Aproveitando que a Standard & Poor’s virou notícia no Brasil, por ter rebaixado nossas notas, vale trazer à baila algumas informações sobre o histórico recente da agência.
Ano passado, o Departamento de Justiça dos EUA acusou* a Standard & Poor por crimes contra o
sistema financeiro. O governo americano acusou a agência de manipular
informações entre 2004 e 2007, ajudando a botar fogo na crise financeira.
25/03/2014
Entretanto, a voz mais autorizada para falar da Standard & Poor é
Paul Krugman, prêmio Nobel de economia.
Abaixo, trechos de artigo que o economista escreveu há algum tempo sobre
a agência:
(…) Standard & Poor’s tem ainda menos credibilidade; esta agência
é a pior instituição à qual alguém deveria recorrer para receber opiniões sobre
as perspectivas do nosso país.
(…)
Comecemos pela falta de credibilidade da Standard & Poor’s. Se existe uma única expressão que melhor descreve a decisão da agência de classificação de risco de rebaixar os Estados Unidos, esta palavra é chutzpah (cara de pau) – tradicionalmente definida pelo exemplo do jovem que mata os pais e depois suplica por clemência pelo fato de ser órfão.
Comecemos pela falta de credibilidade da Standard & Poor’s. Se existe uma única expressão que melhor descreve a decisão da agência de classificação de risco de rebaixar os Estados Unidos, esta palavra é chutzpah (cara de pau) – tradicionalmente definida pelo exemplo do jovem que mata os pais e depois suplica por clemência pelo fato de ser órfão.
(…)
E a má avaliação não parou aí. É notório o fato de a Standard & Poor’s ter dado ao Lehman Brothers, cujo colapso provocou um pânico global, uma classificação A no mês em que aquele banco faliu. E como foi que a agência de classificação de risco reagiu depois que a instituição financeira de nota A foi à falência? Ela emitiu um relatório no qual negava ter cometido qualquer erro.
E a má avaliação não parou aí. É notório o fato de a Standard & Poor’s ter dado ao Lehman Brothers, cujo colapso provocou um pânico global, uma classificação A no mês em que aquele banco faliu. E como foi que a agência de classificação de risco reagiu depois que a instituição financeira de nota A foi à falência? Ela emitiu um relatório no qual negava ter cometido qualquer erro.
Eles querem desossar a reeleição.
*
O artigo, na íntegra:
O artigo, na íntegra:
Standard & Poor’s não tem credibilidade para avaliar dívida dos
EUA
Por Paul Krugman, no New York Times, e no UOL.
Para entender todo o furor em torno da decisão da agência de
classificação de risco Standard & Poor’s de rebaixar os títulos da dívida
do governo dos Estados Unidos, é preciso que se leve em consideração duas
ideias aparentemente (mas não realmente) contraditórias. A primeira é que os
Estados Unidos não são de fato mais aquele país estável e confiável que era no
passado. A segunda é que a própria Standard & Poor’s tem ainda menos
credibilidade; esta agência é a pior instituição à qual alguém deveria recorrer
para receber opiniões sobre as perspectivas do nosso país.
Comecemos pela falta de credibilidade da Standard & Poor’s. Se existe
uma única expressão que melhor descreve a decisão da agência de classificação
de risco de rebaixar os Estados Unidos, esta palavra é chutzpah (cara de pau) –
tradicionalmente definida pelo exemplo do jovem que mata os pais e depois
suplica por clemência pelo fato de ser órfão.
O grande déficit orçamentário dos Estados Unidos é, afinal de contas,
basicamente o resultado da queda econômica que se seguiu à crise financeira de
2008. E, a Standard & Poor’s, juntamente com as outras agências de
classificação de riscos, desempenhou um papel importante no que se refere a
provocar aquela crise, ao conceder classificações AAA a papeis lastreados em
hipotecas que acabaram se transformando em lixo tóxico.
E a má avaliação não parou aí. É notório o fato de a Standard &
Poor’s ter dado ao Lehman Brothers, cujo colapso provocou um pânico global, uma
classificação A no mês em que aquele banco faliu. E como foi que a agência de
classificação de risco reagiu depois que a instituição financeira de nota A foi
à falência? Ela emitiu um relatório no qual negava ter cometido qualquer erro.
Então, são essas as pessoas que agora decretam que os Estados Unidos da
América não são mais dignos de crédito?
