Os mísseis da mídia que criam insegurança, na Venezuela e no Brasil
Atrizes cansadas no Brasil e,
abaixo, a miss cansada na Venezuela: indignação seletiva, mas altamente
midiática; as imagens mexem com a emoção e criam associação negativa com os
eventos a que se referem.
20 pistas para entender a
guerra psicológica contra a Venezuela
Publicado em 29 de março de 2014 às 11:37
Texto de: Vanessa Davies
Tradução: Jair de Souza
Os psicólogos Olivia Suárez e
Fernando Giuliani advertem que estão queredo plantar a incerteza e a angústia e
pintar um país que supostamente está caindo aos pedaços, a fim de que as
pessoas estejam dispostas a qualquer coisa para recuperar “a ordem”.
Você considera que o país está
caindo a pedaços? Acredita que a culpa de todos os males se concentra no
chavismo e, especialmente, no governo nacional? Quando você ouve a música que
identifica as transmissões conjuntas de rádio e televisão tem vontade de matar
alguém? Você está convencido de que todo mundo anda de mau humor porque não
aguenta mais “a crise”? Provavelmente, você é vítima da guerra psicológica.
Sobre a guerra psicológica os
psicólogos bolivarianos vêm falando. Assim como o presidente Nicolás Maduro, o
qual advertiu que o que está por trás disto é a intenção de derrotar o governo
constitucional e livrar-se da revolução.
Os psicólogos Ovilia Suárez e
Fernando Giuliani, integrantes do coletivo Psicólogos pelo Socialismo, advertem
que isto não começou este ano, mas que se agudizou a partir do desaparecimento
físico do comandante Hugo Chávez. O alvo do presente, alertam, é o povo
bolivariano para criar nele desânimo e desalento, mas sem deixar de lado a
população que não acompanha o processo socialista. O “Correo del Orinoco”
oferece 20 pistas para entender o que está acontecendo.
“Uma guerra psicológica não é o
mesmo que uma guerra militar. Porém, quando dizemos guerra é porque existe um
objetivo de ataque a um alvo. É preciso diferenciar isto, de uma vez, do que
seria uma confrontação política de alta intensidade”, explica Giuliani. “A
guerra tem como elemento exclusivo atacar um alvo, o que, neste caso, são
muitas coisas”.
Outro elemento que lhe é
característico é que está planificada; ou seja, “são estratégias que têm um
objetivo e estão planificadas”; há gente por tras que está desenvolvendo “todo
um conjunto de recursos, estudando a situação, mobilizando um conjunto de
recursos” no rumo desse objetivo.
O psicólogo acrescenta que esta
forma de guerra visa a mente: “O cenário é a mente. E por mente devemos
entender muitas coisas: é a mente individual, mas também poderíamos mencionar a
mente coletiva, as representações sociais, as atitudes, as relações sociais em
todos seus imaginários, as emoções e os pensamentos”.
O analista afirma que há
evidências muito claras de guerra psicológica na Venezuela; por exemplo, é
evidente que há um manejo planificado do rumor, planificado. “É evidente que há
um manejo planificado de um tipo de informação claramente apontando a objetivos
muito concretos”
Os meios de comunicação “são
instrumentos evidentes disto”, e basta uma revisão das manchetes de jornais e
de programas televisivos para constatar “que começam a aparecer padrões”. Todos
dizem o mesmo, com um objetivo fundamental: “gerar insegurança psíquica; gerar
incerteza, gerar estados de alerta que não correspondem à realidade”. O
psicólogo coloca o exemplo da influenza AH1N1: “houve, pelo menos, três semanas
nas quais as manchetes dos grandes jornais tratavam permanentemente disso. As
rádios falavam disso e a televisão falava disso. O desabastecimento: todos os
dias começam a falar do desabastecimento”.
2) Em que se diferencia um
fato real da guerra psicológica?
Há características muito
concretas, diz Giuliani. Aqueles que pintam um país em ruínas “nunca terminam
de decidir, de demonstrar convincentemente o que estão dizendo”. Retoma o
exemplo da influenza AH1N1, porque foi apresentada ao país como se tivesse sido
uma epidemia terrível, mas pouco se informou sobre as ações do governo para
combatê-la.
