segunda-feira, 3 de março de 2014

Falácias e Paradoxos


O que distingue uma falácia de um paradoxo?



Falácias


1. Designa-se por falácia um raciocínio errado com aparência de verdadeiro. O termo falácia deriva do verbo latino fallere que significa enganar. As falácias que são cometidas involuntariamente, designam-se por paralogismos; as que  são produzidas de forma a confundir alguém numa discussão designam-se por sofismas.  

2. Existem muitos tipos de falácias, não havendo consenso quanto à sua classificação. Para efeitos de nosso estudo vamos classificá-las em dois grandes tipos:

a) As falácias formais, constituídas por raciocínios inválidos de natureza dedutiva.

b) As falácias informais, que compreendem os tipos restantes.





Falácias Formais


1. Falácia da afirmação do consequente

 Ex. Se as estradas têm gelo, o correio está atrasado.
      O correio está atrasado.
      Logo, as estradas têm gelo.
As premissas podem ser verdadeiras, mas a conclusão é falsa. A conclusão é abusivamente inferida, ignorando-se as outras alternativas.


2. Falácia da negação do antecedente

Ex. Se as estradas têm gelo, o correio está atrasado.
      As estradas não tem gelo.
      Logo, o correio não está atrasado.


3. Falácia da Conversão

Ex. O mendigo pede.
      Logo, quem pede é mendigo.
      Não respeitam as leis da oposição


4. Falácia de Oposição

Ex. É falso que todo o homem é sábio.
     Nenhum homem é sábio.
     Não respeita as leis da oposição.


Falácias Informais



Falácias cujas premissas:

a) Não são relevantes para a conclusão.
b) Não fornecem dados suficientes para garantir a conclusão.
c) Estão formuladas com linguagem ambígua.
A capacidade persuasiva destes argumentos reside frequentemente no seu impacto psicológico sobre o auditório. 



5. Apelo à Piedade


Faz-se apelo à misericórdia do auditório de forma a que a conclusão seja aceita. 
Exemplos:
 a) Sr. Juiz não me prenda, porque se o fizer os meus filhos ficam desamparados. 
 b) Não torne o seu filho infeliz, adquira-lhe já um televisor panorâmico!



6. Apelo à Ignorância

 Utiliza-se uma premissa baseada na insuficiência de evidências para sustentar ou negar uma dada conclusão.

Exemplo:
a) Ninguém provou que Deus existe. Logo, Deus não existe.
b) Ninguém provou que Deus não existe. Logo, Deus existe.



7. Apelo à Força

Pressão psicológica sobre o auditório. Os argumentos são substituídos por ameaças de punições.
Exemplos:
a) As minhas ideias são verdadeiras, quem não as seguir será castigado.
b) Ou te calas ou não te dou dinheiro para ires ao cinema.
c) A força faz a lei.



8. Apelo à Autoridade

Faz apelo à autoridade e prestígio de alguém para sustentar uma dada conclusão.
Exemplos:
a) Einstein, o maior gênio de todos os tempos, gostava batatas fritas. Logo, as batatas fritas são o melhor alimento do mundo.
b) O que foi bom no passado para a tua família é também bom para ti.



9. Ataque Pessoal

Coloca-se em causa a credibilidade do oponente, através de ataques pessoais, de forma a desvalorizar a importância de seus argumentos. 
Ex. Esta mulher afirma que foi roubada! Mas que confiança nos pode merecer alguém que vive com uma ladra?



10. Apelo ao Povo

Apela-se à emoção e preconceitos das pessoas, não à sua razão.
Ex. Querem uma escola melhor? Querem um melhor ensino? Votem na lista Z.



11. Argumento do Terror

Evocam-se as consequências negativas que podem resultar da não admissão de determinada tese.
Ex. Ou nós ou o caos!  A escolha é vossa.



12. Falácia da Bola de Neve

Exagera-se nas consequências que podem resultar se for aceita uma dada tese.
Ex. Os pequenos delitos se não forem severamente reprimidos, abrem caminho aos crimes mais hediondos. 



13. Falácia ignorância da causa

A conclusão é extraída de uma sucessão de acontecimentos. Um fato circunstancial é tomado à causa principal.   
Exemplos:
a) Depois do cometa houve uma epidemia; logo, os cometas causam epidemias.
b) O dinheiro desapareceu do cofre depois do João ter saído da loja. Logo...
c) O trovão ocorreu depois do relâmpago. Logo, o relâmpago é a causa do trovão.



14. Falácia do ônus da Prova



15. Falso Dilema

Apenas são apresentadas duas alternativas, sendo omitidas as restantes hipóteses.
Exemplos:
a) Quem não está por mim, está contra mim.
b) É pegar ou largar!
c) O Joaquim é genial ou idiota. Como não se revelou genial, é pois idiota. 



