, Al-Jazeera, BBC, CNN, France24, Sky). Em 2011,
durante os bombardeios da OTAN em Tripoli, a OTAN conseguiu convencer
bruscamente os líbios de que tinham perdido a guerra e que qualquer resistência
era inútil.
No entanto, em
2012, a OTAN não conseguiu reeditar a manobra para convencer os sírios que a
derrubada de seu governo era inevitável. A repetição daquela manobra falhou
porque os sírios tinham conhecimento do que aconteceu na Líbia, onde os canais
de televisão internacionais tinham manipulado a situação. Sabendo disso, o
Estado sírio teve tempo para se preparar para combater a manipulação que havia
sido preparada [2]. Esta falha marcou o fim da hegemonia do cartel da”informação“.
A atual crise
entre Washington e Moscou sobre a situação na Ucrânia obrigou à administração
Obama a rever o seu sistema. Washington já não é o único que consegue ser
ouvido, senão que tem que refutar os argumentos do governo e dos meios de
comunicação russos, acessíveis em qualquer lugar do mundo através de
transmissões via satélite e internet. O secretário de Estado John Kerry teve de
nomear um novo secretário-assistente encarregado da propaganda: o ex-editor
chefe da revista Time Magazine, Richard Stengel [3]. Na verdade,
Stengel já estava no cargo desde antes do 15 de abril de 2014, data na qual
prestou juramento para o cargo. Mas em 15 de março, ele já havia enviado para
os principais meios da impressa atlantista uma “Folha Informativa” sobre as “10
falsidade” de Vladimir Putin sobre Ucrânia [4]. O mesmo foi feito em 13 de
abril, entregando um segundo documento com “outras 10 falsidades” [5].
A primeira
coisa que chama a atenção ao ler o texto é a necedade que o caracteriza. O
texto tem como objetivo validar a versão oficial sobre uma revolução em Kiev e
desacreditar o discurso russo sobre a presença de nazistas no novo governo
ucraniano, quando sabemos que em Kiev não houve uma revolução, mas um golpe de
Estado fomentado pela OTAN e executado pela Polônia e Israel com uma mistura de
receitas para “revoluções coloridas” e “primaveras árabes”
[6].
Os jornalistas
que receberam a “folhas informativas” do governo dos EUA e ecoaram o seu
conteúdo também conhecem perfeitamente o conteúdo da conversa telefônica da
Secretária de Estado, Victoria Nuland, sobre como Washington iria mudar o
regime na Ucrânia – em detrimento da União Européia, e a do ministro estonianos
dos Negócios Exteriores, Urmas Paets, sobre a verdadeira identidade dos
atiradores na Praça Maidan. Eles também já tinham tido conhecimento das
revelações semanário polonês Nie sobre o treinamento dos líderes nazistas na
Academia de Polícia da Polônia, dois meses antes dos acontecimentos da Praça
Maidan. Em relação a negar a presença de nazistas no novo governo ucraniano é
como dizer que o sol nasce durante a noite. Não há necessidade de ir a Kiev
para verificá-lo, basta ler os escritos dos atuais ministros e ouvir suas
declarações [7].
No final das
contas, apesar de todos os argumentos que Washington se toma o trabalho de
enviar por escrito às redações e que permitem criar a ilusão de que existe um
consenso na grande imprensa atlantista, o fato é que eles não têm nenhuma
chance de convencer os cidadãos minimamente curiosos. Pelo contrário, é tão
fácil descobrir o engano navegando um pouco na internet que esse tipo de
manipulação não vai conseguir nada além de reduzir ainda mais a credibilidade
de Washington.
O 11 de
Setembro de 2001, a unanimidade da imprensa atlantista permitiu convencer a
opinião pública internacional. Mas o trabalho que muitos jornalistas e cidadãos
-entre os quais tenho a honra de me incluir- têm vindo realizando desde então
tem mostrado a impossibilidade material do que é afirmado na versão oficial.
Treze anos após o fato, centenas de milhões de pessoas ficaram cientes das
mentiras. E serão cada vez mais numerosos… graças ao novo dispositivo
estadunidense de propaganda. O resultado final é que aqueles que ecoam a
propaganda da Casa Branca, principalmente os governos e os meios de comunicação
da OTAN estão destruindo sua própria credibilidade.
Barack Obama e
Benjamin Rhodes, John Kerry e Richard Stengel trabalham apenas para o curto
prazo. Sua propaganda só convence as pessoas por cerca de algumas semanas. Mas
ios deixam indignados quando descobrem a manipulação. Esses personagens estão
involuntariamente minando a credibilidade das instituições dos Estados da OTAN
que ecoam sua propaganda conscientemente. Eles se esqueceram de que a
propaganda do século XX funcionava apenas porque o mundo estava dividido em
dois blocos que não se comunicam entre si e que o controle monolítico ao que
aspiram é incompatível com as novas mídias.
Embora ainda
não concluída, a crise na Ucrânia já mudou profundamente o mundo. Por
contradizer publicamente o presidente dos EUA, Vladimir Putin deu um passo à
frente para impedir o sucesso da propaganda norte-americana.
Outros meios
de comunicação internacionais que estão quebrando a propaganda informativa
anglo-saxônica:
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[1] «Un réseau militaire d’intoxication», Réseau Voltaire, 8 de diciembre de 2003.
[1] «Un réseau militaire d’intoxication», Réseau Voltaire, 8 de diciembre de 2003.
[2] «La OTAN
prepara la mayor operación de intoxicación de la Historia», por Thierry
Meyssan, Komsomolskaya Pravda, Red Voltaire, 12 de junio de 2012.
[3] «El
redactor jefe de Time Magazine, nombrado nuevo jefe de la propaganda
estadounidense», Red Voltaire, 16 de abril de 2014.
[4] «Hoja
Informativa del Departamento de Estado: 10 falsedades que Rusia alega sobre
Ucrania», Red Voltaire, 5 de marzo de 2014.
[5] «Hoja del
Departamento de Estado sobre alegaciones de Rusia contra Ucrania», Red
Voltaire, 13 de abril de 2014.
[6] «Ucrania:
Polonia entrenó a los gopistas 2 meses antes de Maidan», por Thierry Meyssan,
Red Voltaire, 18 de abril de 2014.
[7] «¿Quiénes
son los nazis en el gobierno ucraniano?», por Thierry Meyssan, Red Voltaire, 3
de marzo de 2014.