A administração Obama está empreendendo uma guerra secreta por todo o planeta, cuja magnitude total não se tinha revelado nunca por completo, até agora.
Publicado Quarta, 05 Março 2014 00:05
TomDispatch - [Nick
Turse, tradução do Diário Liberdade]
Atuam no resplendor verde da
visão noturna no Sudoeste Asiático e espreitam pelas selvas da América do Sul.
Levam homens de seus lares no Magreb* e disparam contra militantes fortemente
armados no Corno da África. Sentem a espuma salgada quando voam sobre as ondas
desde o azul turquesa das Caraíbas ao azul intenso do Pacífico. Levam a cabo
missões no meio do calor abafante dos desertos do Médio Oriente e na congelada
Escandinávia.
A partir de 11 de setembro de
2001, as forças de Operações Especiais de EUA foram crescendo de forma
inimaginável tanto em efetivos como em orçamento. Mais revelador foi, no
entanto, o aumento no despregamento** de operações especiais a nível global.
Essa presença –nestes momentos em quase 70% das nações do mundo– proporciona
novas provas do tamanho e alcance de uma guerra secreta que está se livrando
desde a América Latina às terras mais remotas do Afeganistão, desde as missões
de treinamento com seus aliados africanos às operações de espionagem lançadas
no ciberespaço.
Segundo consta, nos últimos dias
da presidência Bush, as forças de Operações Especiais despregaram-se em 60
países por todo o mundo. Em 2010, esse número aumentava para 75, segundo Karen
DeYoung e Greg Jaffe do Washington Post. Em 2011, o porta-voz do Comando de
Operações Especiais (SOCOM, por suas siglas em inglês), o coronel Tim Nye disse
a TomDispatch que a quantidade total atingiria os 120. Na atualidade, esse
número é ainda mais alto.
Em 2013, as forças de elite dos
EUA despregaram-se em 134 países do planeta, segundo o comandante Matthew
Robert Bockholt, de Assuntos Públicos do SOCOM. Este aumento de 123% durante os
anos de Obama demonstra como, além das guerras convencionais e da campanha com
aviões não tripulados da CIA, a diplomacia pública e a extensa espionagem
eletrônica, os EUA se envolveram em outra importante e crescente forma de
projeção de poder para além de suas fronteiras. Em grande parte levada a cabo
na sombra pelas tropas de elite dos EUA, a imensa maioria destas missões têm
lugar longe de olhares indiscretos, da fiscalização da mídia ou de qualquer
tipo de superintendência externa, aumentando as possibilidades de retalizações
imprevistas e consequências catastróficas.
Indústria em crescimento
Estabelecido formalmente em 1987,
o Comando de Operações Especiais cresceu rapidamente na etapa posterior ao
11/S. Informou-se que o SOCOM está próximo de atingir os 72.000 efetivos em
2014, de 33.000 que eram em 2001. O financiamento para o mundo aumentou também
de forma exponencial à medida que o orçamento de referência para 2001, 2.300
milhões de dólares, atingiu os 6.900 milhões em 2013 (10.400 milhões de
dólares, se se acrescenta o financiamento suplementar). Os despregamentos de
efetivos no estrangeiro dispararam também, de 4.900 homens por ano em 2001 para
11.500 em 2013.
Uma recente investigação de
TomDispatch, consultando documentos do governo em código aberto e comunicados
de imprensa, bem como informações de imprensa, encontrou provas de que as
forças de Operações Especiais dos Estados Unidos se tinham despregado ou se
tinham envolvido com exércitos de 106 nações de todo mundo em 2012-2013. No
entanto, durante o mais de um mês que demoramos a preparar este artigo, o SOCOM
não facilitou estatísticas exatas sobre o número total de países em que se
tinham despregado efetivos especiais: Boinas Verdes e Rangers, SEAL da Marinha
e comandos da Força Delta. “Não temos essas estatísticas aqui”, explicou
Bockholt do SOCOM em uma entrevista telefônica quando o artigo estava quase
pronto. “Temos que nos pôr a procurar e leva muito tempo fazer isso”. Horas
depois, justo antes da publicação, respondeu a uma pergunta que se lhe tinha
feito em novembro do ano passado. “As Forças de Operações Especiais
despregaram-se por 134 países” durante o ano fiscal de 2013, explicava Bockholt
em um e-mail.
