Como as elites financeiras
internacionais trocam governos para implementar austeridade
por ISMAEL HOSSEIN-ZADEH, no Counterpunch, em 28.02.2014
no Viomundo
Guerra global contra os 99%
Muitos países do mundo estão
enfrentando todos os tipos de rebelião armada, sanções econômicas, guerras
civis, golpes “democráticos” e/ou guerras de “troca de regime”.
Eles incluem a Ucrânia,
Venezuela, Síria, Tailândia, Irã, Afeganistão, Iraque, Egito, Iêmen, Somália e
Líbano. Mesmo nos países do capitalismo central a imensa maioria dos cidadãos
está sujeita a uma guerra brutal em nome da austeridade econômica.
Embora não sejam novas, as
convulsões sociais parecem ter se tornado numerosas em anos recentes,
especialmente desde os misteriosos ataques de 11 de setembro contra o World
Trade Center em 2001 e o colapso financeiro dos Estados Unidos em 2008 — que em
seguida levou à implosão econômica e crises similares na Europa e além.
Apesar de muitas diferenças,
essas turbulências sociais tem alguns elementos em comum. O primeiro é que elas
são induzidas, alimentadas e orquestradas de fora, ou seja, pelos Estados
Unidos e seus aliados — naturalmente, em colaboração com seus aliados internos.
O segundo elemento comum é que,
ao contrário do antigo padrão histórico das revoluções sociais, quando as
massas desesperadas e destituídas se rebelavam contra as elites dirigentes, na
maior parte das disputas recentes são as elites que instigam insurgência e
guerras civis contra as massas.
Os dois elementos estão
integralmente ligados: refletem essencialmente os interesses compartilhados e
os esquemas colaborativos das plutocracias internacionais contra os 99%.
Lutando para tornar a economia
da austeridade universal
A razão oficial (oferecida pelos
Estados Unidos e seus aliados), de que o objetivo de apoiar forças
anti-governamentais em lugares como a Síria, Ucrânia e Venezuela é espalhar a
democracia, não tem mais validade; pode facilmente ser descartada como mero pretexto
para exportar o neoliberalismo e espalhar a economia da austeridade.
Provas abundantes e irrefutáveis
demonstram que onde a maioria dos cidadãos votou e elegeu governos que não são
do gosto dos poderes ocidentais, estes poderes mobilizaram seus aliados locais
e contrataram todos os tipos de forças mercenárias para derrubar governos
legitimamente eleitos, com isso esmagando a escolha eleitoral da maioria.
Tais intervenções descaradas para
derrotar o voto incluíram a promoção da Revolução Laranja na Ucrânia (2004 e
2014), a Revolução Rosa na Geórgia (2003), a Revolução do Cedro no Líbano
(2005), a Revolução Tulipa no Quirguistão (2005) e a Revolução Verde no Irã
(2009).
Também incluíram agitação contra
governos eleitos de forma legítima como os do falecido Hugo Chávez e seu
sucessor Nicolás Maduro na Venezuela, assim como a rejeição (com anulamento) do
governo eleito do Hamas na Palestina.
Assim, as verdadeiras forças por
trás das guerras de troca de regime não precisam ser buscadas longe;
especificamente, servem ao imperativo da expansão da acumulação do capital em
escala global.
Líderes socialistas, sociais
democratas, populistas ou nacionalistas que não abraçam as políticas
neoliberais, e que se preocupam em não abrir totalmente seus mercados para o capital
internacional, são alvo de substituição por líderes confiáveis, de
estados-clientes.
Isso não é uma explicação nova
para o imperialismo econômico; é tão antiga quanto a internacionalização do
comércio e do investimento.
O que é relativamente novo, e parece
ser a principal força por trás das recentes guerras de troca de regime, é que
os Estados Unidos e outros poderes capitalistas que ultimamente embarcaram em
políticas de austeridade econômica em casa também esperam — na verdade exigem —
que outros países os sigam.
Em outras palavras, não é apenas
necessário que um país abra seu mercado para o investimento e o comércio com os
poderes econômicos do Ocidente. Parece igualmente importante que o país
desmantele seus programas de bem estar social e implemente as medidas de
austeridade do neoliberalismo.
Por exemplo, depois de resistir a
pressões imperialistas por anos, o líder líbio Muammar al-Gaddafi eventualmente
cedeu em 1993, e deu às companhias de petróleo e outras corporações
transnacionais dos poderes ocidentais contratos de investimento e negócios
lucrativos. Sob pressão, ele até mesmo desmantelou a tecnologia nuclear de seu
país na esperança de que, assim, seria deixado de lado.