A mídia enfatiza e destaca o
negativo, o pior que possa ocorrer. A dúvida é sempre dirigida ao pior. “E
sempre tratam de gerar a sensação de que não se está fazendo nada a respeito e
que a coisa ainda vai piorar”. São “meias verdades”, que estão baseadas em
coisas “que efetivamente ocorrem”, como a corrupção e a insegurança.
No Brasil: Rumor na internet: a casa da
fazenda do filho do Lula era uma universidade pública!
3) Qual é o papel do rumor
nesta estratégia?
Ovilia Suárez acrescenta que o
instrumento perfeito para a difusão destas supostas informações é o rumor. “E o
rumor sempre parte de uma ação, de um conto, de uma referência que é real. É
real entre aspas; ou seja, parte de uma referência que permite que a gente
acredite que é real, seja porque você a vivenciou, ou porque sua vizinha acabou
de ver, ou porque seu cunhado estava ali quando aconteceu. Sempre vão contá-la
como se algo de sua realidade estivesse presente. Quer dizer, não é que me foi
contada por qualquer um; é que ali estava meu amigo, meu tio, meu sobrinho,
etc.”
Ao parecer “crível”, qualquer um
o retransmite, porque “você parte da boa fé, parte de que algo está
acontecendo. O que ocorre com o rumor atualmente? Ocorre que agora estão todos
os meios e redes sociais que o retransmitem de forma massiva e imediata”.
Ou seja, “já não se trata de um
rumor que o Fernando me disse, senão que através do Twitter foi passado a 2
milhões de pessoas simultaneamente”.
4) O que os meios de
comunicação fazem?
Os meios, ressalta Suárez, “são
os novos exércitos de sua nova guerra. Ou seja, já não são homens que vão combater
corpo a corpo, homem com homem, mulher com mulher; não vão utilizar nem aviões,
nem tanques, nem metralhadoras”.
Utilizam os meios de comunicação,
as telecomunicações, as redes sociais, como parte de uma planificação. “São
grupos que lançam rumores e grupos que criam situações, que reforçam a
possibilidade de que seja veraz”, adiciona. “Você sempre vai ver, portanto, em
um supermercado, em um banco, no metrô, numa barraquinha, gente que começa a
contar-lhe uma história que pode estar fora de contexto, especialmente sobre
algo emocional”.
Ambos psicólogos creem que não é
fortuito que haja grupos que, em diversas regiões do país, estejam falando
sobre os mesmos temas. “Chama a atenção a semelhança dos contos em diferentes
cenários”, assim também “como se argumenta, como se começa por uma coisa e se
termina no ponto alvo do momento; no caso dos supermercados, ao não encontrar
alguma coisa”, assinala Giuliani. Há outros setores que, sem se darem conta, se
convertem em cúmplices disso. “E sempre há alguém gravando o que acontece ali,
que depois sai no You Tube ou na internet; ou seja, são situações que vão
reforçar principalmente a emocionalidade que está sendo disseminada dentro da
guerra psicológica”.
O modelo comunicacional com o
qual se trabalha é o da incerteza, Suárez afirma. “Quer dizer, lançam uma
notícia, e não importa se é verdade ou mentira. Assim como não importa quem a
lançou, porque o importante é que nos gere dúvida, e a dúvida está associada ao
fato de que você não sabe o que vai acontecer”.
5) O que se procura?
Essa incerteza que eles geram
“destampa outras emoções como a angústia, o medo, o pânico, a raiva”, Suárez
enumera. São sentimentos negativos “que, por um lado, são mais difíceis de
eliminar, de combater, e que, por outro, são de muito maior força que os
positivos. Então, ao criar sentimentos negativos de tal intensidade, as pessoas
ficam em um momento a ponto de desespero, ou desesperadas”.
Ao levar a população a esse
estado, “as pessoas estão dispostas a buscar qualquer coisa que lhes permita
sair da situação”, o que as leva à confrontação e a empreender qualquer ação –
inclusive violenta – para sair desse “grande caos”.
A psicóloga acrescenta que esse
caos tem algo de certo a nível individual, porque “emocionalmente você está
desestruturado”, mas na vida social essa desestruturação não é certa.
6) A guerra se acentuou com a
morte do comandante Hugo Chávez?
“Totalmente”, responde Giuliani.
