O que distingue uma falácia de um paradoxo?
Falácias
1. Designa-se por falácia um
raciocínio errado com aparência de verdadeiro. O termo falácia deriva do verbo
latino fallere que significa enganar. As falácias que são cometidas
involuntariamente, designam-se por paralogismos; as que são produzidas de forma a confundir alguém
numa discussão designam-se por sofismas.
2. Existem muitos tipos de
falácias, não havendo consenso quanto à sua classificação. Para efeitos de nosso
estudo vamos classificá-las em dois grandes tipos:
a) As falácias formais, constituídas por raciocínios inválidos
de natureza dedutiva.
b) As falácias informais, que compreendem os tipos restantes.
Falácias Formais
1. Falácia da
afirmação do consequente
Ex. Se as estradas
têm gelo, o correio está atrasado.
O correio está
atrasado.
Logo, as
estradas têm gelo.
As premissas podem ser verdadeiras, mas a conclusão é falsa.
A conclusão é abusivamente inferida, ignorando-se as outras alternativas.
2. Falácia da negação
do antecedente
Ex. Se as estradas têm gelo, o correio está atrasado.
As estradas não
tem gelo.
Logo, o correio não está atrasado.
3. Falácia da
Conversão
Ex. O mendigo pede.
Logo, quem pede é mendigo.
Não respeitam as leis da oposição
4. Falácia de
Oposição
Ex. É falso que todo o homem é sábio.
Nenhum homem é
sábio.
Não respeita as
leis da oposição.
Falácias Informais
Falácias cujas
premissas:
a) Não são relevantes para a conclusão.
b) Não fornecem dados suficientes para garantir a conclusão.
c) Estão formuladas com linguagem ambígua.
A capacidade persuasiva destes argumentos reside
frequentemente no seu impacto psicológico sobre o auditório.
5. Apelo à Piedade
Faz-se apelo à misericórdia do auditório de forma a que a
conclusão seja aceita.
Exemplos:
a) Sr. Juiz não me
prenda, porque se o fizer os meus filhos ficam desamparados.
b) Não torne o seu
filho infeliz, adquira-lhe já um televisor panorâmico!
6. Apelo à Ignorância
Utiliza-se uma
premissa baseada na insuficiência de evidências para sustentar ou negar uma
dada conclusão.
Exemplo:
a) Ninguém provou que Deus existe. Logo, Deus não existe.
b) Ninguém provou que Deus não existe. Logo, Deus existe.
7. Apelo à Força
Pressão psicológica sobre o auditório. Os argumentos são
substituídos por ameaças de punições.
Exemplos:
a) As minhas ideias são verdadeiras, quem não as seguir será
castigado.
b) Ou te calas ou não te dou dinheiro para ires ao cinema.
c) A força faz a lei.
8. Apelo à Autoridade
Faz apelo à autoridade e prestígio de alguém para sustentar
uma dada conclusão.
Exemplos:
a) Einstein, o maior gênio de todos os tempos, gostava
batatas fritas. Logo, as batatas fritas são o melhor alimento do mundo.
b) O que foi bom no passado para a tua família é também bom
para ti.
9. Ataque Pessoal
Coloca-se em causa a credibilidade do oponente, através de
ataques pessoais, de forma a desvalorizar a importância de seus
argumentos.
Ex. Esta mulher afirma que foi roubada! Mas que confiança
nos pode merecer alguém que vive com uma ladra?
10. Apelo ao Povo
Apela-se à emoção e preconceitos das pessoas, não à sua
razão.
Ex. Querem uma escola melhor? Querem um melhor ensino? Votem
na lista Z.
11. Argumento do
Terror
Evocam-se as consequências negativas que podem resultar da
não admissão de determinada tese.
Ex. Ou nós ou o caos!
A escolha é vossa.
12. Falácia da Bola
de Neve
Exagera-se nas consequências que podem resultar se for aceita uma dada tese.
Ex. Os pequenos delitos se não forem severamente reprimidos,
abrem caminho aos crimes mais hediondos.
13. Falácia
ignorância da causa
A conclusão é extraída de uma sucessão de acontecimentos. Um
fato circunstancial é tomado à causa principal.
Exemplos:
a) Depois do cometa houve uma epidemia; logo, os cometas
causam epidemias.
b) O dinheiro desapareceu do cofre depois do João ter saído
da loja. Logo...
c) O trovão ocorreu depois do relâmpago. Logo, o relâmpago é
a causa do trovão.
14. Falácia do ônus
da Prova
15. Falso Dilema
Apenas são apresentadas duas alternativas, sendo omitidas as
restantes hipóteses.
Exemplos:
a) Quem não está por mim, está contra mim.
b) É pegar ou largar!
c) O Joaquim é genial ou idiota. Como não se revelou genial,
é pois idiota.
16. Perguntas capciosas
A pergunta funciona como uma armadilha para quem responde.
