"A ignorância é a condição necessária, não digo da
felicidade, mas da vida mesmo. Se soubéssemos tudo, não poderíamos suportar a
existência por uma hora sequer. Os sentimentos que a tornam doce para nós, ou
tolerável em certa medida, têm origem na falsidade e são alimentados pelas
ilusões". Anatole France - O jardim de
Epicuro
Pressupostos econômicos:
Durante o início da década de
1990, fortemente influenciado pelos ditames do Banco Mundial, o Estado
brasileiro assumiu uma nova postura com relação à economia e à educação. Estas
diretrizes, que acabaram por influenciar o desenvolvimento posterior do país,
foram engendradas em um contexto econômico-social bastante específico.
Lembremos que no final da década de 1980 ocorreu a Queda do Muro de Berlim
(1989), o que resultou na falência de todo o já decadente sistema socialista,
liderado pela antiga União Soviética. A queda do Muro significou a vitória da
economia de mercado contra a economia “planejada”, autoproclamada economia
socialista. Todas as estruturas dos governos socialistas ruíram em poucos
meses, e rapidamente se instalou nos ex-países socialistas uma pseudo-economia
de mercado (arquitetada pelos executivos do Banco Mundial e FMI), que por falta
de estrutura passou a se fundamentar em favores políticos e na corrupção. Com
isso, a Rússia entrou em uma crise econômica e social, da qual até hoje
não se recuperou completamente.
Nos países capitalistas,
principalmente a Inglaterra e os Estados Unidos, onde governava a dupla
Margareth Thatcher e Ronald Reagan, o clima era de vitória pela derrocada dos
países comunistas. Na imprensa neoliberal o sociólogo americano Francis
Fukuyama proclamava à época o “fim da história” – numa irônica alusão à Marx,
que no Manifesto Comunista lançava a ideia do “fim da história”. Afirmava Marx
que depois da eliminação do capitalismo e da abolição do Estado, vigoraria a
sociedade comunista em todo o mundo. Para Fukuyama, com a queda dos regimes
socialistas, a democracia liberal e a sociedade de mercado haviam dominado o
planeta, eliminado toda oposição socialista. (Hoje sabemos que mesmo sem ter
oponentes, o capitalismo não melhorou a situação dos trabalhadores, deixando
bilhões de pessoas na miséria, à margem do sistema. Além disso, com a crise de
2008, os ferrenhos defensores da economia de mercado tiveram, em todos os
países, que depender da ajuda do Estado como indutor do crescimento econômico).
Thatcher por seu lado, sempre foi
grande incentivadora das privatizações na Inglaterra, tirando o apoio do Estado
a diversas atividades econômicas. Reagan sofreu muita influência de sua equipe
econômica, em grande parte constituída por egressos da Universidade de Chicago,
meca do pensamento liberal de Milton Friedman (Prêmio Nobel em 1976).
Forma-se assim, a partir do final
dos anos 80 e início dos anos 90, uma situação política, social e econômica que
iria influenciar o desenvolvimento da economia mundial – e de outros setores
sociais – dali em diante. Algumas características deste período foram:
- Redução da ação do Estado,
processos de privatização;
- Economia de mercado,
valorização do capital e da livre-iniciativa;
- Suspeita em relação a grandes
projetos estatais, já que significavam grandes aportes de capitais e mais
domínio do Estado;
- Privatização das companhias
estatais, desvalorização da carreira pública;
- Concessão de serviços, antes
monopólios do Estado, ao capital privado, entre outros;
- Crença incondicional de que a
economia de mercado seria a solução para todos os problemas econômicos e
sociais; entre outros fatores.