Não obstante, o especialista se refere à campanha contra o comandante Hugo
Chávez, que começou muito antes de que assumisse a primeira magistratura. Uma
prova disso é o áudio truncado difundido em 1988, no qual, supostamente, o
comandante ameaçava fritar as cabeças dos adecos, que posteriormente se
descobriu que era uma montagem.
[Nota do Viomundo: "Adecos"
de militantes da AD, o partido que já foi o principal da Venezuela]
O psicólogo identifica a
persistência dos grupos de poder em manter “essa desinformação permanente”, e
estima que isso “fez o seu trabalho”. Além do mais, alimentou “o temor ancestral
que se teve aqui em relação à esquerda toda a vida, aqui e em toda a América
Latina”. Os sentimentos que são atiçados “não nos predispõem ao encontro e nem
ao diálogo”.
O psicólogo esclarece que é
saudável sentir medo, mas alerta que, quando o manipulam de maneira prolongada,
há um grande perigo. “Por que são perigosos? Porque são sentimentos e
pensamentos que têm um alto conteúdo irracional. Não é porque seja produto de
um louco; o que ocorre é que nós temos medos, e os medos não são tão fáceis de identificar.
Temos medo de coisas difusas, perante o que o raciciocínio sereno, equilibrado,
precisa atuar durante muito tempo para poder se contrapor”, refletiu.
Um dos problemas que ele
identifica é que boa parte da população não crê que isto exista, e muito menos
que haja gente organizada para preparar essas condições.
7) Quais são os alvos da
guerra?
O alvo primordial, neste momento,
é o chavismo, alerta Giuliani. “A morte do comandante Chávez abriu para a
vanguarda dessa oposição direitista, e também para todos seus grupos aliados, a
oportunidade de dividir o chavismo”. O que a guerra psicológica faz contra o
chavismo? “Gera insegurança. Insegurança, com relação a quê? Da
intencionalidade dos diferentes líderes, sobretudo o presidente Maduro; o
sentido da união que tem o projeto chavista, o temor de que, morto Chávez, isto
se acabou, porque foi esse o discurso que os opositores sempre faziam”.
Para isso, “estão se apoiando em
uma coisa que é verdadeira, que é o forte impacto psicológico e afetivo que
ocasionou a morte do comandante” e o luto posterior. A pergunta lógica de como
dar continuidade à revolução “abre em você uma vulnerabilidade que faz você
pensar em coisas que seguramente não havia pensado antes”.
– Por exemplo?
– A guerra psicológica faz você
pensar que isto pode terminar, faz com que você questione se o Maduro poderá
dar conta da presidência da República. Por exemplo, pode levar você a se
perguntar: “Ele saberá governar como governava meu presidente Chávez? Ele
saberá lidar com os problemas que o país tem?”
No Brasil: Poucos
se dão conta de que os escândalos de véspera de eleição são 'produzidos' para
aquele momento e alimentam pesquisas que demonstram a influência dos escândalos
'produzidos' no eleitorado
8) O objetivo é somente o povo
chavista?
“O chavismo é o alvo fundamental,
mas não é o único. E o que eles querem gerar aí? É a divisão a partir do temor,
a partir da insegurança desde um ponto de vista mental. Mas o resto da gente
que não apoia o projeto bolivariano continua sendo um alvo importante”,
pontualiza Giuliani.
Quanto ao setor que não
compartilha da revolução, a estratégia se dirige a tentar juntar as pessoas em
torno do mesmo: Fazer-lhes crer que o chavismo “é o que de pior já conteceu no
país, que é o mais corrupto, que são ineptos, que é uma gente inescrupulosa e
capaz de fazer absolutamente qualquer coisa”.
Tal como ressalta Giuliani,
“estão realmente e lamentavelmente convencidos de que efetivamente isto não
serve absolutamente para nada”; estes rumores e o discurso persistente sempre
apontam “o quão inepto o chavismo é; o inescrupuloso que o chavismo é; o
corrupto que o chavismo é. E quando digo chavismo, esta guerra psicológica
coloca a questão de tal maneira para que não haja exceções”.
Eles fecham para esses setores a
possibilidade de pensar que há gente honesta e capaz no chavismo, e que o
governo esteja fazendo algo de bom, expressa o psicólogo. “E como conseguem?
