O correspondente da TV Al Jazeera no Brasil, Gabriel Elizondo, disse ao
Portal IMPRENSA que o artigo anônimo publicado na edição do dia 9 de fevereiro
da revista Veja contém erros factuais e mal-entendidos sobre a emissora do
Catar. "Vários pontos desse artigo não são verdadeiros. Os fatos não estão
corretos. Lamento que uma revista tão importante no Brasil faça isso. Mandei
inclusive uma carta ao Itamaraty esclarecendo os equívocos da matéria",
diz ele.
Sob o título "Programa Radical" o artigo inserido em uma
matéria falando sobre as revoluções no Egito, diz que a "rede de televisão
se transformou em importante agente político no Oriente Médio". Gabriel
contesta afirmando que a emissora não é um agente e segue o critério utilizado
por qualquer veículo sério de comunicação: imparcialidade, apuração e busca
pela verdade. "Jamais a emissora foi e nem pretende ter pretensões
políticas", reitera.
O artigo diz que a "Al Jazeera com sua capa de modernidade e
independência jornalística, tem uma agenda política clara e agressiva, e violentamente
antiamericana". O jornalista comenta que a emissora possui sim um perfil
agressivo, e isso a difere de outras redes de TV no Oriente Médio. Entretanto,
ele diz que nunca a Al Jazeera tomou partido de nenhuma campanha ideológica,
principalmente contra os Estados Unidos ou Israel.
Quando Gabriel, que é americano, entrou na rede em 2004, trabalhou no
escritório da Al Jazeera em Washington DC e, antes de vir ao Brasil, foi
correspondente na Colômbia. "Jamais nossa emissora vai ter uma posição
anti-Estados Unidos ou Israel. Temos quatro escritórios nos Estados Unidos, em
Israel temos grandes equipes. Neles convivem jornalistas árabes e
americanos". Elizondo reforça que a Al Jazeera foi a primeira emissora do
oriente Médio a entrevistar oficiais do Governo de Israel.
Ele também contesta o trecho que diz que "a cobertura copiosa é
extremamente favorável ao movimento popular anti-Mubarak no Egito ganha um
significado diferente quando comparado ao comportamento da Al Jazeera em
relação às manifestações no regime iraniano". Gabriel defende que a
presença da emissora no Egito não está relacionada a uma motivação para tirar
Mubarak do poder, mas porque foi o primeiro canal de TV a transmitir os
acontecimentos e já estava na rua antes dos protestos, falando inclusive com
pessoas do governo.
O jornalista também defende a integridade jornalística de Wadah Khanfar,
diretor geral da emissora, que segundo a revista foi membro da Irmandade e
chegou a ser preso na Jordânia. "Ele é um verdadeiro jornalista, começou
na emissora como correspondente em 1997 e cobriu algumas das áreas mais
perigosas e hostis do Iraque e do Afeganistão durante suas guerras".
Gabriel aponta como um absurdo afirmar que o grupo palestino rival Fatah é
boicotado pela emissora. "Isso é uma mentira deslavada. No mesmo dia que
saiu esse artigo nós fizemos uma entrevista de 20 minutos com um membro do
Fatah".
Gabriel afirmou que assim que tomou conhecimento do artigo enviou uma
carta ao Itamaraty e a diversas entidades brasileiras desmentindo o artigo e
esclarecendo a posição da emissora. Ele afirma que entrou em contato com a
revista por e-mail e recebeu um telefonema do jornalista responsável, que disse
não saber que existia um correspondente da emissora no Brasil, e por isso não o
ouviu. "É uma boa revista, mas infelizmente publicou essas mentiras. Mas
estamos acostumados a lidar com isso, nos Estados Unidos durante o governo Bush
sofríamos retaliações de veículos muito mais importantes do que a Veja".
O Portal Imprensa procurou a redação da revista Veja que informou não se
pronunciar sobre o assunto.
Veja a íntegra da carta:
São Paulo, 8 de fevereiro de 2011
Aos cuidados:
Diretor de Redação, Veja
Prezados Senhores,
Existem vários erros factuais e mal-entendidos sobre a rede Al Jazeera
em seu recente artigo anônimo intitulado "Programa Radical" (Veja,
edição 2203).
A rede Al Jazeera é composta por mais de 3.000 funcionários sendo de 60
nacionalidades e trabalhando em mais de 45 escritórios em todo o mundo. Somos
jornalistas. Não somos "violentamente anti" nada.
Você está certo, nós temos uma agenda, mas a agenda é relatar os fatos
de todos os ângulos e todas as opiniões, usando nossos vastos recursos ao redor
do mundo. Isso é o que jornalistas fazem. E isso é o que nós fazemos.
Estamos particularmente orgulhosos do nosso jornalismo e dos recursos
que utilizamos no mundo em desenvolvimento e não vamos pedir desculpas por
isso.
Devo esclarecer a informação deturpada em seu artigo sobre Wadah
Khanfar, diretor-geral da Al Jazeera desde 2003. Ele é um verdadeiro
jornalista, começou na Al Jazeera como correspondente em 1997 e cobriu algumas
das áreas mais perigosas e hostis do Iraque e do Afeganistão durante suas
guerras.
Suas credenciais de jornalismo, e sua ficha na rede Al Jazeera, que
agora líder, e para qual que tenho trabalhado há quase 7 anos, falam por si.
Gabriel Elizondo
Correspondente, Al Jazeera English, São Paulo - Brasil
Luiz Gustavo Pacete
Redação Revista
IMPRENSA
sexta-feira, 11 de fevereiro de
2011