domingo, 9 de março de 2014

O GAFANHOTO



Conta-se, mas Allah sabe mais, que há muitos e muitos anos vivia no oásis de Bukra um povo cuja bondade nem o tempo conseguia medir.


Esse povo era guardião do Kitab-ul-Kutub (Livro dos Livros) que deveria servir de guia para a humanidade e de forma alguma poderia cair em mãos erradas, sob o risco de despertar o Incontrolável.

 Na capa, letras circundavam a figura de um gafanhoto onde se lia:

"Ser humano é entender que a diversidade leva à unidade,
Que a unidade leva à solidariedade,
Que a solidariedade leva à igualdade,
Que a igualdade leva à liberdade,
Que a liberdade leva à diversidade."


Nas páginas internas, desenhos de animais vinham acompanhados de parábolas.

A do cavalo dizia: "Vivemos num eterno círculo, onde as retas não têm fim";

a do camelo apregoava: "Impossível e nunca são palavras que não devem ser pronunciadas porque a natureza humana não suporta limites";

a da gazela ensinava: "A sabedoria é como a água, quem não tem sede não sente prazer em beber";

a da águia alertava: "Nenhuma coisa pode ser vista se não se souber como vê-la";

a do touro lamentava: "Quem pensa somente no futuro é um insensato; afinal, o que o futuro lhe trouxe?";

a do escorpião instruía: "Fuja do hábito ou ele acabará anulando sua vida";

a da serpente proclamava: "Imortal, a humanidade jamais terá fim, pois Deus precisa do homem para existir".

Na página central, ao lado da imagem do gafanhoto, um texto esclarecia: "O gafanhoto reúne a natureza e a forma dos sete viventes primordiais. Tem a cabeça do cavalo, o pescoço do touro, as asas da águia, os pés do camelo, a cauda da serpente, o ventre do escorpião e os chifres da gazela.

 Se você chegou até aqui e não entendeu a mensagem, não prossiga.

Observe e aprenda que os animais são mais generosos que os homens, pois nunca se viu um leão escravo de outro leão, nem cavalo de outro cavalo".

Não se sabe o que aconteceu com o povo de Bukra nem com o livro.

Beduínos da tribo dos Bani-Nujum (Filhos da Estrelas) deixaram relatos de que eles teriam se ocultado para proteger o livro do Al-Dajal, trazido pelo vento norte. E que um dia reapareceriam para que a humanidade pudesse entender o significado do círculo.


Postado em 22 de Augusto de 2010 por Georges Bourdoukan

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