Nenhuma das concessões, no
entanto, foi satisfatória para os Estados Unidos e seus aliados e o regime foi
violentamente derrubado em 2011. Gaddafi foi literalmente massacrado por
gangues de bandidos treinados e armados pelos poderes ocidentais.
Por que? Porque os Estados Unidos
e seus aliados esperavam mais; queriam que ele seguisse os ditames econômicos
de “especialistas” das finanças globais, ou seja, dos “assessores” econômicos
dos Estados Unidos e da Europa, do Fundo Monetário Internacional e da
Organização Mundial do Comércio — em outras palavras, queriam que Gaddafi desmantelasse
os programas robustos de bem estar e reestruturasse a economia líbia no modelo
do neoliberalismo.
O tratamento criminoso de Gaddafi
pode ajudar a explicar porque os poderes imperialistas estão trabalhando para
derrubar os regimes populistas/socialistas de Hugo Chávez e seu sucessor na
Venezuela, dos irmãos Castro em Cuba, de Rafael Correa Delgado no Equador, de
Bashar Al-Assad na Síria e de Evo Morales na Bolívia.
Também ajuda a explicar a
derrubada de governos nacionalistas popularmente eleitos, como os de Mohammad
Mossadeq no Irã, Jacobo Arbenz na Guatemala, Kusno Sukarno na Indonésia,
Salvador Allende no Chile, dos sandinistas na Nicarágua, de Jean-Bertrand
Aristide no Haiti e de Manuel Zelaya em Honduras.
A agenda imperialista de derrubar
Gaddafi e outros proponentes “insubordinados” de programas estatais de bem
estar é essencialmente parte da mesma agenda diabólica de desmantelar tais
programas em casa.
Embora a forma, o contexto e os
meios de destruição sejam variáveis, o impulso dos ataques incessantes contra
as condições de vida dos líbios, iranianos, venezuelanos e cubanos é
essencialmente o mesmo dos ataques brutais contra as condições de vida dos
pobres e dos trabalhadores dos Estados Unidos, Reino Unido, França e outros
países capitalistas degenerados.
De forma sutil são todos parte de
uma guerra de classes unilateral em escala global. Sejam levados adiante por
meios militares e bombardeios ou por meios aparentemente “não violentos”,
jurídicos e parlamentares, não faz diferença substancial quanto ao impacto que
tem nas vidas das pessoas envolvidas.
O poderoso establishment
plutocrático dos países centrais do capitalismo não parece se sentir
confortável em desmantelar a política econômica do New Deal, as reformas social
democratas e os programas de bem estar estatais em seus países enquanto o povo
de países menos desenvolvidos, como a Líbia, a Venezuela ou Cuba tiram proveito
de redes de proteção promovidas pelo Estado.
A intolerância da plutocracia com
economias “regimentadas” nasce do medo de que os programas de proteção social
promovidos pelo Estado em outros lugares possa servir de “mau” modelo, exigido
pelos cidadãos dos países do capitalismo central.
Num momento de honestidade, o
ex-presidente dos Estados Unidos Harry Truman disse (em 1947) que a missão não
oficial dos Estados Unidos era globalizar seu sistema econômico: “Todo o mundo
deveria adotar o sistema norte-americano. O sistema norte-americano só pode
sobreviver nos Estados Unidos se ele se tornar um sistema mundial”.
De forma similar, o lorde Cecil
Rhodes, que conquistou boa parte da África para o império britânico, sugeriu
durante os dias gloriosos do império que a forma mais simples de conquistar a
paz era a Inglaterra converter e adicionar o resto do mundo (exceto os Estados
Unidos, a Alemanha e alguns outros poderes do Ocidente) a suas colônias.
O equivalente da Máfia ao que
disseram Truman e Rhodes é algo assim: “Faça como fazemos ou quebramos sua
perna”.
A ideia por trás da declaração
dura de Truman de que o resto do mundo “deveria adotar o sistema
norte-americano” tem na verdade servido como missão sagrada, que guia a
política externa dos Estados Unidos desde que eles suplantaram a autoridade
britânica como o grande poder mundial [depois da Segunda Guerra].