Primeiro, pela persistência, porque vêm mantendo esse discurso por 14 anos; e
segundo, pelo bombardeio permanente que não lhes dá oportunidade de refletir”.
9) Quais são os setores mais
vulneráveis?
Nestes momentos, “os ataques se
dirigem a todas as populações, com diferentes tipos de munições e mensagens”,
expressa Suárez.
Em relação aos jovens, insistem
em que eles não têm futuro, que devem ir embora do país. “Há uma matriz
sistemática, que é a da fuga de cérebros para que a juventude sinta que, estude
o que estudar, não tem esperança nem futuro na Venezuela”, comenta. Isso não
afeta apenas aos jovens, mas também as famílias, porque entram em jogo o
desenraizamento e os vínculos emocionais, assim como o temor “de que esses
vínculos se rompam”.
Quanto às mulheres, pretendem
difundir a ideia de que não podem garantir a alimentação de seu lar, que não
são livres para comprar o que querem. “Isso tem a ver com o papel das donas de
casa que não conseguem, que não podem se sustentar; que não podem ter a liberdade
de fazer o que realmente querem fazer”.
Com os idosos, a estratégia é
criar o pânico de que podem morrer, por exemplo, porque não vão ter seus
remédios a tempo nos próximos meses.
“Estão manipulando os temores
mais importantes de cada um dos setores”, manifesta. “Nos idosos, é o risco de
morrer; nos jovens, o risco do futuro; na dona de casa, o de não ter o controle
nem a possibilidade de dar, de compartilhar, de pertencer, de agrupar, de ter o
que é preciso ter”. A fratura da convivência familiar, em consequência, afeta
as crianças.
10) A história sobre a
certidão de nascimento do presidente Maduro faz parte disto?
A história sobre a certidão de
nascimento do chefe de Estado é um bom exemplo, assinala Giuliani. “Dizem que o
presidente é colombiano, mas não têm como demonstrá-lo. O que eles querem gerar
com isso? Eles querem gerar a dúvida na população em geral. Se a gente analisar
friamente, isso não resiste à menor análise, porque quando o presidente foi
inscrever sua candidatura no Conselho Nacional Eleitoral ele teve de levar sua
certidão de nascimento. Porém, não há tempo para refletir sobre isso, porque as
pessoas recebem essa informação, e o cérebro e os dispositivos sociais têm uma
particularidade: tendem a completar a informação que não está completa. Todos
fazemos isto”.
O analista recorre ao conto do
telefone para exemplificar o que acontece: como, a partir do conto de uma
vizinha que supostamente chegou tarde a seu apartamento, chega-se à história da
vizinha que estava com outro homem e teve um problema na entrada de sua
moradia.
“Como pessoa, eu começo a
completar, mas sempre completo na via onde teve sua origem; se o rumor vem com
algo negativo, eu o torno cada vez mais negativo. E, logo, acrescenta-se, à
natureza do cérebro, uma peculiaridade que os circuitos sociais têm, a qual
chamamos ‘pressão à inferência’; você está numa fila e talvez não está com
vontade de falar, mas se as pessoas começam a falar, então você fala e também
acrescenta; depois, você vai a um batizado e todo mundo começa a falar e dizer
que há um problema com o abastecimento e que duas mulheres brigaram por um
pacote de farinha de milho”.
O rumor, ele relata, “começa a
ter vida própria”, embora careça de fundamentos. Em 14 de abril, ao término das
eleições presidenciais, o candidato opositor Henrique Capriles disse que tinha
outros números [da apuração], relembra Giuliani. “Mas, nunca mais voltou-se a
falar disso, mas o dizer algo assim teve um grande poder, porque foi falado a
um povo furioso que, além disso, vinha com a ideia de que o CNE [o TSE
venezuelano] não servia”. Pouco importa se Capriles tinha ou não como provar o
que disse; ele deixou a ideia correr e nunca a desmentiu.
No Brasil: O
"mas" é uma presença constante nas boas notícias econômicas
11) Os rumores são submetidos
à prova da realidade?
Não. “Nunca esta mídia, estes
porta-vozes e esses rumores são submetidos à prova da realidade”, que é a
contrastação entre o que se diz e o que ocorre de fato, lamenta Giuliani.
Esclarece também que não é apenas uma guerra “muito bem planificada”, senão que
“uma franca manipulação e uma mentira gritante”.
