Conta-se, mas Allah
sabe mais, que há muitos e muitos anos vivia no oásis de Bukra um povo cuja
bondade nem o tempo conseguia medir.
Esse povo era guardião do Kitab-ul-Kutub (Livro
dos Livros) que deveria servir de guia para a humanidade e de forma alguma
poderia cair em mãos erradas, sob o risco de despertar o Incontrolável.
Na capa, letras circundavam a figura de um gafanhoto onde se lia:
"Ser humano é
entender que a diversidade leva à unidade,
Que a unidade leva
à solidariedade,
Que a solidariedade
leva à igualdade,
Que a igualdade
leva à liberdade,
Que a liberdade
leva à diversidade."
Nas páginas internas, desenhos de
animais vinham acompanhados de parábolas.
A do cavalo dizia: "Vivemos
num eterno círculo, onde as retas não têm fim";
a do camelo apregoava: "Impossível
e nunca são palavras que não devem ser pronunciadas porque a natureza humana
não suporta limites";
a da gazela ensinava: "A
sabedoria é como a água, quem não tem sede não sente prazer em beber";
a da águia alertava: "Nenhuma
coisa pode ser vista se não se souber como vê-la";
a do touro lamentava: "Quem
pensa somente no futuro é um insensato; afinal, o que o futuro lhe
trouxe?";
a do escorpião instruía: "Fuja
do hábito ou ele acabará anulando sua vida";
a da serpente proclamava: "Imortal,
a humanidade jamais terá fim, pois Deus precisa do homem para existir".
Na página central, ao lado da
imagem do gafanhoto, um texto esclarecia: "O gafanhoto reúne a
natureza e a forma dos sete viventes primordiais. Tem a cabeça do cavalo, o
pescoço do touro, as asas da águia, os pés do camelo, a cauda da serpente, o
ventre do escorpião e os chifres da gazela.
Se você chegou até aqui
e não entendeu a mensagem, não prossiga.
Observe e aprenda que os
animais são mais generosos que os homens, pois nunca se viu um leão escravo de
outro leão, nem cavalo de outro cavalo".
Não se sabe o que aconteceu com o
povo de Bukra nem com o livro.
Beduínos da tribo dos Bani-Nujum (Filhos
da Estrelas) deixaram relatos de que eles teriam se ocultado para proteger o
livro do Al-Dajal, trazido pelo vento norte. E que um dia
reapareceriam para que a humanidade pudesse entender o significado do círculo.
Postado em 22 de Augusto de 2010 por Georges
Bourdoukan