Operações Especiais
globalizadas
No passado ano, o chefe do
Comando de Operações Especiais, o Almirante William McRaven explicava sua visão
com respeito à globalização das operações especiais. Em uma declaração ante o
Comitê de Serviços Armados do Congresso, disse:
“USSOCOM está melhorando sua rede
global de Forças de Operações Especiais a fim de apoiar nossos relacionamentos
interinstitucionales e sócios internacionais para poder dispor de conhecimentos
situacionales alargados de ameaças e oportunidades emergentes. A rede
possibilita uma presença pequena e persistente em locais cruciais e facilita as
possibilidades de atuação onde seja necessário ou conveniente?
Embora essa “presença” possa ser
pequena, o alcance e influência dessas forças de Operações Especiais são outra
questão. O salto de 12% nos despregamentos nacionais -de 120 para 134- durante
o mandato de McRaven reflete seu desejo de pôr as botas sobre o terreno por
todo o planeta. O SOCOM não cita as nações implicadas, alegando as
sensibilidades da nação anfitriã e a segurança dos efetivos estadounidenses,
mas os despregamentos que conhecemos deitam ao menos alguma luz sobre o alcance
total das missões que o exército secreto dos EUA está levando a cabo.
Por exemplo, o passados abril e
maio, o pessoal de Operações Especiais tomou parte em exercícios de treinamento
em Yibuti, Malawi e as ilhas Seychelles, no Oceano Índico. Em junho, os SEAL da
Marinha estadounidense uniram-se a forças iraquianas, jordanianas, libanesas e
outros aliados de Médio Oriente para realizar simulacros bélicos irregulares em
Aqaba, Jordânia. Ao mês seguinte, os Boinas Verdes viajaram a Trinidad e Tobago
para pôr em marcha pequenas unidades de exercícios táticos com as forças
locais. Em agosto, os Boinas Verdes treinaram a marinheiros hondureños em
técnicas de explosivos. Em setembro, segundo as notícias da imprensa, as forças
de Operações Especiais de EUA uniram-se a tropas de elite dos dez países
membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático ?Indonesa, Malásia,
Filipinas, Cingapura, Tailândia, Brunei, Vietnã, Laos, Myanmar (Birmania) e
Camboja-, bem como com seus homólogos da Áustria, Nova Zelândia, Japão, Coréia
do Sul, Chinesa, Índia e Rússia, para levar a cabo uns exercícios contra o terrorismo,
financiados conjuntamente, que se celebraram em um centro de treinamento de
Sentul, ao oeste de Java.
Em outubro, as tropas de elite de
EUA levaram a cabo incursões com comandos em Líbia e Somalia, sequestrando a um
suspeito de terrorismo na primeira nação citada enquanto os SEAL matavam ao
menos a um militante na segunda antes de que a resposta armada lhes expulsasse.
Em novembro, as tropas de Operações Especiais levaram a cabo operações
humanitárias em Filipinas para ajudar aos sobreviventes do tifón Tenham. Ao
seguinte mês, membros do 352º Grupo de Operações Especiais realizou um
exercício de treinamento no que participaram 130 pilotos e seis aviões em uma
base aérea da Inglaterra, e vários SEAL da Marinha resultaram feridos quando
participavam em uma missão de evacuação em Sudão do Sul. Os Boinas Verdes
entraram o 1 de janeiro deste ano em uma missão de combate junto a tropas de
elite afegãs no povo de Bahlozi, província de Kandahar.
No entanto, esses despregamentos
por 134 países não parecem ser suficientes para o SOCOM. Em novembro de 2013, o
comando anunciou que estava tratando de identificar sócios industriais que
pudessem, sob a Iniciativa do Site Transregional do SOCOM, “desenvolver
potencialmente novas páginas na Internet à medida das audiências estrangeiras”.