“Assim que, é muito fácil se eu
disser: ‘eu tenho outros resultados’, como o Capriles fez, sendo que eu
realmente não os tenho. No final, ninguém vai me pedir contas disso, e eu já o
disse”.
O caldo de cultura vai sendo
preparado desde meses e anos antes. “Se você o plantar hoje e começar hoje,
ninguém vai acreditar, mas, depois de um ano de preparação sistemática do
terreno, as pessoas vão acreditar em qualquer coisa”, afirma Suárez.
12) O que estão tentando criar
contra o mandatário nacional?
Os responsáveis pela guerra
psicológica “não apenas têm que dividir, ou fazer com que creiam que há
divisões internas no chavismo, mas também rebaixar a credibilidade na liderança
da revolução” e no próprio processo, analisa Suárez. Por isso, eles tentam
apresentar o presidente Maduro como “mentiroso”, para que o povo não acredite no
que ele apregoa. “Tudo aquilo que aponta ao que o presidente diz é mentira,
eles vão trabalhar isto psicologicamente”. Há estratégias para isso, agrega:
por exemplo, talvez não se diga nada sobre a insegurança, mas se o chefe de
Estado falar hoje sobre o tema, amanhã “os meios de comunicação resenharão os
atos mais violentos, mais horrendos e mais espantosos que a gente possa
imaginar”.
Uma coisa é a realidade e outra é
a percepção da realidade, argumentam.
– Qual é a percepção neste
momento, neste contexto?
– Quando você vai no rumo da
percepção da realidade é para criar, justamente, a ilusão do caos; a certeza de
que há um caos.
– Qual é a percepção do país
neste momento? Caótica?
– Caótica. Ou seja, aqui, agora
mesmo – segundo essa percepção – há desabastecimento, há ineficiência, há
descontrole. E eles vão estimular tudo aquilo que nos gere o descontrole.
– Há uma destruição planificada
da imagem do presidente?
– Claro.
Ela existiu abertamente contra
Chávez, descrevem os psicólogos. O líder bolivariano foi submetido à morte
moral e usaram sua imagem para todo tipo de manipulação; prova disso é a
gravação que circulou há algumas semanas com uma falsificação de sua voz.
Agora, os que estão por trás da
guerra psicológica tomam o que o mandatário diz para desqualificá-lo
imediatamente. Por exemplo, “se ele cria a Corpomiranda para poder amenizar
todos os problemas de Miranda, no dia seguinte haverá uma manchete: ‘Isso vai
ser a mesma ineficiência, a mesma burocracia, um meio de corrupção’. É uma
reação imediata para que as pessoas assumam que tudo o que o presidente fizer
será sempre um fracasso”.
Essa difamação permanente do
líder pretende, também, que o povo chavista não se aglutine em torno de sua
liderança; é por isso que lhe atribuem tudo de mal.
13) Que papel cumpre o uso de
símbolos chavistas por parte do antichavismo?
Um dos objetivos é aumentar a
confusão, enfatizam os psicólogos. Querem fazer crer que, perante a suposta
incerteza do chavismo, existe a certeza de que a oposição tem algo melhor a
oferecer.
Também, com o roubo de alguns
símbolos, como o gorro tricolor, “estão querendo roubar, ou querendo
apropriar-se de concepções” que uniram as grandes maiorias, como a pátria, a
independência, os valores, a cultura. “Quando esses setores começam a apropriar-se
ou querem apropriar-se de algumas coisas, voltam a desunir”. Os que dirigem a
guerra “jogam muito com o marketing que aponta ao descrédito, à desqualificação
dos líderes bolivarianos, e por, outro lado, ao posicionamento das lideranças
do antichavismo”.
De acordo com Giuliani, “eles vêm
jogando com a apropriação de alguns conceitos do bolivarianismo, do chavismo,
do socialismo, da esquerda, para ir apressando e confundindo alguns setores”.
– Setores dentro do chavismo,
não?
– Setores dentro do chavismo,
setores que são indecisos.
14) Em que se evidencia o caos
que tentam incutir na mente das pessoas?
“No tipo de conversa que as
pessoas mantêm; nas conversas cotidianas entre as pessoas”, revela Giuliani.