A questão da educação:
No Brasil governava Fernando Collor,
eleito com uma proposta nitidamente neoliberal, com o apoio maciço do grande
capital nacional e internacional, das classes médias dependentes e das massas
iludidas. Vigorava, desde o governo Sarney, a abertura da economia brasileira,
o que forçou a acomodada indústria nacional a melhorar seus produtos. No
governo Collor e FHC ocorrem as grandes privatizações de estatais (telefonia,
ferrovia, energia, entre outras), seguindo o receituário estabelecido pelo
Banco Mundial e FMI: o “Consenso de Washington” – uma série de diretrizes a
serem seguidas na área econômica e social pelos países em desenvolvimento. Por
essa época, o Banco Mundial impôs uma série de restrições aos países em
desenvolvimento interessados em obter financiamento. Estas medidas previam
redução dos investimentos em infraestrutura; entre outros uma redução das
verbas destinadas à educação. Criaram-se Medidas Provisórias e Decretos,
visando desincompatibilizar gradualmente o Estado de suas funções de mantenedor
do ensino público, incentivando o aumento da participação privada. O ensino
deveria ser dirigido para a racionalidade empresarial: eficiência, objetividade
e lucros.
A situação pode ser resumida da
seguinte maneira. Por um lado, havia todo um clima mundial de entusiasmo com a
livre empresa. O desaparecimento das burocracias estatais no bloco soviético
anunciava novos tempos em todo o mundo. Os países em desenvolvimento, como o
Brasil, eram influenciados também por estas idéias, como vimos acima.
Inegavelmente, esta situação trouxe benefícios e desvantagens. Na parte
econômica livrou o país de uma série de obstáculos, estabelecidos ao longo de
décadas de políticas estatizantes, nepotismo, populismo e manutenção de
privilégios. A abertura de mercado fez com que empresas – nacionais e estrangeiras
localmente estabelecidas – perdessem o monopólio do mercado; propiciou o acesso
a produtos e serviços melhores, através da concorrência.
Por outro lado, este tipo de
mentalidade fez com que fossem reduzidos os investimentos em vários
setores da infraestrutura, inclusive a educação. Ao invés de inserirem a
educação brasileira em novos patamares de qualidade e atuação – como
efetivamente aconteceu na indústria, por exemplo – esta mentalidade
mercantilista apenas degradou mais ainda a o já baixo nível do ensino no
Brasil, colocando o país em um dos mais ínfimos patamares educacionais no
mundo. Agora, para que o país recupere a qualidade do ensino publico da década
de 1960, ainda serão necessários muitos anos de trabalho. Valeria a pena
colocar a educação como prioridade máxima na estratégia de médio e longo prazo
do país – apesar dos interesses em contrário, já que um povo ignorante é mais
facilmente manipulável.
Aspecto positivo que podemos
citar de todo este processo foi a adoção do ensino à distância, o EAD. Todavia,
tal fato foi muito mais um resultado do desenvolvimento tecnológico mundial,
com os computadores e a internet, do que iniciativa do governo brasileiro.
Este, como de costume, foi atropelado pelos fatos e só contribuiu na elaboração
de algumas leis que procuram organizar este inovador sistema de ensino.
Para resumir, podemos dizer que
de todo este processo a educação brasileira muito pouco se beneficiou, ao
contrário. Resta saber até quando grande parte da população brasileira, que depende
do ensino público, continuará vivendo a reboque da história.
(imagens: Fernand Léger)
por Ricardo Rose
sábado, 26 de março de 2011
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Jacques Anatole François Thibault |
Epicurismo é o sistema filosófico que prega a procura
dos prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de libertação
do medo, com a ausência de sofrimento corporal pelo conhecimento do
funcionamento do mundo e da limitação dos desejos. Já quando os desejos são exacerbados
podem ser fonte de perturbações constantes, dificultando o encontro da
felicidade que é manter a saúde do corpo e a serenidade do espírito, ensinadopor Epicuro de Samos, filósofo ateniense do século IV
a.C., e seguido depois por outros filósofos, chamados epicuristas. Epicuro
também é conhecido como o Filósofo do Jardim, pois "O Jardim" foi
como ficou conhecida a escola por ele fundada e que consistia numa comunidade
de amigos e seguidores. Lá, escreveu com detalhes a filosofia que iria se
tornar conhecida como epicurismo.