Estas se uniriam a uma rede global já existente de dez páginas na Internet
dedicadas à propaganda, dirigidas por vários comandos combatentes e
configuradas para que pareçam correntes legítimas de notícias, incluindo
CentralAsiaOnline.com; Sabahi, focada para o Corno da África; um esforço
dirigido ao Médio Oriente conhecido como Al-Shorfa-com; e outra para a América
Latina, que recebe o nome de Infosurhoy.com.
O impulso do SOCOM no ciberespaço
reflete-se no esforço concertado do comando para se integrar a cada vez mais
profundamente em Beltway. “Tenho colegas em todas agências aqui, em Washington
DC, desde a CIA, ao FBI, à Agência de Segurança Nacional, à Agência Geoespacial
Nacional, à Agência de Inteligência da Defesa”, disse o almirante em chefe do
SOCOM, McRaven, durante um painel de discussão no Centro Wilson de Washington
no ano passado. Quando falou na Biblioteca Ronald Reagan em novembro, assinalou
que o número de departamentos e agências onde o SOCOM se tem entrincheirado é
de 38.
134 possibilidades de
represálias
Embora eleito em 2008 por muitos
que o consideravam um candidato antibelicista, o presidente Obama demonstrou
ser um comandante-em-chefe decididamente militarista, cujas políticas
produziram já notáveis exemplos do que na gíria da CIA se chama desde faz tempo
represálias. Embora a administração Obama supervisionasse a retirada dos EUA do
Iraque (negociada por seu predecessor), bem como uma redução de tropas
estadounidenses no Afeganistão (depois de um importante incremento militar
nesse país), o presidente encabeçou um aumento da presença militar
estadounidense na África, uma revitalização dos esforços na América Latina e um
duro discurso sobre um reequilibrio ou “pivô na Ásia” (embora até o momento
pouco se tenha feito).
A Casa Branca supervisionou
também uma expansão exponencial da guerra dos EUA com aviões não tripulados.
Enquanto o presidente Bush lançou 51 ataques desse tipo, o presidente Obama
ordenou ao redor de 330, segundo uma investigação realizada pelo Burô do
Jornalismo de Investigação que tem sua sede em Londres. Só no passado ano, EUA
interveio também em operações de combate no Afeganistão, Líbia, Paquistão,
Somália e Iêmen. As recentes revelações de Edward Snowden sobre a Agência da
Segurança Nacional demonstraram a enorme amplidão e global alcance da
espionagem eletrônica estadounidense durante os anos de Obama. E no mais
profundo das sombras, as forças de Operações Especiais estão sendo agora
anualmente despregadas a mais do dobro do número de nações que no fim do
mandato de Bush.
No entanto, nos últimos anos, as
consequências não desejadas das operações militares dos EUA ajudaram a semear
indignação e descontentamento, incendiando regiões inteiras. Mais de dez anos
após o momento “missão cumprida” dos EUA, sete anos após seu tão alardeado
incremento, o Iraq que EUA deixou está ardendo. Um país em que não tinha
presença a Al-Qaida antes da invasão estadounidense e um governo que se opunha
aos inimigos dos EUA em Teerã, tem agora um governo central alinhado com o Irã
e duas cidades em que ondean as bandeiras da Al-Qaida.
Uma intervenção dos EUA mais
recente para propiciar o derrocamento do ditador líbio Muammar Gadafi ajudou a
empurrar a vizinha Mali, um baluarte apoiado pelos EUA contra o terrorismo
regional, para uma espiral descendente, onde um oficial treinado pelos EUA deu
um golpe de Estado que finalmente produziu um sangrento ataque terrorista
contra uma central de gás argelina, desencadeando uma espécie de diáspora do
terror na região.
E, nestes momentos, o Sudão do
Sul “uma nação cujo nascimento foi dirigido pelos EUA, que o apoiou econômica e
militarmente (apesar de depender dos meninos soldados) e que utilizou como base
secreta das forças de Operações Especiais-, está se vendo rasgada pela
violência e desliza para a guerra civil.