“As conversas estão repletas deste tipo de problemas que vão junto com
interpretações. Ou seja, as pessoas não apenas dizem: ‘temos problemas de
desabastecimento’, e sim ‘temos problemas de desabastecimento porque tal e tal
e tal’. Aí se vê isto evidentemente”.
O psicólogo explica que,
adicionalmente, isto vai acompanhado de verbalizações irracionais, sem uma
análise certeira do que as pessoas realmente vivem. Outro exemplo: “Você vai
todos os dias a qualquer lugar e é atendido com carinho, porém, um dia você foi
mal atendido por uma pessoa em um desses espaços e a coisa se converte em que
‘todo mundo está angustiado, todo mundo está com raiva’, embora não seja
certo”.
Fundamenta-se também na “visão
muito parcial que por muito tempo a classe média teve, que vem negando-se
sistematicamente a reconhecer que há outros espaços do país e sente que o mundo
pode estar muito circunscrito” a seu entorno; nesse entorno não cabem as
pessoas que pensam diferente.
Em sua análise, o psicólogo não
deixa de lado os preconceitos. “Se você é uma pessoa que sempre pensou que os
pobres são indolentes, que os pobres são indisciplinados, que os pobres devem
ser arreiados, que os pobres se encantam com qualquer um porque não têm
cabeça”, e a matriz de opinião contra a revolução sustenta que Chávez é “um
encantador de serpentes”, seguramente você vai acreditar. “Em sua cabeça, em
consequência, não cabe o conceito de um povo organizado”.
15) Quais são as armas que a
guerra psicológica utiliza?
Giuliani cita um modelo em
psicologia social “que tem a ver com a influência social” e que determina “o
que você deve fazer para influenciar quando você tem uma opção que não é
majoritária”. Ele cita vários elementos: “Você tem que ser insistente e
persistente; tem que estar o tempo todo dizendo a mesma coisa; tem que ser
conssitente com o que diz e tem que ser resistente frente à prova da realidade;
quer dizer, se lhe exigirem que dê provas disso, descaradamente mude de assunto
e continue falando. Isso se chama resistência psicológica, ou o que em termos
coloquiais alguém definiria como ‘um tipo muito descarado’”.
Qual é o efeito que causa? “Essas
três coisas combinadas abrem em você uma brecha de dúvidas” pela qual pode
penetrar todo o resto, alerta.
Este modelo não é mau per se. O
psicólogo assinala que pode ser usado para mudar a visão da população sobre
transplantes de órgãos, por exemplo, a fim de aumentar a doação e ajudar a
salvar vidas.
No Brasil: O mercado é confundido com a opinião pública. "Especialistas" espalham rumores como o do racionamento de energia elétrica sem compromisso com a verdade factual. É a guerra das expectativas!
16) Em que momento a guerra
psicológica se converte em uma guerra física?
R. A vanguarda do antichavismo
pretende que seja assim, adverte Fernando Giuliani, que cita o que ocorreu em
11 de abril de 2002 em Ponte Llaguno, com um massacre montado para tentar
justificar o golpe de Estado contra o camandante Hugo Chávez, e soma a isso a
marcha convocada pelo antichavismo para 17 de abril deste ano ao Conselho
Nacional Eleitoral. Essa mobilização, proibida pelo mandatário nacional, podia
ter concluído em um enfrentamento de povo contra povo: “O que se procurava aí é
que se produzisse uma confrontação”, porém, felizmente, o chefe de Estado
impediu que o protesto se efetuasse.
“Basta que haja uma confrontação
aqui” para promover a ocupação do país por parte de forças externas, argumenta.
Ele recorda o ocorrido no Chile em 1973, quando a direção das Forças Armadas
decidiu dar um golpe de Estado contra o governo constitucional para pôr fim ao
suposto caos criado pela direita. “No Chile geraram uma necessidade de mudança”
que querem repetir na Venezuela, afirmou.
17) Qual é o objetivo final da
guerra psicológica?
Difundir na população a
“necessidade de mudança”, e que a maioria das pessoas pense que qualquer coisa
é melhor do que “a desordem” em que elas supostamente vivem. Daí à derrota do
governo nacional seria um passo, segundo creem seus promotores.
Espera-se “voltar a uma
normalidade que não é real: é a normalidade dos valores da burguesia, é a
normalidade dos valores e a naturalidade do sistema capitalista, ou do
imperialismo”, acusa Suárez.