Explica, por exemplo, a razão
real e principal por trás das hostilidades da Guerra Fria entre os Estados
Unidos e seus aliados, de um lado, e a União Soviética e seus aliados, de
outro. Embora a “ameaça do comunismo” tenha sido usada como razão oficial para
o início e a escalada das hostilidades, existem provas convincentes de que
Joseph Stalin e seus sucessores na União Soviética não só não tinham planos de
guerra contra os Estados Unidos e seus aliados como, na verdade, jogaram um
papel de contenção contra movimentos revolucionários mundiais.
“É esquecido”, diz Sidney Lens,
“que por alguns anos depois da guerra, ele [Stalin] assumiu uma postura
excessivamente moderada… Seu país tinha perdido 25 milhões de pessoas na
guerra, estava desesperadamente precisando de ajuda para a reconstrução e
continuou por muito tempo apostando na coexistência. Longe de ser
revolucionário, Stalin naqueles anos colocou a tampa nas revoluções sempre que
pode”.
Para acomodar os Estados Unidos e
outros poderes ocidentais na esperança de coexistência pacífica, Stalin em
geral aconselhava e algumas vezes ordenava que os partidos
esquerdistas/comunistas pró-Moscou da Europa e de outros partes do mundo se
abstivessem de políticas revolucionárias que pudessem ameaçar as chances de
coexistência.
O objetivo ou missão de converter
outras economias em capitalismo no estilo dos Estados Unidos também ajuda a
explicar porque Washington se engajou em tantas operações militares ou
organizou tantos golpes e mudanças de regime em todo o mundo.
A Federação de Cientistas
Norte-Americanos fez uma lista dos engajamentos militares estrangeiros dos
Estados Unidos que mostra que na primeira década depois da queda do muro de
Berlim (1989-99) os Estados Unidos se engajaram em 134 operações do tipo, a maioria
desconhecidas do público norte-americano.
As elites financeiras globais
mudam regimes “que não se acomodam” não apenas em países menos desenvolvidos
mas também em países centrais do capitalismo. Fazem isso nem sempre por meios
militares, mas através de dois poderes mais sutis: (a) eleições dirigidas pelo
dinheiro, vendidas como “democracia em ação”; (b) poderosas instituições
financeiras e think thanks como o Fundo Monetário Internacional, os bancos
centrais e as agências de crédito como Moody’s, Standard & Poor e Fitch.
Um relatório negativo de uma das
agências sobre o status do crédito de um país pode criar confusão para a
posição econômica e financeira nos mercados mundiais, provocando assim o
colapso e a troca de governo.
É assim que durante a turbulência
financeira de anos recentes um número de governos foi trocado em lugares como a
Grécia e a Itália — sem necessidade da tradicional mudança de regime em estilo
militar, mas através de “golpes suaves”, financeiros, com engenharia do FMI e
das agências de crédito que servem mais eficazmente aos mesmos objetivos.
Guerra de classes em escala
global
Como notado, todos os esquemas e
guerras de mudança de regime, sejam pelos meios militares tradicionais ou pelo
poder “suave” do monstro destruidor, representam essencialmente a mesma coisa:
uma forma disfarçada de guerra de classes em escala global, uma guerra
econômica insistente da oligarquia do 1% contra o resto da população do mundo.
Guerra de classes em uma
sociedade de classes não é coisa nova. O que é recentemente novo na guerra do
1% contra os 99% é seu ritmo acelerado, sua escala ampla e seu caráter global
orquestrado.
Enquanto o ataque da austeridade
neoliberal contra as condições de vida do público nos países do coração
capitalista começou (formalmente) com a política econômica do presidente Ronald
Reagan e da primeira ministra Margaret Thatcher mais de três décadas atrás, a
brutalidade de tais ataques se tornou muito mais severa no contexto da atual
crise econômica e financeira, que começou com o crash de 2008 nos Estados
Unidos.
Tirando vantagem do crash (como
enfatizado por Naomi Klein, com a terapia do choque), a oligarquia financeira e
seus representantes nos governos dos países capitalistas centrais tem conduzido
um golpe econômico sistemático contra o povo que inclui o seguinte:
– Transferência de dezenas de
trilhões de dólares do público para a oligarquia financeira através de
programas de austeridade;
– Extensiva privatização de bens
e serviços públicos, inclusive de monumentos históricos insubstituíveis, de
referências culturais que não tem preço, de serviços essenciais como saúde,
educação e fornecimento de água;
– Substituição de políticas de
bem estar públicas por políticas que servem a corporações e bancos;
– Alocação da parte do leão dos
gastos de governo (e da criação de crédito em geral) para o investimento
especulativo, em vez de investimento real;
– Ataque sistemático contra a
aposentadoria de milhões de trabalhadores e servidores públicos;
– Controle ainda mais aberto das
políticas econômica e financeira por representantes da oligarquia financeira.