A presidência de Obama tem
presenciado como as forças táticas de elite do exército estadounidense se
empregavam a cada vez mais para tentar conseguir objetivos estratégicos. Mas
com as missões das forças de Operações Especiais mantidas no estrito segredo,
os estadounidenses têm muito escassos conhecimentos de por onde é que se estão
despregando suas tropas, o que é que estão fazendo exatamente ou que consequências
é que poderiam acarretar. Como o coronel do exército retirado Andrew Bacevish,
professor de história e relacionamentos internacionais na Universidade de
Boston, assinalou: a utilização de forças de Operações Especiais durante os
anos Obama fez com que diminuísse a responsabilidade militar, fortaleceu uma
“presidência imperial” e preparou o palco para uma guerra sem fim. “Em resumo”,
escreveu a TomDispatch, “pôr a guerra em mãos de efetivos especiais cerceia o
tênue fio entre a guerra e a política; converteu-se na guerra pela guerra”.
As operações secretas das forças
secretas têm uma desagradável tendência a produzir consequências não desejadas,
imprevistas e completamente desastrosas. Os nova-iorquinos recordarão bem o
resultado final do apoio clandestino de EUA aos militantes islâmicos contra a
União Soviética no Afeganistão durante a década dos oitenta: o 11/S. Mas, por
estranho que pareça, os que nesse dia estavam no local do principal ataque, o
Pentágono, parecem não ter aprendido as óbvias lições dessa letal retaliação.
Inclusive hoje, no Afeganistão e Paquistão, mais de doze anos após que EUA
invadisse o primeiro e quase dez anos após empreendesse ataques encobertos no
segundo, os EUA continuam ainda lidando com esses efeitos colaterais da Guerra
Fria: por exemplo, com os aviões teledirigidos da CIA lançando ataques com
mísseis contra uma organização (a rede Haqqani), à qual na década de 1980 a
Agência fornecia mísseis.
Sem uma ideia clara de onde estão
atuando as forças clandestinas do exército e do que estão fazendo, os
estadounidenses nem sequer podem reconhecer as consequências de todo isso e as
represálias pelas guerras secretas em expansão enquanto estas alastram peloo
mundo todo. Mas se a história serve de algo, essas consequências vão se sentir
desde o sudoeste asiático até o Magreb, desde Médio Oriente à África Central e,
finalmente, é possível que também se sintam nos EUA.
Em seu plano de ação para o
futuro, o SOCOM 2020, o almirante McRaven tratou de vender a globalização das
operações especiais de EUA como um meio para “projetar poder, promover a
estabilidade e impedir os conflitos”. É possível que no passado ano o SOCOM se
tenha dedicado a fazer justo o contrário em 134 cenários.
Nick Turse é
editor-chefe de Tomdispatch.com e pesquisador de The Nation Institute. É autor
de The Complex: How the Military Invade Our Everyday Lives e de uma história
sobre os crimes de guerra dos EUA no Vietnã: “Kill Anything That Moves: The
Real American War in Vietnã”.
[Geog.]- Magrebe é o nome de uma região
geográfica, situa da no norte e noroeste da África. Engloba os territórios do Marrocos,
Argélia, Mauritânia, Tunísia e Líbia. Na época do Império Romano era chamada de
¨ África Menor ¨. Os limites desta região são: ao norte o mar Mediterrâneo, a
oeste o oceano Atlântico , ao sul o deserto do Sahara e leste a fronteira do
Egito.
O magrebe é uma
região de clima mediterrâneo com chu-
vas escassas, salvo nas zonas litorâneas.
vas escassas, salvo nas zonas litorâneas.
**despregamento em português
"despregamento",
galego-português
implantação
implementação
desdobramento
Frases semelhantes no dicionário galego
português.
despregamento dispoñible desde Internet
implementação com acesso à Internet; implantação
para a Internet
Servidor de administración de despregamento
Servidor de Administração de Implantação; Servidor
de Administração de Implementação
Karen DeYoung é editor associado sênior e
correspondente de segurança nacional para o Washington Post.
Greg Jaffe Da equipe de
redação o The Washington Post em
área militar