Exemplos:
a). Perante uma situação em que são solicitadas respostas do
tipo sim ou não, pergunta-se a alguém que se vê envolvida num furto ocorrido
numa escola:
"Já deixou de roubar na escola?"
b) Vocês ganharam fazendo trapaça ou subornando o arbitro?
c) Continuas tão egoísta como eras?
Qualquer resposta do tipo sim ou não, compromete o sujeito
em atos ilícitos.
17. Múltiplas
perguntas
Consiste em confundir o adversário com várias perguntas de
modo a que não seja possível uma única resposta, ou levando-o a contradizer-se.
18. Petição de
Princípio
Pretende-se provar uma conclusão,
partindo de uma premissa que é a própria conclusão. Considera-se como provado
algo que se pretende provar.
Exemplos:
a) Toda a gente sabe que as
autarquias são corruptas. Por isso não faz sentido provar o contrário.
b) O aborto é um crime; logo
comete um crime quem aborta.
c) O Corão é indiscutível porque
é a palavra de Deus.
18.1. Raciocínio
Circular
Exemplos:
a) Porque o ópio faz dormir? Porque tem propriedades dormitativas!
b) O que é a História? Uma ciência que estuda fatos
históricos.
19. Ignorância da
Questão
A questão em discussão é ignorada, centrando-se o orador em
aspectos marginais.
Exemplo:
Ao longo dos tempos têm sido
cometidas inúmeras injustiças. Muitos inocentes têm sido condenados. Este
indivíduo é de trato afável, simpático, trabalhador e estimado por todos.
20. Falácia do Espantalho
Consiste em atribuir a outrem uma
opinião fictícia ou deturpar as suas afirmações de modo a terem outro
significado.
21. Enumeração
Incompleta
Atribui-se ao todo aquilo que só está provado para casos
particulares.
Exemplo:
Esta e aquela laranja são amargas. Todas as laranjas são
amargas.
22. Falsa Analogia
Tirar conclusões de um caso para
outro semelhante, sem ter em conta as suas diferenças.
Exemplo:
As aves voam.
Os morcegos voam.
Logo, os morcegos são aves.
23. Falácia de
premissas falsas
Premissas ambíguas podem levar a confusões, neste caso entre
gênero e espécie.
Exemplo:
Os animais são irracionais; Logo, és irracional.
24. Falácia do Não
Consequente
A conclusão não é justificada pelas premissas.
Exemplos:
a) Trabalhei bastante para o exame; logo devia ter obtido
uma boa nota.
b) Trabalhou para Einstein, logo é um genial cientista.
25. Falácia do
acidente
Confunde-se o essencial com o acidental e vice-versa.
Exemplo:
Estudar na véspera do teste não dá resultado
Todo o estudo é inútil.
26. Falácia da
definição
Exemplo:
O feto é uma pessoa que ainda não nasceu.
Esta definição prepara um dado interlocutor a admitir que o
aborto seja um crime na medida em que, quando é praticado se está matando uma
pessoa.
27. Falácias verbais
Exemplos:
a) É estúpido perder
tempo com meras palavras.
A guerra é uma
mera palavra.
Logo, é estúpido perder tempo com a guerra.
b) O touro muge.
O touro é uma
constelação.
Uma constelação
muge.
c) Os pés têm unhas.
A cadeira tem pés.
Logo, A cadeira
tem unhas.
Estas e outras falácias do mesmo tipo são resultantes da
ambiguidade das palavras.
Como superar as confusões originadas pelas falácias?
- Prestar
maior atenção à linguagem, evitando utilizar termos ambíguos, e esclarecer o
sentido exato dos conceitos empregue numa discussão.
- Prestar atenção à possível
falsidade das premissas.
- Respeitar as regras de
inferência.
Paradoxos
Designam-se por paradoxos os
raciocínios onde se parte de enunciados não contraditórios, e se chega a
conclusões contraditórias. Um paradoxo tanto demonstra a veracidade como a
falsidade de um juízo. A palavra paradoxo significa literalmente o que está
para além do senso comum. Em certo sentido, um paradoxo é um absurdo.
Paradoxo de Epimênides
"O poeta cretense Epimênides afirma que todos os
cretenses são mentirosos".
Atendendo ao fato de Epimênides ser também cretense,
podemos saber se esta afirmação é verdadeira?
Paradoxo das resoluções do conselho de vereadores da ilha da
contradição
Foram tomadas as seguintes resoluções:
1. É aprovada a construção de uma nova prisão.
2. É aprovado que a nova prisão será construída com os materiais da velha prisão.
3. É ainda aprovado que a antiga prisão se manterá em
funcionamento até que a nova esteja construída.
A prisão foi ou não construída?
(Paradoxo de Epimênides: É um enigma sem resposta
que forma um paradoxo, semelhante ao paradoxo do mentiroso. Ao tentar
responder ao enigma, encontram-se diversas informações que se interligam, e não
levam a nenhuma resposta.)
Carlos Fontes
Adaptação.