Combinadas, estas políticas
agravaram ainda mais a distribuição injusta de renda e riqueza nestes países.
Os cortes maciços em gastos sociais resultaram em uma enorme transferência de
renda de baixo para cima.
A transferência, aliás,
representa mais que todas as perdas dos especuladores financeiros desde 2008.
Nos Estados Unidos, por exemplo,
o 1% mais rico agora controla 40% da riqueza do país; enquanto os 80% de baixo
controlam apenas 7%. Agora, o 1% mais rico leva para casa anualmente 24%
da renda total do país, comparados com apenas 9% quatro décadas atrás.
Isso demonstra que, como
apontamos anteriormente, enquanto os ataques neoliberais nos 99% nos países do
capitalismo central podem não parecer tão violentos quanto os que se dão na
Venezuela, Síria ou Ucrânia, o impacto financeiro de tais ataques nas condições
de vida dos 99% não é menos devastador.
Plutocratas do mundo estão
unidos
As políticas de mudança de regime
normalmente são desenvolvidas e levadas adiante em esquemas colaborativos entre
as plutocracias que atravessam fronteiras, ou seja, da oligarquia financeira
dos países imperialistas em parceria com seus colegas nativos em países menos
desenvolvidos.
Além do constante desenvolvimento
de estratégia nos bastidores, os representantes do capital transnacional e seus
agentes nos governos capitalistas também se reúnem em conferências
internacionais para sincronizar suas políticas financeiras e de negócios — um
foco importante em anos recentes é o de implementar medidas de austeridade e
políticas neoliberais globais.
Estes encontros incluem o Fórum
Econômico Mundial em Davos, na Suíça, os encontros do Banco Mundial e do FMI,
os encontros periódicos do G20, o Festival de Ideias do Instituto Aspen, o fórum
anual de geopolítica do Bilderberg Group e o encontro anual de magnatas da
mídia de Herb Allen no Sun Valley — para nomear apenas um punhado de tais
encontros políticos internacionais.
Através das estratégias e
operações globais, o capital transnacional escapou dos controles e compromissos
nacionais e domésticos e foi bem sucedido em alterar a correlação de forças e
as alianças sociais no mundo.
Hoje as elites do capitalismo
global “estão se tornando uma comunidade transnacional de colegas que tem mais
em comum entre si do que com seus compatriotas em casa”, escreve Chrystia
Freeland, editoral global da Reuters, que viaja com as elites em várias partes
do mundo.
“Se mantém suas residências
primárias em Nova York ou Hong Kong, Moscou ou Mumbai, os super-ricos de hoje
crescentemente formam sua própria nação”, ela acrescenta.
Implicações da globalização
para os de baixo
Quais as conclusões que os 99%
podem tirar disso? O que os trabalhadores e outros podem fazer para proteger
seus empregos, suas fontes de vida, suas comunidades e seu meio ambiente? O que
as comunidades de gente comum podem fazer para solapar as estratégias do 1% que
bloqueiam as reformas econômicas e sociais progressistas?
Da mesma forma que, em sua luta
contra os trabalhadores, as elites da classe capitalista internacional não
respeitam a territorialidade e as fronteiras nacionais, a classe trabalhadora precisa
coordenar sua resposta internacionalmente.
Um passo lógico para deter a
estratégia do capital internacional de chantagear os trabalhadores através de
ameaças de destruir ou exportar empregos seria remover os incentivos que
induzem à transferência de plantas, fuga de capitais ou outsourcing.
Tornar os custos de trabalho
comparáveis em escala internacional seria um passo crucial para obter isso.
Assim, é necessário dar passos para o estabelecimento de salários e benefícios
internacionais, ou seja, custo paritário de trabalho dentro da mesma empresa ou
mesmo ramo, sujeito ao (a) custo de vida e (b) produtividade de cada país.
Uma estratégia desse tipo
substituiria a competição entre trabalhadores de vários países com a barganha
coordenada e políticas conjuntas em defesa de interesses mútuos em escala
global.