16. Perguntas capciosas

A pergunta funciona como uma armadilha para quem responde.
Exemplos:
a). Perante uma situação em que são solicitadas respostas do tipo sim ou não, pergunta-se a alguém que se vê envolvida num furto ocorrido numa escola:
"Já deixou de roubar na escola?"
b) Vocês ganharam fazendo trapaça ou subornando o arbitro?
c) Continuas tão egoísta como eras?
Qualquer resposta do tipo sim ou não, compromete o sujeito em atos ilícitos.



17. Múltiplas perguntas

Consiste em confundir o adversário com várias perguntas de modo a que não seja possível uma única resposta, ou levando-o a contradizer-se.



18. Petição de Princípio

Pretende-se provar uma conclusão, partindo de uma premissa que é a própria conclusão. Considera-se como provado algo que se pretende provar.
Exemplos:
a) Toda a gente sabe que as autarquias são corruptas. Por isso não faz sentido provar o contrário.
b) O aborto é um crime; logo comete um crime quem aborta.
c) O Corão é indiscutível porque é a palavra de Deus.




18.1. Raciocínio Circular

Exemplos:
a) Porque o ópio faz dormir?  Porque tem propriedades dormitativas!
b) O que é a História? Uma ciência que estuda fatos históricos.



19. Ignorância da Questão

A questão em discussão é ignorada, centrando-se o orador em aspectos marginais.
Exemplo:
Ao longo dos tempos têm sido cometidas inúmeras injustiças. Muitos inocentes têm sido condenados. Este indivíduo é de trato afável, simpático, trabalhador e estimado por todos.



20. Falácia do Espantalho

Consiste em atribuir a outrem uma opinião fictícia ou deturpar as suas afirmações de modo a terem outro significado.



21. Enumeração Incompleta

Atribui-se ao todo aquilo que só está provado para casos particulares. 
Exemplo:
Esta e aquela laranja são amargas. Todas as laranjas são amargas.



22. Falsa Analogia

Tirar conclusões de um caso para outro semelhante, sem ter em conta as suas diferenças.
Exemplo:
As aves voam.
Os morcegos voam.
Logo, os morcegos são aves.



23. Falácia de premissas falsas

Premissas ambíguas podem levar a confusões, neste caso entre gênero e espécie.
Exemplo:
Os animais são irracionais; Logo, és irracional.



24. Falácia do Não Consequente

A conclusão não é justificada pelas premissas.
Exemplos:
a) Trabalhei bastante para o exame; logo devia ter obtido uma boa nota.
b) Trabalhou para Einstein, logo é um genial cientista.



25. Falácia do acidente

Confunde-se o essencial com o acidental e vice-versa.   
Exemplo:
Estudar na véspera do teste não dá resultado
Todo o estudo é inútil.



26. Falácia da definição

Exemplo:
O feto é uma pessoa que ainda não nasceu.
Esta definição prepara um dado interlocutor a admitir que o aborto seja um crime na medida em que, quando é praticado se está matando uma pessoa.



27. Falácias verbais

Exemplos:
 a) É estúpido perder tempo com meras palavras.
     A guerra é uma mera palavra.
     Logo, é estúpido perder tempo com a guerra.

b) O touro muge.
    O touro é uma constelação.
    Uma constelação muge.
 c) Os pés têm unhas.
    A cadeira tem pés.
    Logo, A cadeira tem unhas.   
Estas e outras falácias do mesmo tipo são resultantes da ambiguidade das palavras.



Como superar as confusões originadas pelas falácias?


- Prestar maior atenção à linguagem, evitando utilizar termos ambíguos, e esclarecer o sentido exato dos conceitos empregue numa discussão.
- Prestar atenção à possível falsidade das premissas.
- Respeitar as regras de inferência.



Paradoxos


Designam-se por paradoxos os raciocínios onde se parte de enunciados não contraditórios, e se chega a conclusões contraditórias. Um paradoxo tanto demonstra a veracidade como a falsidade de um juízo. A palavra paradoxo significa literalmente o que está para além do senso comum. Em certo sentido, um paradoxo é um absurdo.



Paradoxo de Epimênides


"O poeta cretense Epimênides afirma que todos os cretenses são mentirosos".
Atendendo ao fato de Epimênides ser também cretense, podemos saber se esta afirmação é verdadeira?
Paradoxo das resoluções do conselho de vereadores da ilha da contradição
Foram tomadas as seguintes resoluções:

1. É aprovada a construção de uma nova prisão.

2. É aprovado que a nova prisão será construída com os materiais da velha prisão.

3. É ainda aprovado que a antiga prisão se manterá em funcionamento até que a nova esteja construída.
A prisão foi ou não construída?


(Paradoxo de Epimênides: É um enigma sem resposta que forma um paradoxo, semelhante ao paradoxo do mentiroso. Ao tentar responder ao enigma, encontram-se diversas informações que se interligam, e não levam a nenhuma resposta.)



Carlos Fontes

Adaptação.