Mas esperem, essa história fica ainda melhor. Antes de rebaixar os papeis
da dívida dos Estados Unidos, a Standard & Poor’s enviou um esboço
preliminar do seu novo relatório ao Departamento do Tesouro. Os funcionários do
departamento identificaram rapidamente um erro de US$ 2 trilhões nos cálculos
da Standard & Poor’s. E o erro era daquele tipo que nenhum especialista em
orçamento poderia cometer. Após discussões, a Standard & Poor’s admitiu que
estava errada – e rebaixou os Estados Unidos assim mesmo, após remover uma
parte da sua análise econômica do relatório.
Conforme eu explicarei daqui a pouco, não se deveria dar muito crédito,
de qualquer maneira, a tais estimativas de orçamento. Mas o episódio não gera
exatamente confiança na avaliação da Standard & Poor’s.
De forma mais geral, as agências de classificação de risco jamais nos
proporcionaram qualquer motivo para que nós levássemos a sério as suas
avaliações sobre solvência nacional. É verdade que nações que declararam
moratória geralmente foram rebaixadas antes que isso acontecesse. Mas em tais
casos as agências de classificação de risco estavam simplesmente seguindo os
mercados, que já haviam repudiado esses devedores problemáticos.
E, nos casos raros em que as agências de classificação de risco
rebaixaram países que, como os Estados Unidos neste momento, ainda gozavam da
confiança dos investidores, essa decisão por parte delas se revelou
consistentemente equivocada. Vejamos, particularmente, o caso do Japão, que foi
rebaixado pela Standard & Poor’s em 2002. Bem, nove anos depois o Japão
ainda consegue pegar dinheiro emprestado livremente e a juros módicos. De fato,
na última sexta-feira, a taxa de juros sobre os títulos de 10 anos do Japão era
de apenas 1%.
Portanto, não existe motivo para levar a sério o rebaixamento dos Estados
Unidos ocorrido na sexta-feira passada. As últimas pessoas em cuja avaliação
deveríamos confiar são os analistas da Standard & Poor’s.
No entanto, os Estados Unidos têm de fato grandes problemas.
Esses problemas têm muito pouco a ver com a aritmética orçamentária de
curto prazo ou mesmo com a de médio prazo. O governo dos Estados Unidos não
está tendo problemas para pegar dinheiro emprestado para cobrir a sua dívida
atual. É verdade que nós estamos acumulando dívida, sobre a qual teremos que
pagar juros. Mas se fizermos de fato as contas, em vez de ficarmos repetindo os
números enormes com voz sinistra, descobriremos que até mesmo déficits muito
elevados no decorrer dos próximos anos terão um impacto pequeno sobre a
sustentabilidade fiscal dos Estados Unidos.
Não, o que faz com se tenha a impressão de que os Estados Unidos não são
confiáveis não é a matemática orçamentária, mas sim a política. E, por favor,
não vamos repetir as declarações usuais de que ambos os lados são culpados. Os
nossos problemas são quase que inteiramente provocados por um dos lados – eles
são causados, especificamente, pelo crescimento de um extremismo de direita que
está preparado para criar crises repetidas em vez de ceder um centímetro sequer
em relação às suas exigências.
O fato é que, no que se refere à economia básica, os problemas fiscais de
longo prazo dos Estados Unidos não devem ser tão difíceis assim de se resolver.
É verdade que uma população em processo de envelhecimento e o aumento dos
custos dos serviços de saúde provocarão um aumento mais rápido – sob as atuais
políticas – dos gastos do que das receitas tributárias. Mas os Estados Unidos
têm custos com saúde bem mais elevados do que os de qualquer outra nação
desenvolvida, e impostos muito baixos segundo os padrões internacionais. Se nós
pudéssemos nos aproximar, ainda que parcialmente, das normas internacionais
nessas duas frentes, os nossos problemas orçamentários seriam resolvidos.
Então, por que é que não podemos fazer isso? Porque temos neste país um
movimento político poderoso que gritou “comitês da morte” ao se deparar com
tentativas modestas de utilização mais efetiva das verbas do Medicare, e que
preferiu que nós corrêssemos o risco de uma catástrofe financeira do que
concordar com a cobrança de um único centavo em impostos adicionais.
O verdadeiro problema enfrentado pelos Estados Unidos, mesmo em termos
puramente fiscais, não é determinar se nós cortaremos um trilhão aqui ou um
trilhão ali do nosso déficit. O problema é saber se os extremistas que estão
atualmente bloqueando qualquer tipo de política responsável podem ser
derrotados e marginalizados.
Tradutor: UOL
Artigo publicado em 09/08/2011
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