Embora isso possa parecer
radical, não é mais radical que o que o 1% transnacional está fazendo:
coordenando sua estratégia contra os 99% em escala global.
Se num estágio anterior do
desenvolvimento do capitalismo “trabalhadores de todo o mundo, uni-vos” parecia
um sonho do campeão do trabalho, Karl Marx, a internacionalização do capital, a
abundância de recursos materiais e o desenvolvimento de tecnologia, que
facilitaram a organização e a coordenação de ações além-fronteira dos 99%,
tornaram este sonho uma necessidade urgente.
Como o capital e o trabalho são a
base da produção capitalista, suas respectivas organizações e instituições se
desenvolvem mais ou menos lado a lado, no tempo e no espaço. Assim, quando a
produção era local, o trabalho também era: carpinteiros, sapateiros, pedreiros
e outros trabalhadores se organizavam em suas comunidades locais.
Quando a produção se tornou
nacional, os sindicatos também se tornaram. Agora a produção se tornou global e
as organizações do trabalho precisam se tornar globais para proteger os
direitos de suas comunidades contra os desejos de lucro incessante do capital
transnacional sem limites.
Muitos argumentam que os tempos
de hoje não são propícios para falar em alternativas radicais ao capitalismo. O
estado presente do cenário sociopolítico de nossas sociedades parece dar apoio
a tais sentimentos de pessimismo.
As altas taxas de desemprego na
maior parte do mundo e a resultante rivalidade do trabalho internacional,
combinada com a ofensiva da austeridade neoliberal em escala global jogaram a
classe trabalhadora na defensiva.
A lenta mudança dos partidos
socialistas, sociais democratas e trabalhistas europeus em direção à adoção da
economia de livre mercado dos Estados Unidos e a erosão de seu poder, prestígio
e ideologia tradicionais levaram os trabalhadores à confusão.
O colapso da União Soviética,
embora muitos socialistas tenham se distanciado daquele sistema, assombra o
espectro do socialismo e vai ser assim por um bom tempo. Estes acontecimentos
causaram confusão e desorientação entre os trabalhadores e outras organizações
de base.
Nada disso, no entanto, significa
que não há saída fora do status quo. O capitalismo não é apenas “destrutivo”,
também é “regenerativo”, como colocou Karl Marx. Enquanto captura mercados
mundiais, universaliza o reino do capital e destrói as condições de vida de
muitos, simultaneamente planta as sementes de sua própria transformação.
De um lado, cria problemas comuns
e problemas compartilhados para a maioria da população do mundo; de outro, cria
as condições materiais e a tecnologia que facilitam a comunicação e a
cooperação entre a maioria dos cidadãos do mundo para ações conjuntas e
soluções alternativas.
Quando a maior parte da população
do mundo, os 99% globais, se darão conta disso? Quando vão se apropriar da
tecnologia e dos recursos materiais existentes para gerenciar e organizar
melhor a economia mundial, ninguém sabe dizer.
Mas o potencial e a trajetória de
longo prazo do desenvolvimento socioeconômico apontam naquela direção. A
distância entre o agora e o futuro, entre nossas frustrações imediatas e a
civilização superior de nossos desejos, só pode ser vencida se dermos os passos
necessários para alcançá-la.
Ismael Hossein-zadeh is Professor Emeritus of
Economics, Drake University, Des Moines, Iowa. He is the author of The
Political Economy of U.S. Militarism (Palgrave – Macmillan 2007), the
Soviet Non-capitalist Development: The Case of Nasser’s Egypt (Praeger Publishers
1989), and most recently, Beyond Mainstream Explanations of the Financial
Crisis (forthcoming from Routledge, April 29, 2014). He is a contributor
to Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion (AK Press 2012).
PS do Viomundo: Não é por acaso que a mídia corporativa está se tornando
acima de tudo uma máquina de propaganda a serviço do 1% e que, em breve, haverá
todo tipo de controle sobre a internet e as redes sociais.
PS2 do Viomundo: Oliver Stone, em Untold History of the United States,
vai na mesma linha do articulista, citando uma frase histórica de George
Kennan. O diplomata notou que os Estados Unidos, com uma pequena fatia da
população, controlava a maior parte dos recursos do mundo. Para sustentar este
desequilíbrio, argumentou, a política externa de Washington deveria deixar de
idealismo e se basear na implantação de um sistema econômico “adequado” aos
Estados Unidos em todo o planeta.
publicado em 2 de março
de 2014 às 19:41