18) A guerra psicológica é
infalível?
Não, responde Giuliani. Há muita
gente, especialmente no chavismo, que “pouco a pouco vai recuperando uma
capacidade de leitura crítica, e isso não deve ser subestimado”, porque a
guerra psicológica “não é infalível”.
O psicólogo relembra que entre
2001 e 2002 o povo foi submetido a uma grande pressão por parte destes setores,
que incluiu a ressurreição da operação Peter Pan (o ‘regime’ se apropriaria de
filhas e filhos e as famílias deveriam levá-los para o exterior). Suárez aponta
que em algumas zonas de Caracas chegou-se ao ponto – entre os anos 2002 e 2005
– de guardar óleo fervendo para lançar contra “os chavistas”, assim como gelo
pronto no congelador para o mesmo fim. “A crise foi muito forte desde o ponto
de vista emocional e o povo resistiu com uma leitura crítica e, claro, tendo
muito claro para onde deveria ir”.
Por isso, “se há um povo que deu
exemplo ao mundo de resistência frente à guerra psicológica e à mídia é o
venezuelano”, reivindica Giuliani, porque quando Chávez nasceu como candidato
não teve mídia a seu favor: “Foi submetido à campanha mais louca e feroz que já
houve na história de nossas eleições, e ganhou”.
No Brasil: A direita dissemina mentiras óbvias,
como a relação do PT, um partido social democrata, com o 'comunismo', como
forma de despertar ódio social
19) Qual é o antídoto contra a
guerra psicológica?
A consciência política do povo
creceu muito, asseveram os especialistas. “Houve uma história muito recente e
muito próxima, com uns critérios de identificação plena com um líder” que
permite pôr em dúvida o que os meios de comunicação e a campanha da direita
sustentam.
Entretanto, afirmou Suárez, a
vulnerabilidade aumenta quando a população não tem , se é que cabe o termo, as
“antenas” preparadas para captar que há algo irregular, como ocorre nas
histórias das telenovelas.
“Na novela, eles não vão manejar
notícias diretas, senão que símbolos imaginários. Ou seja, se, em todas as
novelas ou em todas as séries que nós vemos, o medo começa a ser manejado, a
incerteza começa a ser manejada, o desespero, a injustiça, a gente fica com
essa emoção” que você sente quando vai a um supermercado e falta leite,
descreve.
20) Como as pessoas podem
proteger-se da guerra psicológica?
“A ferramenta primordial para as
pessoas se protegerem é a organização”, respondem ao uníssono. Isto implica,
entre outras ações, “a criação das brigadas antirrumores, que nos permitam
constatar a veracidade da informação”, propõem.
O Estado deve garantir informação
veraz de maneira sistemática, destacam, porque, do contrário, as mentiras se
impõem. Neste sentido, também consideram importante punir aqueles que tenham
gerado caos com as supostas “informações”.
Para Giuliani e Suárez, é
fundamental que haja “uma altíssima coesão dentro de todo o povo chavista
organizado, porque esse é o alvo primordial ao qual estão apontando”. Ambos
insistem em que cada um pode continuar com seu pensamento e ideologia, se assim
o estimar pertinente, mas remarcam que não por ser de oposição deve-se perder o
sentido crítico ante a realidade.
PS do Viomundo: É a
guerra de quarta geração, que o Pentágono tem desenvolvido com tanta
eficiência. A direita, que controla os meios, tem aplicado isso com destreza.
Nos Estados Unidos, Obama era muçulmano e não nasceu nos Estados Unidos — uma
falsa polêmica na qual a Fox News mergulhou de cabeça com o objetivo de
disseminar os rumores. No Brasil, Lula e Dilma vivem “brigando” na mídia e o
filho do ex-presidente é um milionário dono de uma imensa fazenda —
identificada posteriormente como a sede da escola de agronomia de Piracicaba.
Em 2006, quando eu era repórter da Globo em São Paulo, uma jornalista
especializada em economia dizia que o dólar ia disparar para 4 reais. Ela
apenas repetia as baboseiras que ouvia no “mercado”. É a guerra das falsas
expectativas. O dólar nunca chegou perto dos 4 reais e ela foi promovida a
correspondente internacional!